terça-feira, 23 de novembro de 2010

Família é fundamental para a formação de novos leitores

TEXTO DE KARINA COSTA

Não foi na escola que César Vital, 4 anos, tomou gosto pelos livros – e diga-se, de passagem, que ele ainda não sabe ler. Na verdade, este é o primeiro ano que o garoto frequenta uma sala de aula, mas já chegou com boa bagagem, fruto de leituras feitas com a mãe, a advogada Cláudia Vital, 44; os três irmãos, Daniel, 23, Bianca, 20, e Gabriel, 18; e o pai, Milton Flávio Silva, que vez por outra são convocados a ler um dos exemplares infanto juvenis que ele tem em casa.

Os três irmãos mais velhos de César já estão na universidade e sempre se dedicaram à leitura, “uns menos, outros mais”, pondera a mãe, Cláudia.
O caçula, então, passou a ter a atenção dos irmãos que sempre leem para Cesinha, como é chamado na família.

O prazer pela leitura só aumenta, conta a mãe. “Agora ele está empolgado, porque viu na livraria livros do desenho que ele vê na TV, Thomas e Amigos e sempre pede para alguém da família ler”.

A predileção de Cesinha ainda é pelos contos de fadas.

Se ninguém ajudá-lo, ele mesmo se vira e vai contando a história, conformese recorda ou como consegue interpretar os desenhos. O segredo para que o garoto goste tanto assim dos livros? “A hora da leitura, para meu filho, é uma hora de deleite, de prazer.

Nunca dizemos para ele: tem que ler, menino!”.

Imitar “Uma das características principais da criança é querer ser aprovada pelo adulto”, explica a educadora Mary Arapiraca da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Para ela, o fato de ver os pais lendo faz a criança achar que ler é algo bom, a criança quer imitar o comportamento do adulto e quer ser aprovada. No entanto, Mary faz recomendações, a leitura deve ser incentivada e não “tutelada”. Ela frisa que é importante comentar o texto, “olha, isso que o autor escreveu quer dizer isso”, explica.

Para Mary, “a leitura é muito individual”. Além disso, a educadora critica a escola que delega essa tarefa aos pais. A escola também tem que dar ao aluno elementos “que o ajudem querer ler”, além da leitura obrigatória.
Foi o que fez a Escola Girassol, no Itaigara.

Troca de experiências Os alunos da Escola Girassol, na Rua Sílvio Valente, participam do projeto Ciranda da Leitura. Além de um acervo de cerca de 5 mil livros, a escola estimula que os estudantes tragam de casa uma obra que tenham lido e que tenham gostado. A experiência da leitura deve ser compartilhada em sala. Os livros, segundo a diretora da instituição, Rosa Silvany, ficam na sala à disposição de todos.

Às sexta-feiras eles trocam, levando para casa, e na aula seguinte contam o que acharam do livro.

“Não é algo didático, é pelo prazer deles”, comenta.

A incidência da participação no momento da leitura é maior quando as crianças são menores, explica a professora Rosa. Por isso, a família também tem acesso à biblioteca e pode levar publicações.

“Aí cabe aos pais darem continuação em casa ao trabalho que aqui na escola é feito. E nós incentivamos essa participação”, explica Rosa.

Mesmo coordenando uma escola de 980 alunos, ela conta que é possível analisar quais salas de aula têm frequentado menos a biblioteca e tomado livros como empréstimo.

Depois de feita a análise, entra em cena o Varal da Literatura: “Penduramos em um varal os livros mais lidos e levamos à sala. É outra forma de incentivo”, diz.

Fonte: Jornal a Tarde, 22 de novembro de 2010. Primeiro Caderno, p.A6. Salvador/BA.

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