sexta-feira, 11 de março de 2011

Notícia da Seduc/MT

A identidade revelada pela Educação



“Antes eu tinha vergonha de ir às reuniões escolares porque não sabia assinar a lista de presença dos pais. Eu sempre saia por último da sala pra que ninguém soubesse que eu não sabia assinar meu nome”. O relato emocionante é parte da vida da dona de casa Adelaíde Januária, 67 anos, mas hoje já não reflete mais a sua realidade.

Estudante do Centro de Educação de Jovens e Adultos 6 de Agosto, do município de Pontes e Lacerda, ela cursa o 2º ano do 2º segmento e hoje, como gosta de dizer, é dona de uma identidade.

As dores advindas da idade, a dificuldade na visão, não servem como empecilho para que a quilombola nascida em Vila Bela da Santíssima Trindade na década de 40 seja uma das estudantes mais assíduas do Ceja.

Para Adelaíde – que criou dez filhos – acordar cedo não é problema nenhum para ir à escola. Ela percorre um trajeto de cerca de 4 quilômetros diariamente.
A história de vida de Adelaíde confunde-se com o crescimento do país. Muito pequena ela mudou-se de Mato Grosso para Rondônia onde foi trabalhar no seringal. Filha de mãe solteira, tinha a incumbência de ajudar nas despesas e também na criação dos irmãos. Terminou casando-se com 13 anos com um homem de 50. Teve um filho com ele. Divorciou-se, voltou para Mato Grosso (dessa vez para Pontes e Lacerda), e arranjou outro amor.

A correria diária para cuidar dos nove frutos dessa relação - que já dura 40 anos - terminou por adiar o sonho de ir para os bancos escolares. “Agora que o meu caçula já tem 29 anos eu voltei pra escola e não quero sair. Meu marido agora não se importa mais. Antes ele não me deixava. Eu sei que agora é mais difícil. A aluna aqui não ajuda muito, a visão também não, mas não gosto de faltar. A professora tem paciência”, relata.

Adelaíde já consegue pagar contas sozinhas, já faz compras sem sentir-se envergonhada. Sua meta agora é escrever. ‘Quero mandar uma carta para minha irmã que está lá em Rondônia. Vale a pena voltar para escola. Agora eu quero convencer meu marido. Eu tento todo dia um pouco”,finaliza.
O Centro de Educação de Jovens e Adultos atende a cerca de 1,2 mil alunos.


Patrícia Neves
Assessoria/Seduc-MT


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