Mariana Mandelli (O Estado de S.Paulo)
Escolas públicas e notas baixas em avaliações atualmente soam como sinônimos no Brasil. A infeliz associação, no entanto, não existe em muitos países e deixou de ser realidade na Brockton High School, no Estado norte-americano de Massachusetts. A escola foi considerada um fracasso escolar por anos, mas conseguiu reverter a situação com um projeto baseado na alfabetização dos estudantes e na valorização das conquistas por eles obtidas. Hoje, tem ótimas notas nas avaliações estaduais. Um dos diretores assistentes da escola, Matthew Crowley, que esteve no Brasil em evento da Fundação Lemann e da Universidade Anhembi Morumbi sobre reformas educacionais e escolas públicas, concedeu a seguinte entrevista ao Estado.
Como é o projeto que levou à recuperação da Brockton High School?
Para criar mudanças relevantes, adotamos um lema de não deixarmos absolutamente nenhuma criança para trás nessa reforma. Discutimos formas de envolver as comunidades onde elas são frequentemente ignoradas. Também enfatizamos a importância de se ter equipes de liderança nas escolas - o que deve ser expandido para cidades e Estados, em maior proporção. E, principalmente, demos início à nossa iniciativa de alfabetização. Já faz mais de uma década - começamos em 1998. Percebemos que o caminho era esse pelos resultados dos testes estaduais, que indicaram que a maioria dos nossos alunos estava falhando.
E o que foi feito?
Em 1998, um pequeno grupo de professores começou a trabalhar em soluções que elevaram o nível de expectativas de todos os alunos sobre si mesmos. Isso foi essencial porque, na época, havia um pensamento comum entre os estudantes de que eles tinham o direito de falhar. Era OK ser reprovado. No entanto, os péssimos resultados dos testes eram inegáveis e nós os encaramos como uma oportunidade para começar a mudar essa cultura dentro da escola. Formamos o que hoje é conhecida como uma comissão de reestruturação e decidimos que o nosso principal foco seria a alfabetização. Permanecemos focados nela e, pelos últimos 12 anos, isso tem transformado a nossa escola por causa da fidelidade que temos a esta iniciativa.
É possível usar essas lições aprendidas pela Brockton High School no sistema público de outros países, como o Brasil?
Definitivamente, é possível ter sucesso educativo similar no Brasil. Na época em que começamos, não havia nenhum atalho para o nosso sucesso - ele é o produto do trabalho duro ao longo dos anos. Essas reformas são relevantes para o Brasil porque tratam diretamente de como mecanismos modernos de gestão podem ser implementados em contextos informais - como uma escola - comumente considerados "inadministráveis".
No início do mês, foram divulgados os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O Brasil vem melhorando, mas ainda somos um dos piores países em educação. Como você vê isso e como podemos utilizar a sua experiência como um bom exemplo?
Assim como usamos o desempenho ruim nos testes para detectarmos as falhas na Brockton High School, as notas do Pisa podem servir como uma oportunidade para o Brasil se ver no espelho e optar por reformas. Costumo citar uma frase do autor Jim Collins, que diz: "Devemos enfrentar a realidade nua e crua."
Atividades extras, como esportes e passeios culturais, podem ajudar a tornar a escola mais atraente?
O projeto de elevar a autoestima dos alunos com alfabetização em todas as classes incluiu disciplinas eletivas, tais como arte, música, educação física, etc. Os efeitos têm sido poderosos nos próprios alunos. Muitos estudantes florescerem nessas aulas eletivas, e é por meio dessas aulas que acabam se engajando na escola.
Como podemos motivar os jovens e ensiná-los a acreditar em si mesmos e na escola?
Parte da motivação dos nossos alunos vem, é claro, da meta comum de ir para a faculdade. Mas nós devemos celebrar o sucesso escolar dos nossos alunos durante todo o ano. Por exemplo: temos uma cerimônia, que chamamos de "assembleia de honra", após o encerramento de cada período, para reconhecer realizações acadêmicas dos estudantes. Além dessas assembleias, costumamos organizar shows de talentos que contam a participação dos funcionários - inclusive eu.
Você se sente satisfeito com os progressos da escola?
Criamos uma cultura de sucesso escolar. Os professores são motivados a ver os alunos atingirem seus objetivos acadêmica, atlética e artisticamente. Estou orgulhoso do que conseguimos.
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
''Devemos valorizar o sucesso do aluno
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