Por Içami Tiba
As crianças aprendem a mentir desde muito pequenas para conseguir vantagens. Uma bebê pode chorar de mentira para atrair a presença da mãe ou cuidadora, principalmente quando não quer dormir. É muito mais aconchegante dormir no colo ou na cama da mãe do que sozinha. Ela aprendeu sozinha, acordada que, se chorar, logo será atendida por alguém. Este choro desaparece assim que alguém aparece. Ela pode tanto dormir sozinha quanto ficar no colo de alguém, mas ela já aprendeu que se chorar, consegue ser levada para a cama e o colo da mãe, mesmo que esta esteja trabalhando. É uma estratégia de ação facilmente desmascarada e se a cuidadora não entrar neste jogo, a bebê acaba se acomodando e torna-se mais saudável, pois dorme melhor e amplia o seu leque de relacionamentos, ou seja, fica mais saudável.
Ao ser deixada na escola, esta pode chorar e se agarrar no pescoço da mãe como se fosse morrer se a mãe a deixasse lá. Some-se a este choro da criança a agonia de uma mãe que não aguenta ouvir choros dos filhos. Está armada a bomba que dificulta a independentização dos filhos. Chora o filho, chora a mãe. O choro da mãe reforça o choro do filho. Este impasse tem que ser superado primeiro pela mãe ao soltar o seu filho, pois geralmente dentro da escolinha ele para de chorar e brinca feliz da vida com outras crianças. Isso a mãe não vê e continua com o coração apertado e não vê a hora de rever seu filho na saída da escola. Até parece que o filho voltou vivo de uma guerra.
Nesta fase a criança pode ainda não ter a maturidade para perceber o sofrimento da cuidadora mas, sem dúvida, percebeu a vantagem de chorar e conseguir o que quer: não sair do colo da cuidadora. Passa a ser mentira quando ela chora desesperadamente sem derramar uma lágrima. As meninas podem produzir lágrimas e inventar verdades com mais facilidade que os meninos.
Mentiras mais complexas começam a surgir quando o filhinho vai para a escolinha. Isso porque o leque de relacionamentos aumenta muito tanto com adultos quanto com seus pares. Crianças com síndrome de filho único tem maiores dificuldades para se expandir junto com os pares. Ele já está acostumado a ser o centro do mundo adulto que gira à sua volta. Ao ser tratado em grupo ele perde o centrismo e passa a girar em torno dos outros. Diante desta e de outras perdas o filhinho pode mentir.
Precedendo a razão, existe a intuição, uma espécie de percepção de que algo diferente está acontecendo para bem ou para mal. Na mentira, vários são os sinais emitidos: não olha nos olhos; encolhe o corpo; abaixa a cabeça; esconde as mãos que tremem; movimenta-se pouco; coloca-se à distância; olha para fora como se procurasse saída; demora para responder; vai sempre aumentando as informações; treme, cora, transpira frio; demora para responder; vacila nas palavras; fala mais baixo e para dentro; voz fica mais aguda; boca seca; engole seco etc.
Quando um filho justifica muito o que não fez, esqueceu, errou, perdeu, se os pais olharem atentamente nos olhos dele podem perceber que algo está muito diferente do que sempre fez. Se a intuição diz que algo está sendo omitido, exagerado ou distorcido os pais não devem dizer que o filho está mentindo, mas pedir mais detalhes. Para tentar convencer os pais de que está falando a verdade o filho dá cada vez mais detalhes ou novidades, infantilizados ou muito elaborados.
O que os pais devem fazer quando percebem que o filho está mentindo?
A resposta virá na próxima coluna...
Içami TibaIçami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Família de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 26 livros.
Içami Tiba responde a perguntas de internautas; confira aqui. Site: www.tiba.com.br
terça-feira, 5 de julho de 2011
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