segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Escola de Tempo Integral, uma perspectiva de qualidade de ensino.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Publicado:www.seduc.mt.gov.br

Iza Aparecida Saliés


O Ministério da Educação está fazendo um estudo para aumentar o tempo de permanência dos alunos nas escolas, ou seja, implantar as escolas de tempo integral na rede pública de ensino, segundo informação do ministro da Educação Fernando Haddad.

A pesquisa foi realizada pela Fundação Getúlio Vargas e a priori demonstrou que um aumento de dez dias no ano letivo pode elevar o aprendizado do aluno em até 44% no período de um ano. Foram analisados aproximadamente 200 estudos científicos tanto nacionais como internacionais, a partir dos quais elegeu 25 categorias relacionadas com o sistema educacional e avaliou como a alteração de cada um deles afeta o aprendizado dos estudantes. Um dos responsáveis pela pesquisa, André Portela, da Fundação Getúlio Vargas, disse que o objetivo foi avaliar o impacto de uma intervenção, tendo tudo mais inalterado

Foram consideradas também outras medidas de ampliação da exposição do aluno ao professor, tais como: o aumento da carga horária diárias dos alunos, a redução do número de turmas e do absenteísmo docente e a adoção de cursos de recuperação e de férias. André Portela afirma ainda que se todos esses itens formem de fato investidos, o resultado com política publica poderá contribuir para a implantação de cada uma das necessidades estruturais delineadas pela pesquisa.

O Ministério quer sugerir a ampliação dos dias letivos, de 200 para 220 dias e aumentar a jornada diária de quatro para cinco horas, ou utilizar as duas possibilidades. Nessa perspectiva de inovar a jornada escolar dos alunos que o Ministério da Educação pretende implantar nas escolas públicas do país precisa ter foco na sua finalidade precípua, que é a melhoria da qualidade do ensino, pois, sabemos que o fato de ampliar a carga horária do aluno não garante necessariamente que a educação vai melhorar, podendo gerar gastos desnecessários para o sistema de ensino.

Estudiosos e pesquisadores sobre educação acham que aumentar o número de dias letivos pode favorecer muito mais do que o aumento de horas diárias de aula para os alunos, uma vez que dessa forma não é necessário ampliar ou melhorar a infra-estruturar das escolas já existentes. Tanto a ampliação dos dias letivos com os de carga horária, ambos vão exigir do governo mais investimentos para a escola, o que gera sérias preocupações para o sistema.

A jornada escolar que amplia o tempo do aluno na escola precisa ser acompanhada de condições estruturais, físicas, de equipamentos, pedagógicas, de professores, e ainda assim, ela precisa estar amparada em estudos que apontam a possibilidade de impactar positivamente no processo ensino e aprendizagem.

Os especialistas já teceram seus comentários quanto à proposta, alguns vêem a proposta com restrições, tendo em vista, que ela só fará diferença de fato, no processo ensino e aprendizagem, caso esteja inserida no Projeto Político Pedagógico da escola e venha acompanhado de outras medidas, como o investimento na formação e valorização do professor, e digo mais, se for política de governo.

De acordo com Paulo Cezar Carrano, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), para ampliar a jornada escolar da escola que está posta, há necessidade de rever as condições que dispõe a rede de ensino, seria inviável considerando que contamos com escolas sem condição de oferta de tempo integral por falta de espaço, temos muitas escolas com prédios inadaptados, em decomposição, quebrado, derrubado, e mais, professores mal remunerados. Segundo ele, a escola de tempo integral precisa oferecer uma diversidade considerável de atividades, como, trabalhos pedagógicos de pesquisa fora do espaço escolar, trabalhos de arte, música, e outras atividades que surgirem da necessidade da própria escola.

E, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV as crianças brasileiras não passam, em média, mais de quatro horas por dia nas unidades escolares, o que parece muito pouco para desenvolver as atividades acadêmicas com os alunos, mas se bem utilizado pelos professores, pode render mais do que o desejado.

Assim, a escola passará a ser espaço um mais plural, com possibilidade diferente de ensinar e aprender, tanto no próprio espaço escolar como fora dele, contribuindo significativamente com a aprendizagem do aluno.

Somos cientes de que o aumento do tempo não define a qualidade da educação, mas é uma possibilidade a ser utilizada para fortalecer os processos pedagógicos da escola, quando levado em conta o currículo, a condição de trabalho, as condições dos professores e a condição dos alunos.

A escola de tempo integral é para os teóricos uma oferta diferenciada de ensino, com grandes chances de romper antigos paradigmas que estão impregnados na cultura escolar, como a evasão e o abandono, mas, para que isso aconteça, faz-se necessário que as escolas desenvolvam projetos que integrem atividades pedagógicas do currículo escolar do turno de estudo do aluno com as atividades que serão desenvolvidas no outro turno de modo que a carga horária seja organizada aproveitando da melhor forma possível o tempo dos alunos na escola.
O fato de estender o período escolar com projetinhos como de arte, jogos, tarefa sem a orientação de um professor e sem planejamento específico para as atividades desejadas, de nada adiantará, pois, os alunos vão dispersar sem que seja alcançado o objetivo principal, que é melhorar a qualidade do ensino.

Não podemos perder de vista o foco no currículo, o professor do contra turno deve participar das discussões curriculares, da composição das disciplinas na matriz curricular estabelecida no Projeto Político Pedagógico como também das atividades pedagógicas propostas pelo professor da disciplina. Os professores são responsáveis pelas atividades programadas e executadas no seu turno, portanto precisa tomar cuidado, pois o desempenho vai ser analisado pela coordenação pedagógica da escola e pelo professor do turno.

Quanto ao professor que vai trabalhar no outro turno do aluno, o mesmo precisa planejar junto com outro professor as atividades que deverão ser trabalhadas, assim o professor precisa buscar alternativas diferenciadas de trabalhar o currículo utilizando de metodologias diversificadas de modo a garantir a continuidade do processo ensino aprendizagem do aluno.

É atribuição do professor também, promover a articulação para unir os turnos que o aluno estuda, com base nos conteúdos curriculares, montar trabalhos produtivos, as atividades desenvolvidas nos turnos precisam ser integradas, porém, independentes, se assim não acontecer, não haverá sentido e nem finalidade, a escola de tempo integral.

Das experiências vivenciadas por algumas escolas que atendem em tempo integral, percebe-se que há valorização das tarefas mais livres, ou seja, as não pedagógicas, com as brincadeiras, as oficinas e ações com a comunidade, entretanto, as aulas que são para atender necessidades pedagógicas que não foram contempladas no turno, as relacionadas ao currículo, estas, parecem estar em segundo plano, sem conexão com as disciplinas do turno e tidas pelos alunos como uma coisa chata.

Referências

- CE João Bettega, R. Visconde do Ferro Frio, s/nº, 81050-080, Curitiba, PR.

- CIEP Frei Veloso, R. Franklin Távora, s/nº, 21710-030, Rio de Janeiro, RJ.
Artigo Turno e contra turno. Ercília Angeli, Maria de Salete Silva e Maria do Carmo Brant de Carvalho.

- Educação Brasileira em Tempo Integral, Ana Maria Villela Cavaliere, 240 págs, Ed. Vozes

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