quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O primeiro dia de aula

RAONI RICCI



No dia anterior, por várias vezes, senti no olhar a ansiedade. Um abraço apertado antes de dormir revelou a preocupação do tão temido primeiro dia de aula. Não, não senti isso do meu filho Pedro, mas sim da minha mulher, Luciana. O primeiro dia de aula do nosso filho foi mais doloroso pra nós do que pra ele.

Acho que Luciana esperou por esse momento desde o dia em que trouxe Pedro ao mundo. Durante a semana, não havia novela ou série que lhe prendesse mais atenção do que hoje. Achei interessante a maneira como ela lidava com a situação. Preocupada com tudo e tentando adivinhar o futuro. Fizemos ou não a escolha certa? Ele vai se adaptar? Sentirá nossa falta? Esse era mesmo o momento dele ir à escola?

Que dúvida...

Pedro tem dois anos e seis meses e uma energia difícil de ser canalizada. O nosso guri é daquelas crianças de tirar o fôlego sabe, literalmente. Também pudera, criado em um tradicional quintal cuiabano, sob a sombra de uma mangueira, cercado de gente boa na casa de Seu José Daniel e Dona Branca, no Coxipó da Ponte, berço de Cuiabá.

Em casa é uma beleza. Não temos paredes, temos telas para que Pedro treine os seus dotes artísticos. Lençóis e toalhas não são mais do que capas, cabanas ou esconderijos na brincadeira de esconde-esconde. Tampas de panelas, nossa, instrumentos musicais das primeiras horas da manhã de domingo. No pé do ouvido sabe, com aquela ressaca.

Outro dia, meu pai me ligou cedo pedindo para levar Pedro para um aniversário de criança. Opa, mais que autorizado, vem buscar que horas?

No início da noite, seu Eduardo estava na porta de casa. Que felicidade. “Vamos passear com o vovô, aniversário, parabéns, brinquedos, doces...” Ótimo, foi tranquilo, o guri e o avô.

Aproveitei para ir ao Chorinho com a patroa, era um sábado, samba de mesa com a velha guarda. Lá pelas 22 horas, meu pai me liga. “Estou indo levar o Pedro já”. Estranhei, cedo, mas tudo bem.

Pedro voltou quase dormindo, não chegava nem perto da cara de cansaço do meu pai. Parecia que seu Eduardo tinha carpido um lote inteiro lá no CPA, mas o sorriso no rosto deu uma disfarçada.

No outro dia, encontrei com a amiga jornalista, Noelma, que me fez um comentário revelador: “Conheci seu filho. Pedro é muito agitado. Ele não para quieto. Seu pai passou a festa inteira correndo atrás dele, mas é lindo, né!”. Chorei de rir.

Historinha só pra descontrair e mostrar como Pedro está mesmo naquelas fases em que o mundo é pouco pra criançada. Não pense que não gostamos disso não, adoramos. Na difícil tarefa de educar e criar um filho, ver Pedro esbanjando saúde é divino.

Muitas crianças, pela necessidade dos pais, vão para as creches desde cedo, mas Pedro não. Quando ele nasceu, tomamos a decisão de que Luciana passaria um tempo cuidando dele, amamentando. Ela deixou a vida profissional de lado e se dedicou apenas a ser mãe. Pedro mamou até pouco mais de dois anos.

Mas, então, fizemos a escolha certa. Quando é a hora certa para colocar os filhos na escola?

Fizemos, sim!

A hora certa é a hora em que seu filho dá passos mais largos do que os normais. É quando o seu filho pega o livro e finge ler as palavras. Quando imita o desenho animado lendo letras em inglês, com sotaque americano e tudo. É quando senta em roda com os amiguinhos e tenta mostrar o machucado. É quando seu filho mostra nos olhos que a hora chegou e ele está pronto.

Pedro nos mostrou isso e foi. Chagamos no Colégio Brasilis. Montamos uma comissão. Eu, Luciana e meu pai. Pedro entrou de mãos dadas com a mãe. O pátio cheio de verde melhora o astral. Subiu as escadas de mãos dados. Eu fui atrás.

“Filho, papai e mamãe vão embora, você fica na escolinha, tá?!”

Ele olhou pra nós, me deu um beijo e entrou pra sala, sem fazer manha. Fui até janela e insisti. Filho, tchau?

“Tchau, papai”.

RAONI RICCI é pai de Pedro, jornalista e editor do site "O Cuiabano".

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