Porto Alegre (RS), 16 de julho de 2011
Caro Juremir (CORREIO DO POVO/POA/RS)
Meu nome é Maurício Girardi. Sou Físico. Pela manhã sou vice-diretor
no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre , onde à noite leciono a
disciplina de Física para os três anos do Ensino Médio. Pois bem, olha
só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo
ano. Era 21/06/11 e, talvez, “pela entrada do inverno”, resolveu
também ir á aula uma daquelas “alunas-turista” que aparecem vez por
outra para “fazer uma social”. Para rever os conhecidos. Por três
vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o
conteúdo que abordávamos.
Parece que estão fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala.
Eis que após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação
que necessitava de bastante atenção de todos, toca o celular da aluna,
interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma idéia e
prejudicando o andamento da aula. Mudei o tom do pedido e aconselhei
aquela menina que, se objetivo dela não era o de estudar, então que
procurasse outro local, que fizesse um curso à distância ou coisa do
gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender' e
que o Colégio é um local aonde se vai para estudar. Então, a
“estudante” quis argumentar, quando falei que não discutiria mais com
ela.
Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina
resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido
repreendida na frente de colegas. De casa, sua mãe ligou para a Escola
e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos
influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria ficar assim. Em
nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer,
se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco
procurou a diretoria da Escola.
Qual passo dado pela mãe? Polícia Civil!... Isso mesmo!... tive que
comparecer no dia 13/07/11, na 8.ª (oitava Delegacia de Polícia de
Porto Alegre) para prestar esclarecimentos por ter constrangido (“?”)
uma adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando
o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores'. A que
ponto que chegamos? Isso é um desabafo!... Tenho 39 anos e resolvi ser
professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar
do conhecimento e crescer. Mas te confesso, está cada vez mais
difícil.
Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho
outras opções no mercado. Em situações como essa, enxergamos a nossa
fragilidade frente ao sistema. Como leitor da tua coluna, e sabendo
que abordas com frequência temas relacionados à educação, ''te peço,
encarecidamente, que dediques umas linhas a respeito da violência que
é perpetrada contra os professores neste país''.
Enviado por Corumbá
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
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