segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O mundo das apostilas

Meirevaldo Paiva

O agora denominado 'método de apostilas,' que nos anos 1960 predominava apenas nos cursinhos pré-vestibulares por ter objetivos imediatos num tipo de ensino criticado como adestramento, abre um excepcional mercado por atingir estudantes da educação básica (infantil e ensino fundamental) de escolas particulares e públicas municipais.

Limitadas antes às escolas particulares, as apostilas invadem o sistema de ensino municipal já transformado num mercado promissor de alcance indefinido, devido ao tamanho do sistema que se apóia pela legislação de 1996, que responsabiliza os municípios pela administração da educação infantil e fundamental.

Por serem de fácil manuseio pelo aluno, de cobrança mais controlada do professor, com atrativos gráficos e fotográficos sob uma metodologia que facilita o trabalho docente, as apostilas se tornaram mais atraentes pelos resultados obtidos pelas escolas municipais e particulares nos últimos exames nacionais.

O 'método de apostilas' divulgado, sob os auspícios de um bem planejado marketing, movimenta milhões de reais, abre mercado de trabalho para assessores especiais, produtores de textos e pesquisadores, numa linha de montagem cultural até chegar às mãos de um professor, que segue rigorosamente o conteúdo das apostilas com resultados imediatos de aprendizagem e de ensino.

As apostilas não impedem o uso dos livros didáticos, embora os professores da rede pública reconheçam que os livros distribuídos pelo Ministério da Educação não podem ser rabiscados. São utilizados por dois anos e devem ser devolvidos no final do ano para uso de outros alunos que virão a seguir para aquela determinada série. Registre-se, porém, que os livros didáticos do MEC atendem a objetivos que as apostilas não o fazem.

Se as apostilas são determinadas por objetivos práticos, imediatos, de aprendizagem de conteúdos, os livros didáticos apresentam conteúdos abrangentes que captam o cotidiano brasileiro por meio dos chamados temas transversais. São temas que dão uma perspectiva de totalidade dos problemas apresentados a serem discutidos e refletidos pelos alunos.

Por ter um histórico negativo sujeito a preconceitos pedagógicos, os professores recusam a denominação de apostilas, substituindo-a pela expressão 'material didático', o que rigorosamente não deixa de ser.

Ainda assim, as apostilas tornaram-se um achado financeiro nesse mercado editorial com tendência a um crescimento inédito.

Os mais otimistas consideram que as apostilas, se forem de qualidade intelectual igual à dos livros didáticos, não têm por que deixarem de ser usadas nas engrenagens pedagógicas da aprendizagem, cujos resultados imediatos já são registrados pelas avaliações regionais, nacionais e internacionais.

Pedagogos, especialistas em educação e educadores em geral questionam a metodologia das apostilas.

Acham que elas ficam apenas no nível do ensino de resultados e consideradas condicionadoras do trabalho dos professores que, por sua vez, se consideram tolhidos na criatividade e na imaginação decorrentes um processo educacional que leve à construção do conhecimento dos alunos em sala de aula, sob a supervisão do professor.

Para os pais, ao compreender a condição de vida contemporânea, cabe acompanhar cotidianamente aprendizagem e o estudo em geral dos filhos.

Um acompanhamento que envolve o intelectual, o racional como também o afetivo, o emocional, o intuitivo.

A educação básica, afinal, deve fazer jus ao que é básico na vida do cidadão, ou seja, ter uma instrução que o conduza à autonomia de pensamento e à competência de conteúdos a serem aprendidos na história, na geografia, nas ciências e na língua portuguesa, fundamental para a comunicação e para o diálogo da cidadania e do mercado de trabalho.

Meirevaldo Paiva é Educador
Publicado em 08/05/2008 no Jornal O Liberal

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