Livro. Esse termo traz em seu bojo características próprias de singularidade, singeleza e liberdade de expressão. No entanto, candentes debates e discussões, suscitadas por futurólogos apocalípticos, se acirram nos dias atuais acerca da possibilidade dessa importante tecnologia de informação e comunicação desaparecer (quase) completamente do cenário social e escolar em seu formato mais comum e tradicional, ou seja, na versão impressa.
Desde a Antiguidade clássica até aproximadamente o início do século XV, a presença dos papiros e pergaminhos configurou-se como um importante material de divulgação e democratização de diferentes conhecimentos e saberes historicamente acumulados ao longo da história pela humanidade. Com a invenção da imprensa de Gutenberg, o trabalho dos escribas e monges copistas foi sendo deixado de lado, dando lugar à confecção de livros-textos no formato impresso, tanto na tipologia brochura quanto espiral. Gradativamente, essa nova forma de socialização do conhecimento humano foi ganhando terreno próprio, demarcando campo e apresentando dimensões sociais, políticas, econômicas, éticas e culturais cada vez mais crescentes e importantes, principalmente no contexto educacional escolar.
Amplamente difundido e utilizado por professores e alunos de todos os níveis e modalidades de ensino, o livro didático escolar impresso, até o início da década de 1990, se constituía como o principal e quase único recurso pedagógico auxiliar ao trabalho educativo na escola. A partir do advento das novas tecnologias de informação e comunicação e do aparecimento da internet, dos sites de pesquisa e, particularmente, do livro digital; o livro didático impresso aos poucos foi perdendo seu status de objeto cultural histórico; levando assim muitos profissionais do campo da Educomunicação a cogitarem a possibilidade do total desaparecimento do mesmo do cenário tecnológico educacional num futuro bastante próximo.
Mas, será isso possível e necessário? Sem a pretensão de discorrer sobre as previsões futuristas correntes, entendemos que tirar de circulação o livro didático escolar impresso significa, de certa forma, renegar um legado cultural de nossos antepassados, fazendo prevalecer de forma impositiva e antiética uma nova cultura tecnológica em detrimento de outra.
Longe de procurar fazer uma apologia exclusiva ao livro impresso, acreditamos que apesar de todas as facilidades e da rapidez de comunicação que as tecnologias midiáticas contemporâneas possam apresentar, nada substitui a sensação do leitor em folhear as páginas de um livro em qualquer momento, tempo e espaço, avançando ou retrocedendo na leitura a seu bel prazer e assinalando tópicos relevantes quando necessário para uma melhor compreensão do assunto abordado. Trata-se, pois, de uma interação direta, concreta e dialogada, quase umbilical, entre leitor e autor; o que proporciona a abertura de novos horizontes e um prazeroso passeio pelo fantástico mundo da leitura e da escrita.
Nesse contexto, ameaçar de extinção o livro didático escolar impresso significa ameaçar todo um conjunto de estruturas socioeconômicas e de identidades pessoais ou grupais, uma vez que não sendo apenas um objeto de uso-consumo, o livro é uma ‘entidade’ multicultural que institui diferentes valores, concepções, crenças, ideologias e, em certa medida, define subjetividades e o que elas significam para o ser humano no convívio em sociedade.
É preciso ter certa cautela de cuidado no tratamento sobre a possibilidade de desaparecimento do livro didático impresso, visto que, ao menos no momento atual, o mesmo ainda continua atendendo a muitas necessidades culturais, pessoais e coletivas que jamais poderiam ser satisfeitas pelo computador ou por qualquer outro recurso tecnológico do gênero.
Face ao exposto, cabe-nos refletir se não seria mais otimista e prudente pensar, então, a possibilidade de coexistência das tecnologias impressa e digital, embora apresentem funções diferenciadas e especializadas, ao invés de se afirmar apressada e equivocadamente que uma tecnologia poderá substituir totalmente a outra. Posto isto, convém também salientar que os livros didáticos escolares e, somente eles, como sementes e frutos do conhecimento humano e parte de um contexto mais amplo que envolve a estrutura da sociedade, a política educacional, o mercado e a indústria cultural, têm a magia de estabelecer um elo entre o real e o imaginário, despertar o incrível poder criativo de homens e mulheres e alimentar a esperança de construirmos, assim, uma sociedade cada vez mais justa, solidária e equânime para todos.
Uma sociedade sem livros e, consequentemente, sem escritores e sem leitores, é apenas uma sociedade, uma sociedade silvícola e silente, de futuro apocalíptico. Pensemos nisso. O momento é agora!
Marcos Pereira dos Santos
mestrepedago@yahoo.com.br
Doutorando em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR) e professor Adjunto do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (CESCAGE/PR).
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