Gilmar De Oliveira
Você leu a reportagem da Revista “Veja” da última semana de agosto? Aquela do Ensino no Brasil, de escola péssima, mas pais e professores satisfeitos com o nível da educação. Se não leu, caro leitor, leia e reflita.
Por motivo de recalque, muitos educadores tampam a realidade e se vêem como bons educadores, relaxam e permanecem numa perigosa zona de conforto, que impede o aprimoramento e a capacitação, o desenvolvimento e a atualização. Ou seja: nosso recalque (mecanismo de defesa do ego que impede de ver a realidade) destruiu a Educação, tanto ou mais quanto o descaso governamental pela área.
Sim, somos ruins mesmo! Nós, professores de todos os níveis de ensino, na sua imensa maioria, somos ruins de doer dentro de uma sala de aula. Somos professores e educadores fracos, muito fracos. A garotada se diverte com nossa ingenuidade, com nossa ilusão de que ensinamos coisas fundamentais, que eles se interessam, que gostam de nossas aulas, de nossos conselhos. Você vê: eles comemoram o dia sem aula...
Quando temos o domínio técnico do conteúdo, pecamos na forma de ensiná-lo. Se ensinamos bem, os assuntos em geral não são úteis na vida prática do aluno. Avaliamos mal, cobramos mal, recebemos mal, lemos mal.
Temos dificuldade de contextualizar e de cobrar o que foi ensinado. Se fizermos UMA AVALIAÇÃO QUE REALMENTE MEÇA o conhecimento adquirido, praticamente nenhum aluno chegaria à média cinco.
Fechamos os olhos e facilitamos, pedindo trabalhinhos “chinfrins” e perguntando “o que é...” ou reprovamos os alunos em massa.
Mas será que conseguiríamos lecionar com qualidade em outro país? Numa nação com escola moderna, com computadores nas salas para todos, com tecnologia de ponta e exigência de rendimento e qualidade?
Num país que pagasse salário de executivo, de classe média alta ao professor, mas cobrasse planejamento, atualização, contextualização dos temas ensinados, pesquisa por parte do professor? Qual foi a última vez que você ouviu um professor dizer que pesquisou 4 ou 5 horas para preparar uma aula ou um projeto científico?
Imagine-se cobrado para lecionar 20 horas semanais e de fato, realmente pesquisar e estudar outras 20 horas semanais. Os estrangeiros o fazem. E nós?
Poderíamos cumprir com a qualidade e o preparo que o professor brasileiro tem hoje em dia?
Isso sem contar que as provas lá fora são elaboradas por institutos independentes ou por autarquias do governo, que medem o que foi ensinado e aprendido e cobram resultados tanto quanto as famílias e as APP’s.
Falando nisso, quando foi que o leitor ouviu (se é que ouviu), conselheiros da APP cobrarem a qualidade do ensino na escola?
Conheço poucos professores que educam com esta visão: se sentem desatualizados todos os dias, que podem ser demitidos se não ensinarem bem, que sentem a cobrança pela qualidade, que chegam para ensinar e cobrar da forma justa e ideal dos alunos, que exigem serem fiscalizados. Bons professores, com resultados excelentes!
Pela nossa formação escolar, marxista em geral, adulamos Paulo Freire (pré-histórico e anacrônico), criticamos o lucro, vemos sucesso como arrogância. Uns preparam os que lucram e vencem, outros preparam os que nadam e morrem na praia. Não nos preparamos para vencer, para a glória (lembrem dos atletas olímpicos), apenas dizem que o futuro será difícil. Esqueceram de avisar que será melhor também. Para quem se preparar.
Por nossa incompetência disfarçada de qualidade, preparamos alunos para desgostarem do mundo, ao invés de melhorá-lo com idéias, de inseri-los no sucesso que ele oferece a quem luta.
Os países de ponta na educação são aqueles que têm melhor qualidade de vida e ensinam para vencer, para cobrar, para atingir metas, para nunca serem dominados, para lucrar, para duvidar, questionar, protestar, exigir.
Ainda ensinamos a obedecer, ensinamos que boca fechada não entra mosca, a sermos bonzinhos, fraternos, cordiais e amáveis. Tudo bem, desde que sejamos capazes de lutar pelo que é nosso, de vencer, lucrar, de respeitarmos a lei e dela exigir respeito à nossa condição. O mundo é assim...fracos e coitados não têm vez.
Ensinamos que o sistema é um monstro injusto, porque nós educadores somos injustiçados e ficamos calados, resmungando na sala dos professores (antes do diretor chegar, claro).
Nós acabamos na ilusão: ou achamos que já vencemos na vida por sermos efetivos, formados, realizados, já prontos para o fim ou ficamos resignados com nossa situação, que não evolui, o aumento que não vem, o livro que é caro...
Romantizamos a figura da professorinha, da escolinha do interior. Achamos graça no aluno respondão da TV, nos programas de humor onde velhos babões se fingem de crianças rebeldes e amalucadas e os professores são feitos de bobos. Estereótipos de professores excêntricos, tolos ou emocionalmente abalados só acabarão quando conseguirmos ser o que há de melhor na sociedade: informados, inconformados com nós mesmos, vaidosos, orgulhosos, lidos, preparados, cobrados e com resultados. Senão, o que nos pagam hoje em dia ainda será muito.
Por enquanto, somos ruins mesmo. A “Veja” e seus colunistas estão certos; nós ainda não.
Gilmar De Oliveira
Sobre este autor:
Psicólogo clínico e institucional; especialista em Neuropsicologia e Aprendizagem e Mestre em Educação e Cultura. CRP 12/01950. Endereço eletrônico: gilmardeoliveira@uol.com.br
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