segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Leitura acadêmica e escrita científica na universidade: dois problemas (ainda) mal resolvidos

Marcos Pereira dos Santos

Em linhas gerais, ler e escrever se configuram como duas práticas notadamente distintas. No entanto, a relação de interdependência existente entre elas são muito maiores do que podemos imaginar, principalmente quando se busca analisar essa questão no contexto da Educação Superior.

Na escola de Ensino Médio e, particularmente, na universidade são frequentes as queixas de muitos alunos quando o professor de uma determinada disciplina solicita a leitura de obras literárias, de artigos científicos relativamente extensos ou mesmo a produção de textos de diferentes estilos como critério de atividade didática em sala de aula ou avaliação parcial bimestral.

Com base em nossa larga experiência profissional docente na Educação Superior, pública e privada, podemos dizer, grosso modo, que as dificuldades de leitura acadêmica nesse nível de ensino têm como principais origens a falta do hábito de leitura por parte dos estudantes; a não familiaridade com leituras de teor científico, visando investigação, pesquisa e análise crítico-reflexiva; a formação precária recebida pelos alunos na educação escolar básica; e a ausência de percepção acerca da importância da leitura como condição de acesso ao conhecimento científico e à composição escrita de diferentes tipos de textos.

Além desses fatores causais, é possível citar ainda os problemas de atenção, concentração, estímulo, motivação e interesse por parte dos educandos; a ausência de interação dialógica entre leitor-autor; a falta de costume em destacar partes importantes de um texto científico durante o processo de leitura; e até mesmo a prática de leitura como mera memorização de definições conceituais e consequente reprodução de ideias expressas por autores de textos e obras literárias.

No que diz respeito especificamente às dificuldades de escrita científica demonstradas por estudantes universitários, pode-se dizer que as mesmas são oriundas da não priorização da leitura como condição prévia e essencial para a construção escrita de diferentes tipos de textos acadêmicos; da incompreensão dos alunos acerca das concepções teóricas expressas por autores em obras literárias; e da falta de conhecimento aprofundado sobre determinados assuntos de viés político, econômico, cultural etc. Some-se a esses entraves, o desconhecimento sobre a estrutura morfológico-sintática de um texto científico; a falta de coerência e coesão textuais, conhecimento de normas ortográficas e uso de vocabulário linguístico formal no processo de escrita; a não organização lógica de ideias a serem transcritas entre outros empecilhos.

Para que seja possível sanar, ou ao menos minimizar, as dificuldades de leitura acadêmica e escrita científica apresentadas pela grande maioria dos estudantes universitários, faz-se necessário que algumas medidas de intervenção didático-pedagógica sejam aplicadas de forma mais ou menos intensa, dentre as quais destacamos: a) incentivo da família para o hábito de leitura; b) maior frequência dos alunos às bibliotecas públicas e escolares; c) estímulo do professor para a prática de leitura e escrita de diferentes textos, iniciando por temas de interesse particular dos alunos; d) proposição de atividades avaliativas e não avaliativas referentes à reestruturação de textos de diversos estilos e elaboração de resumos, resenhas, papers, relatórios, ensaios e artigos científicos; e) participação dos estudantes em cursos de nivelamento acadêmico, oficinas de leitura e escrita acadêmica e outros eventos de natureza similar; e f) melhoria da qualidade do ensino de Língua Portuguesa na Educação Básica e do encaminhamento metodológico às disciplinas de “Português Instrumental”, “Metodologia da Pesquisa Científica” e “Trabalho de Conclusão de Curso” na universidade.

Face ao exposto, entendemos ser fundamental e urgente atentar para essas questões; pois assim como a teoria não pode estar dissociada da prática, da mesma forma ler e escrever são verbos que devem ser paralelamente conjugados, embora denotem ações distintas em sua essência. São “faces da mesma moeda”. É preciso, portanto, adentrarmos ao universo da leitura e da escrita e nele descobrir as riquezas encobertas. O desafio está posto. Já é hora de encontrar uma solução eficaz e eficiente para os problemas enfrentados pelos estudantes universitários em termos de leitura acadêmica e escrita científica. Mãos à obra!

Marcos Pereira dos Santos
mestrepedago@yahoo.com.br
Doutorando em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR) e professor Adjunto do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (CESCAGE/PR).

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