Por que meu aluno precisa ler?
Ao longo da história, a leitura vem se firmando como demasiadamente respeitável no papel político e social. Discutir o método de trabalho da leitura é algo que nunca entra em desuso, pois se leva em consideração a constante mudança da sociedade
Por Lilian de Souza Farias
Inserção na sociedade
Novamente citamos o professor João Wanderley Geraldi: “No inventário das deficiências que podem ser apontadas como resultado do que já nos habituamos a chamar de ‘crise do sistema educacional brasileiro’, ocupa lugar privilegiado o baixo nível de desempenho linguístico demonstrado por estudantes na utilização da língua, quer na modalidade escrita.
Não falta quem diga que a juventude de hoje não consegue expressar seu pensamento; que estando a humanidade na era da comunicação, há uma incapacidade generalizada de articular um juízo e estruturar linguísticamente uma sentença. E para comprovar tais afirmações, os exemplos são abundantes: as redações de vestibulares, o vocabulário da vida jovem, o baixo nível de leitura comprovável facilmente pelas baixas tiragens de jornais, revistas, obras de ficção etc."
LEITURA NO ENSINO
Cabe à escola a tarefa de letramento capaz de fazer o aluno assumir o papel principal no processo do conhecer. Estabelecer mecanismos para leitura é o primeiro passo. A ação pedagógica deve ser mediadora entre o leitor e os textos, permitindo ao aluno transformação pessoal, dispondo por meio da leitura a possibilidade de conhecer a diversidade de gêneros textuais a fim de ter uma melhor inserção na sociedade.
Em geral, as tentativas de leitura em sala de aula vão direto ao ponto: apresentam-se textos e propõe-se a leitura, sucedida de interpretação destes, sem as motivações preliminares que norteariam com mais êxito as atividades de leitura em sala de aula. Dispondo de pouco tempo, com aulas demarcadas em “minutos”, educadores são impulsionados a fazerem do processo de leitura, uma aprendizagem mecânica, com tempo e finalidades delimitados. Gastar esse precioso tempo com leitura é, na mente retrógada da maioria dos professores, um desperdício.
O que poucos admitem, mas que é evidente, é que, se o professor utilizasse todo o tempo de suas aulas com leitura, os demais conteúdos que motivam a delimitação da leitura seriam naturalmente assimilados. É no contato com as palavras, com os textos, com os livros e leituras em geral, que o indivíduo compreende a funcionalidade e a inter- relação das palavras entre si e a lógica gramatical da língua; aumenta o acervo de palavras do próprio vocabulário a fim de desempenhar melhor suas expressões orais ou escritas e principalmente: amplia seu conhecimento de mundo que deve preceder o conhecimento escolar, visto que, educa-se para a vida e não para as limitações das paredes escolares.
O professor deve ser visto como parceiro do aluno em todo o processo de aprendizagem. Ele se caracteriza como privilegiado no ato de selecionar textos para o educando. E deve ser cauteloso fazendo observações e análises, oferecendo alternativas, colaborando para o incentivo a leitura, ao invés de reprimir. Focando a importância de se manter uma relação entre leitura e conhecimento da língua, faz necessário que a escola e o professor como orientadores se tornem participantes ativos dessa corrente de pensamento.
Leitura num contexto
No livro Introdução à Filosofia (São Paulo, Cortez, 2004), o professor Cipriano Carlos Luckesi escreve: “Na escola é que, pela hipertrofia do uso do modo indireto de apropriação do conhecimento, muitas vezes, o intermediário do conhecimento é transformado, mistificado, reificado como se fosse a própria realidade a ser entendida. Existem professores que selecionam textos extremamente difíceis de compreender. O texto passa a ser a dificuldade para o aluno, e não o mundo que o texto pretende expressar.”
Um homem considerado analfabeto ou semi-analfabeto foi podado antes mesmo de aflorar sua capacidade criadora e investigadora. O estímulo ao conhecimento abre portas a uma visão mais ampla dos saberes do aluno, e essa visão deve ser levada em consideração pelo simples fato de fazer esse aluno ascender à qualidade do que se ensina, daquilo que pode ser, em sentidos diversos, aprendido.
Todo texto é feito para ser compreendido, ele tem um motivo por ter sido escrito, a lógica é que se tenha conseguido estabelecer um laço de interação entre autor e interlocutor. E posteriormente a criação de outros textos. Como escreveu Bakhtin, uma inscrição é produzida para ser compreendida e orientada para uma leitura num contexto de vida cientifica ou da realidade literária do momento num contexto ao qual é parte integrante.
A palavra, como o signo da expressão, está ligada incondicionalmente à situação social e desempenha um papel essencial na relação entre locutor e interlocutor, permitindo a interação das ideias e, simultaneamente, o conhecimento um do outro.
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