sábado, 23 de março de 2013

Currículo Escolar e a Comunicação como Base para a Formação Educativa



Patrícia Edí Ramos


            Esse texto elenca uma breve reflexão sobre o currículo escolar na visão de Carlos Eduardo Ferraço e também sobre a práxis do educador com o educando e vice-versa na visão de Paulo Freire. Nosso objetivo aqui vai além da busca de tentar entende o currículo escolar, mas também nos propomos repensar e discutir o que confere sentido e significado à comunicação visto que esta é a base para a formação educativa.
Em relação ao que se entende por currículo escolar nos atentamos para aquilo que Ferraço traz no texto Possibilidades para Entender o Currículo Escolar, em que o autor vem discutir sobre o fato de se associar o currículo escolar a um manual, uma receita ou mesmo uma prescrição, no qual há uma proposta prescrita com conteúdos e metodologias a serem seguidas, como se o currículo fosse um percurso ou trajetória a ser realizado. Assim segundo o autor, o currículo é visto como algo que se implanta sobre as pessoas, onde se tem o dever de formar sujeitos de acordo com o que está proposto no papel.
            Visto por este lado o autor Gimeno Sacristán (1995) defende a ideia de que a cultura escolar é muito mais do que conteúdos proposto em um papel, para o autor currículo escolar é uma análise do que realmente encontramos dentro do ambiente escolar, sendo de caráter cultural e social, visando sempre à melhoria das decisões educativas, por isso, quando falamos de currículo temos que pensar na realidade escolar, na multiplicidade cultural que vivenciamos na escola, pois é pensando nas diferenças que se consegue planejar e implantar o currículo escolar de forma ampla ou restrita, pois este deve abranger todas as atividades desenvolvidas dentro da escola.
 Enquanto projeto, o currículo é um guia para os encarregados de seu desenvolvimento, um instrumento útil para orientar a prática pedagógica, uma ajuda para o professor, no entanto devemos entender que o currículo não é apenas uma prática pedagógica, mas sim uma série de ações.
O currículo não se trata de algo pronto e acabado, mas de algo a ser construído no dia-a-dia da escola, com a participação ativa de todos os interessados na atividade educacional, onde se valoriza o processo de vivência dos sujeitos, estando em constante mudança, portanto é imprescindível assegurar que os verdadeiros protagonistas assumam seus papéis e participem de forma direta e efetiva na construção e nas discussões acerca do currículo escolar.
 É pensando nas escolas, em seus sujeitos e em toda complexidade do campo educacional, que temos que redirecionar nossos olhares para destacar tudo aquilo que tem sido realizado no ambiente escolar, analisar a forma que tem sido feito e principalmente porque tem sido realizado, qual o objetivo desta prática ou mesmo deste projeto?
 Todas essas indagações proporcionam que a escola se envolva de forma efetiva com o currículo escolar e a assim a partir de discussões que geram novas ideias e troca de experiências é possível recriar e reinventar a cada dia a sala de aula, ou melhor, a escola. É através da prática do conhecimento construído, isto é, partilhado em que ocorre a partilha dos conteúdos, das experiências e também das novas ideias, expondo-os a críticas e a divergências que acabam por enriquecer a pesquisa de todos envolvidos. É a partir dessa prática que a educação é concebida como um ato político e de comunicação, pois comunicação é educação, é dialogo, “na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (Freire, 2001, p. 65).
É com esse olhar sobre o currículo escolar que devemos refletir sobre o momento que estamos vivenciando na educação, se pararmos alguns minutos para pensar em como era a educação a cem anos atrás em termos da prática pedagógica e pensarmos em como ela é atualmente, talvez possamos entender porque nossos alunos estão sempre cansados e entediados do cotidiano escolar.
Atualmente o aluno não se contenta mais com o rigor e o formalismo educacional, sentem se fadigados da mesmice, aonde todos os dias vão para sala de aula, sentam se em fileiras alinhadas, abrem o livro didático leem ou copiam conteúdo e ouve o professor explicar, muitas vezes leem textos didáticos e interpreta a partir daquilo que o autor propõe no próprio texto, sem que haja muitas vezes nenhuma contribuição do leitor que pode atribuir sentido ao texto a partir de sua própria trajetória sociocultural e seu mundo interior.
Com toda a tecnologia disponível é preciso que a escola esteja atualizada quanto aos fatos do mundo, que o professor torne o conteúdo mais atraente aos jovens, pois os alunos de agora não são os mesmo de vinte anos atrás, o aluno que temos em sala de aula hoje é muito mais prático e informado, não aceitam mais a prática do decorar.
Não é mais necessário que o professor seja o dono da verdade, que saiba tudo e tenha a resposta na ponta da língua, até porque na era da informação, isso se tornou impossível, aluno e professor tem que andar juntos de mãos dadas, ser uma equipe em busca do conhecimento e do aprendizado, ambos compartilham do mesmo interesse e objetivo que é aprender, então porque não o professor fazer uso de uma postura desarmada e aberta? Em que se torna muito mais fácil à relação aluno professor. Em relação e esse ato Paulo Freire, afirma:
 No momento em que o educador “bancário” vivesse a superação da contradição já não seria “bancário”. Já não faria depósitos. Já não tentaria domesticar. Já não prescreveria. Saber com os educandos, enquanto estes soubessem com ele, seria a sua tarefa. Já não estaria a serviço da desumanização. A serviço da opressão, mas a serviço da libertação. (Freire, 1987, p. 62).
A nosso ver o grande desafio dos educadores é justamente abandonar a situação de liderança, e passar a ser um agente transformador, crítico e reflexivo, transformando a escola em um ambiente em que a educação sirva para auxiliar no processo de transformação e de mudança. E não mais um local onde se disserte sobre conteúdos que nada tem a ver com os anseios e necessidades de uma sociedade. No entanto para que haja comunicação entre educador e educando é preciso que se estabeleçam de comum acordo conteúdos a serem trabalhados, e todo esse processo só é possível mediante uma metodologia libertadora, em que escola e aluno trabalhem juntos no processo do aprendizado, aluno aprendendo com a escola e vice-versa, essa situação hoje é totalmente possível graças à tecnologia que tomou conta do dia-a-dia de todos e principalmente dos alunos, que são grandes conhecedores dos equipamentos de informação e comunicação e cabe à escola redirecionar este conhecimento para um bom aprendizado, pois segundo Freire (1987, p. 38), é a práxis do educador com os educandos e vice-versa que cria o significado emancipador e não a tecnologia por si mesma, portanto é a ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo.  
A esse respeito os autores Paulo Freire e Shor afirmam, em seu livro Medo e Ousadia, que:
O educador libertador tem que estar atento para o fato de que a transformação não é só uma questão de métodos e técnicas. Se a educação libertadora fosse somente uma questão de métodos, então o problema seriam algumas metodologias tradicionais por outras mais modernas, mas não é esse o problema. A questão é o estabelecimento de uma relação diferente com o conhecimento e com a sociedade (Freire e Shor, 1993, p. 48).
            É pensando no ensino onde haja uma participação efetiva que se tornará possível uma aprendizagem concisa, pois ao vivenciarmos a prática do ensino-aprendizagem nas escolas nos deparamos com um lugar em permanente atualização, onde os sujeitos recriam e reinventam a cada dia, e é a partir de discussões em torno do currículo escolar que escola e aluno caminharam para uma educação transformadora, em que a cada dia ocorra à possibilidade de ambos aprenderem um com o outro, não esquecendo que os olhos do autor Ferraço estão voltados para os fazeres e saberes dos praticantes do cotidiano, que a escola seja um lugar onde se pratique currículos que não se deixem aprisionar a todo o momento por identidades culturais ou políticas, pois segundo o autor pensar o currículo de uma escola pressupõe viver seu cotidiano, incluindo se assim toda uma dinâmica das relações estabelecidas.



Referencial Bibliográfico

FERRAÇO, C. E. Currículos e Conhecimento em Rede. In: ALVES, N.; GARCIA, R. L. (Orgs.). O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
_______ (Org.). Cotidiano escolar, formação de professores (as) e currículo. São Paulo: Cortez, 2005.
FREIRE, P. 1987. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
________. 2001ª. Extensão ou Comunicação? 11ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
FREIRE, P.; SHOR, I.1993. Medo e Ousadia. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
GIMENO SACRISTÁN, J. Currículo e Diversidade Cultural. In: SILVA, T. T.; MOREIRA, A. F. (Orgs.). Territórios contestados. Petrópolis: Vozes, 1995.

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