terça-feira, 28 de agosto de 2012

Rede privada não cumpre meta de qualidade do MEC


Resultado é pior no Ensino Médio, com notas abaixo do previsto em todas as regiões; particulares do Rio registraram queda

Se o desempenho da rede pública no Ensino médio, segundo os dados do Ideb 2011, foi pífio, o dos colégios particulares do país também ficou abaixo do esperado para Escolas que cobram mensalidades: no Ensino médio, em nenhuma região a rede privada cumpriu a meta prevista pelo MEC.

A rede particular de pior desempenho foi a de Sergipe, com Ideb 4,8 (a meta era 5,8). O Rio, com 5,5, ficou acima da meta em 0,1 ponto, mas caiu em relação a 2009, quando tinha 5,7.

No nível fundamental, as Escolas particulares também ficaram abaixo da meta nos anos finais; entre as regiões, apenas o Centro-Oeste conseguiu cumprir o estabelecido: 5,9. E, nos anos iniciais do fundamental, somente Sul e Centro-Oeste ultrapassaram suas metas.

- Se a rede pública não melhora, a privada não tem estímulo para melhorar mais. Há um diferencial constante entre as redes - avalia Naércio Menezes Filho, do Insper.

- No Ensino médio, desde 2005, a rede está estagnada. Cresceu 0,1 ponto. Mesmo no fundamental, avançou pouco - diz o pesquisador em Educação Mozart Ramos: - É preciso um Ensino médio mais interativo. A formação do Professor tem de mudar, além do currículo. Há excesso de disciplinas. O Aluno vai à Escola, mas as aulas não dialogam com o cotidiano.

Analisada por amostragem - o Inep sorteia as Escolas, e as secretarias estaduais de Educação comunicam aos estabelecimentos privados que eles serão avaliados -, a rede não cumpriu nenhuma das metas para 2011.

Presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Amábile Pacios diz que "a rede considera ter cumprido a meta":

- A rede privada eleva a média do Ideb no Brasil, e ainda assim as Escolas não sabiam o que era esperado, não sabiam a meta. Foi satisfatório e foi consequência do bom trabalho que realizam - diz Amábile, afirmando que o MEC não dialoga com a rede.

O MEC diz que "todas as redes receberam os dados do Ideb preliminarmente, com período definido para conferência e correção de eventuais inconsistências identificadas".

Coordenador da Confederação Nacional das Associações de Pais de Alunos, Luis Claudio Megiorin diz que a informação de que as Escolas particulares não sabiam qual era a meta do Ideb não procede.

- É impossível, há representantes das Escolas particulares no Fórum Nacional de Educação, onde está também o MEC. É o mesmo que o Aluno dizer que não sabia que tinha prova - afirma Megiorin, dizendo ser "preocupante" o resultado da rede privada e lembrando que a confederação pediu ao Inep que o Ideb passasse a ser para toda a rede, e não por amostragem.

Responsável pela criação do Ideb quando foi presidente do Inep, o Professor de Economia da USP Reynaldo Fernandes também defende que a rede privada deixe de ser avaliada apenas por amostragem:

- Não porque haja problemas com o diagnóstico por amostragem. Mas, expandindo, teríamos o resultado por Escola, e talvez elas se preocupassem em melhorar - diz Fernandes, que atribui o desempenho abaixo do esperado à dificuldade de se avançar quando o resultado já é bom: - Não é que haja um limite, mas tanto as Escolas públicas que já tinham bom resultado quanto as privadas estão tendo dificuldade de continuar se aperfeiçoando.

Escolas em áreas de violência ou pacificadas avançam no Ideb

Instituições inseridas no programa Escolas do Amanhã tiveram índices melhores que em 2009

Localizadas em áreas de violência conflagrada ou pacificadas, as Escolas do Amanhã, da prefeitura do Rio, acompanharam o avanço da rede municipal de ensino no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011. Nos anos finais, do 6º ao 9º ano, houve um crescimento de 32% em relação à avaliação anterior, subindo de uma média de 3,1 em 2009 para 4 em 2011. Já no primeiro segmento, do 1º ao 5º ano, o aumento foi de 8%, passando da média de 4,6 para 5. Dentro do Escolas do Amanhã, o Ciep Pablo Neruda, na Taquara, é o segundo mais bem colocado no município e está entre as cinco melhores escolas do Brasil. Apesar das melhorias, o índice das escolas que integram o programa ficou abaixo do município, que foi de 4,4 nos anos finais e 5,4 nos anos iniciais.

A secretrária municipal de Educação, Claudia Costin, considera natural o desempenho mais baixo.

— Essas escolas funcionam onde há ou houve, por muito tempo, grandes tiroteios. Onde os alunos precisam abandonar a escola porque são recrutados para trabalhar com o tráfico. É um trabalho muito corajoso, por isso esses avanços são muito importantes — disse, em entrevista coletiva para a imprensa.

O Escolas do Amanhã, criado em 2009, tem como objetivo reduzir a evasão escolar e melhorar o desempenho de alunos que vivem em áreas de violência. Atualmente o programa funciona em 152 escolas do município. Segundo dados da Secretaria Municipal de Educação, a taxa de evasão nesses colégios caiu de 5,1% em 2008 — quando ainda não faziam parte do programa — para 3,2% em 2011.

— O grande diferencial do programa é prover um ensino diferenciado, em tempo integral, com uma metodologia mais dinâmica e que trabalhe o bloqueio de crianças que sofrem com uma superexposição à violência. Também temos profissionais capacitados para a mediação de conflitos — explicou.

Claudia Costin anunciou também que todos os funcionários dos colégios que bateram as metas do Ideb 2011 vão receber uma bonificação em dinheiro. O prêmio será de 1,5 salários mínimos para as instituições do programa Escolas do Amanhã e de 1 salário mínimo para o restante das escolas da rede. Segundo a secretária, 58% das 856 escolas que fizeram a prova vão receber o bônus.

Ginásios experimentais se destacam

O programa Ginásio Experimental Carioca (GEC), que atende alunos do 7º ao 9º ano, teve destaque no Ideb. Das dez melhores escolas de segundo segmento, quatro são do GEC. Além disso, os dez ginásios implantados atingiram as metas de melhoria da aprendizagem e receberão o prêmio de desempenho.

Os alunos dos GECs estudam em horário integral e assistem a mais tempos de aulas de português, matemática, ciências e inglês. Além disso, a metodologia de ensino é direcionada aos adolescentes e conta com a figura do professor polivalente, que é responsável por todas as aulas de humanas ou exatas.

- Criamos os GECs em dez escolas medianas do município, que não estavam nem entre as 50 primeiras do Ideb 2009, e o resultado foi surpreendente. A Orsina da Fonseca, na Tijuca, teve um crescimento de 94% - disse Claudia Costin.



O que aprender com os dados?

*Denis Mizne e Ernesto Faria

Os resultados do Ideb 2011, felizmente e infelizmente, foram os esperados.

Felizmente, pois se espera que a avaliação seja um reflexo da Educação pública do país, e, sem mudanças estruturais no período, não eram esperados resultados muito diferentes. Essa coerência com a realidade é muito importante para a legitimidade da avaliação e o fortalecimento da cultura de avaliar.

Mas, infelizmente, os resultados revelam que, na média, o nível de proficiência dos Alunos segue bem baixo e que, nos anos finais do Ensino fundamental e no Ensino médio, quase não evoluímos. Apontam também que o cenário de baixa equidade dos resultados persiste. Salvo honrosas exceções, as Escolas que concentram Alunos de baixo nível socioeconômico têm desempenho muito inferior às que atendem Alunos mais ricos.

O pequeno avanço nos anos finais do Ensino fundamental (aumento de 0,05 em proficiência na rede pública) e a estagnação do Ensino médio (queda de 0,02 em proficiência na rede pública) indicam que é preciso dar atenção a esses ciclos. Recebendo Alunos com grandes déficits de aprendizagem, nenhum dos dois tem conseguido agregar muito aos Alunos.

Já em relação à baixa equidade, é importante gerar incentivos para que Alunos com nível socioeconômico mais baixo tenham condições para atingir um nível de aprendizado adequado, como, por exemplo, alocar os melhores Professores para esses Alunos e garantir momentos de reforço Escolar.

O país tem agora o seu quarto resultado de avaliação da Prova Brasil. Os problemas macro já são bem conhecidos. O importante é aproveitar o diagnóstico detalhado trazido por uma avaliação feita em mais de cinco mil municípios e cerca de 70 mil Escolas para fazer análises mais complexas e avançar.

Editorial: Avanços na Educação do Rio ainda são insuficientes

Numa visão geral, o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb), do ano passado, mostra o país voltado para a direção correta, mas com problemas de velocidade e ritmo.

Há bons resultados, sem dúvida. A cidade e o Estado do Rio de Janeiro conquistaram alguns deles. A rede fluminense emite sinais de que o secretário Wilson Risolia, apesar das resistências de origem sindical, avança no projeto de modernizar a estrutura estadual. De um Ideb estagnado em 2,8 nos três levantamentos anteriores, um dos mais baixos do país, o estado alcançou, em 2011, no Ensino médio, o nível de 3,2, pouco acima da meta de 3,1. O avanço de 0,4 ponto foi o segundo maior do país, superado apenas por Goiás, embora seja o pior rendimento do Sudeste e o 15º do país.

Na cidade do Rio, cuja estrutura de Ensino é melhor, o destaque foi a avaliação dos Alunos nas séries finais do Ensino fundamental, em que o município obteve o maior crescimento da Federação: de 3,6 para 4,4, quinta melhor nota do ranking nacional. A secretária Cláudia Costin tem colhido bons resultados, a partir de uma política de reordenamento gerencial da rede, na qual se destacam o fim da aprovação automática - forma de mascarar o mau rendimento do Aluno e, por tabela, do Professor -, a execução de programas de reAlfabetização, para acabar com o Analfabetismo funcional, e eliminação da defasagem entre a idade do estudante e a série em que está matriculado, por meio de aulas suplementares. Nas séries iniciais do Ensino fundamental, o Ideb do município subiu de 5,1 para 5,4 e colocou a cidade como a sexta de melhor índice (abaixo de Florianópolis, Curitiba, Palmas, Campo Grande e Belo Horizonte).

O Rio, estado e cidade, precisa avançar mais, e com rapidez, na Educação, setor que deve ser quase tão prioritário quanto a Segurança. Por sinal, atividades que se interconectam, porque uma Escola eficiente é salvaguarda para afastar jovens e crianças da criminalidade.

No quadro nacional, o Ideb confirma que a qualidade do Ensino básico melhora: nas séries iniciais do ciclo fundamental, a meta, definida para as redes pública e privada, era de 4,6, e o Ideb foi de 5. Na parte final, a meta de 3,9 foi ultrapassada em 0,2 ponto, pelo Ideb de 4,1. No médio como um todo, o alvo de 3,7 terminou atingido.

A má notícia trazida pelo Ideb-2011 é que o rendimento do Aluno cai à medida que ele chega ao Ensino médio, e durante toda esta parte final do Ensino básico. O Ensino médio aparece neste Ideb como uma espécie de buraco negro da Educação brasileira. Neste ciclo, o avanço, no país, foi de ínfimo 0,3 ponto entre 2005 e 2011.

O Ensino médio parece requerer uma terapia específica, diante não só destes índices, mas também da grande evasão nele verificada. Não surpreendem as reclamações sobre a má qualificação da mão de obra que chega ao mercado de trabalho. Mais um dever de casa para governos e sociedade.

Fonte: O Globo 16/08/2012



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