Jacir José Venturi
No dia 07 de agosto, na companhia da Presidente da Fenep, fomos recebidos em Brasília pelo Dr. Luiz Cláudio Costa, que desde 2009 é o 4.º presidente do Inep – órgão do MEC responsável por toda a logística do Enem. Foi uma reunião de interlocução altamente técnica e concluímos enlevados de júbilo e esperança. Toda a sociedade anseia por um Enem SEM PROBLEMAS, após as trapalhadas de 2009, 2010 e 2011, por motivos torpes, desonestidade de fraudadores e até onde a vista alcança, por incúria de uma parte dos gestores.
Coordenamos uma equipe multidisciplinar de 11 professores, tendo como premissa básica serem educadores – sem qualquer interesse subjacente que não fosse o de contribuir por uma boa causa. Educadores caldeados na frágua da intensa convivência com alunos de escolas públicas e privadas, ademais vários são mestres, doutores e autores de material didático.O documento apresentado ao Inep possui 38 pág., cujo conteúdo completo e a relação dos nomes da equipe multidisciplinar estão no site: www.sinepepr.org.br.
Quanto às sugestões apresentadas ao Inep, ei-las concisamente:
1) Há excesso de contextualização, o que alonga o enunciado e fica a sensação de um exame demasiadamente extenso. Na área de Ciências Exatas, em especial, há contextualizações forçadas e há demasia de aritmética (continhas), tangenciando apenas conteúdos mais profundos e de raciocínio lógico.
2) As 180 questões objetivas das quatro áreas do conhecimento valem apenas 50%. Na outra metade, reina absoluta a redação (30 linhas). Até hoje, nenhuma explicação para essa obesidade, ou seja, para esse peso excessivo. A sugestão da equipe multidisciplinar é que as quatro provas valham 20% cada uma e também à redação se atribua este valor.
3) O conteúdo programático está genérico demais, merece ser mais bem especificado e não tão abrangente. A grade curricular deve ser reduzida em 20% a 30%. São penduricalhos desnecessários. Nenhum educador sério pretende fazer com que o aluno do Ensino Médio estude menos, e sim, que empregue honestamente o seu tempo, preparando-se bem para as elevadas exigências futuras.
4) Tem-se como premissa que o tempo é insuficiente: 3 minutos, em média, para a resolução de cada questão. Julgamos que o número de 180 questões está adequado, pois diminuí-las compromete a abrangência e aumentar o tempo da prova levará o candidato à exaustão. A solução é reduzir parte dos enunciados desnecessariamente longuíssimos, e que o MEC assuma e divulgue amplamente que a administração do tempo é uma das habilidades exigidas.
5) Somos favoráveis à consolidação do Enem e à adoção de um currículo unificado para o ingresso nas universidades. Para este mister, que se contemplem doutores e mestres de nossas universidades, mas também professores do Ensino Médio, que diariamente honram o tablado de nossas salas de aula – os metros quadrados mais nobres da escola.
Ao término da reunião, o presidente do Inep anuiu que é necessário levar mais informações e melhor capacitar os professores das escolas, quando dei o meu depoimento – ao palestrar para 8 escolas públicas de periferia de Curitiba nas quais os alunos estão minimamente instruídos sobre o Enem, ProUni, Fies, COTAS, SISu, etc. A verba para a implementação de toda a logística do Enem/2011 foi robusta, porém se justifica quando se almeja um Enem SEM PROBLEMAS. Essa verba foi de R$ 372,5 mi para atender 5,3 mi de candidatos inscritos, o que perfaz R$ 70,28 de custo por aluno (similar ao custo dos vestibulares convencionais).
Os erros do passado significaram um doloroso aprendizado. Uma boa expectativa perpassa em todos nós participantes deste encontro, que por ser o primeiro em toda a existência do Inep, já diz muito. A sensação é que o Inep está caminhando na direção certa. Há 5,8 mi de candidatos inscritos para o Enem/2012, que empunham a chama esplendorosa da esperança num futuro melhor, mas também carregam o fardo da incerteza e da insegurança. Assim, vamos compartilhar das palavras de Manoel Bandeira recorrente nos vestibulares: “Ah, como dói viver quando falta esperança”.
Jacir José Venturi
jacirventuri@hotmail.com
Professor aposentado da UFPR e PUCPR, palestrante, autor de livros, fazendeiro e enófilo.
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