Patrícia Edí Ramos
Esse
texto elenca uma breve reflexão sobre o currículo escolar na visão de
Carlos Eduardo Ferraço e também sobre a práxis do educador com o
educando e vice-versa na visão de Paulo Freire. Nosso objetivo aqui vai
além da busca de tentar entende o currículo escolar, mas também nos
propomos repensar e discutir o que confere sentido e significado à
comunicação visto que esta é a base para a formação educativa.
Em relação ao que se entende por currículo escolar nos atentamos para aquilo que Ferraço traz no texto Possibilidades para Entender o Currículo Escolar,
em que o autor vem discutir sobre o fato de se associar o currículo
escolar a um manual, uma receita ou mesmo uma prescrição, no qual há uma
proposta prescrita com conteúdos e metodologias a serem seguidas, como
se o currículo fosse um percurso ou trajetória a ser realizado. Assim
segundo o autor, o currículo é visto como algo que se implanta sobre as
pessoas, onde se tem o dever de formar sujeitos de acordo com o que está
proposto no papel.
Visto
por este lado o autor Gimeno Sacristán (1995) defende a ideia de que a
cultura escolar é muito mais do que conteúdos proposto em um papel, para
o autor currículo escolar é uma análise do que realmente encontramos
dentro do ambiente escolar, sendo de caráter cultural e social, visando
sempre à melhoria das decisões educativas, por isso, quando falamos de
currículo temos que pensar na realidade escolar, na multiplicidade
cultural que vivenciamos na escola, pois é pensando nas diferenças que
se consegue planejar e implantar o currículo escolar de forma ampla ou
restrita, pois este deve abranger todas as atividades desenvolvidas
dentro da escola.
Enquanto
projeto, o currículo é um guia para os encarregados de seu
desenvolvimento, um instrumento útil para orientar a prática pedagógica,
uma ajuda para o professor, no entanto devemos entender que o currículo
não é apenas uma prática pedagógica, mas sim uma série de ações.
O
currículo não se trata de algo pronto e acabado, mas de algo a ser
construído no dia-a-dia da escola, com a participação ativa de todos os
interessados na atividade educacional, onde se valoriza o processo de
vivência dos sujeitos, estando em constante mudança, portanto é
imprescindível assegurar que os verdadeiros protagonistas assumam seus
papéis e participem de forma direta e efetiva na construção e nas
discussões acerca do currículo escolar.
É
pensando nas escolas, em seus sujeitos e em toda complexidade do campo
educacional, que temos que redirecionar nossos olhares para destacar
tudo aquilo que tem sido realizado no ambiente escolar, analisar a forma
que tem sido feito e principalmente porque tem sido realizado, qual o
objetivo desta prática ou mesmo deste projeto?
Todas
essas indagações proporcionam que a escola se envolva de forma efetiva
com o currículo escolar e a assim a partir de discussões que geram novas
ideias e troca de experiências é possível recriar e reinventar a cada
dia a sala de aula, ou melhor, a escola. É através da prática do
conhecimento construído, isto é, partilhado em que ocorre a partilha dos
conteúdos, das experiências e também das novas ideias, expondo-os a
críticas e a divergências que acabam por enriquecer a pesquisa de todos
envolvidos. É a partir dessa prática que a educação é concebida como um
ato político e de comunicação, pois comunicação é educação, é dialogo,
“na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de
sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados”
(Freire, 2001, p. 65).
É
com esse olhar sobre o currículo escolar que devemos refletir sobre o
momento que estamos vivenciando na educação, se pararmos alguns minutos
para pensar em como era a educação a cem anos atrás em termos da prática
pedagógica e pensarmos em como ela é atualmente, talvez possamos
entender porque nossos alunos estão sempre cansados e entediados do
cotidiano escolar.
Atualmente
o aluno não se contenta mais com o rigor e o formalismo educacional,
sentem se fadigados da mesmice, aonde todos os dias vão para sala de
aula, sentam se em fileiras alinhadas, abrem o livro didático leem ou
copiam conteúdo e ouve o professor explicar, muitas vezes leem textos
didáticos e interpreta a partir daquilo que o autor propõe no próprio
texto, sem que haja muitas vezes nenhuma contribuição do leitor que pode
atribuir sentido ao texto a partir de sua própria trajetória
sociocultural e seu mundo interior.
Com
toda a tecnologia disponível é preciso que a escola esteja atualizada
quanto aos fatos do mundo, que o professor torne o conteúdo mais
atraente aos jovens, pois os alunos de agora não são os mesmo de vinte
anos atrás, o aluno que temos em sala de aula hoje é muito mais prático e
informado, não aceitam mais a prática do decorar.
Não
é mais necessário que o professor seja o dono da verdade, que saiba
tudo e tenha a resposta na ponta da língua, até porque na era da
informação, isso se tornou impossível, aluno e professor tem que andar
juntos de mãos dadas, ser uma equipe em busca do conhecimento e do
aprendizado, ambos compartilham do mesmo interesse e objetivo que é
aprender, então porque não o professor fazer uso de uma postura
desarmada e aberta? Em que se torna muito mais fácil à relação aluno
professor. Em relação e esse ato Paulo Freire, afirma:
No
momento em que o educador “bancário” vivesse a superação da contradição
já não seria “bancário”. Já não faria depósitos. Já não tentaria
domesticar. Já não prescreveria. Saber com os educandos, enquanto estes
soubessem com ele, seria a sua tarefa. Já não estaria a serviço da
desumanização. A serviço da opressão, mas a serviço da libertação.
(Freire, 1987, p. 62).
A
nosso ver o grande desafio dos educadores é justamente abandonar a
situação de liderança, e passar a ser um agente transformador, crítico e
reflexivo, transformando a escola em um ambiente em que a educação
sirva para auxiliar no processo de transformação e de mudança. E não
mais um local onde se disserte sobre conteúdos que nada tem a ver com os
anseios e necessidades de uma sociedade. No entanto para que haja
comunicação entre educador e educando é preciso que se estabeleçam de
comum acordo conteúdos a serem trabalhados, e todo esse processo só é
possível mediante uma metodologia libertadora, em que escola e aluno
trabalhem juntos no processo do aprendizado, aluno aprendendo com a
escola e vice-versa, essa situação hoje é totalmente possível graças à
tecnologia que tomou conta do dia-a-dia de todos e principalmente dos
alunos, que são grandes conhecedores dos equipamentos de informação e
comunicação e cabe à escola redirecionar este conhecimento para um bom
aprendizado, pois segundo Freire (1987, p. 38), é a práxis do educador
com os educandos e vice-versa que cria o significado emancipador e não a
tecnologia por si mesma, portanto é a ação dos homens sobre o mundo
para transformá-lo.
A esse respeito os autores Paulo Freire e Shor afirmam, em seu livro Medo e Ousadia, que:
O
educador libertador tem que estar atento para o fato de que a
transformação não é só uma questão de métodos e técnicas. Se a educação
libertadora fosse somente uma questão de métodos, então o problema
seriam algumas metodologias tradicionais por outras mais modernas, mas
não é esse o problema. A questão é o estabelecimento de uma relação
diferente com o conhecimento e com a sociedade (Freire e Shor, 1993, p.
48).
É
pensando no ensino onde haja uma participação efetiva que se tornará
possível uma aprendizagem concisa, pois ao vivenciarmos a prática do
ensino-aprendizagem nas escolas nos deparamos com um lugar em permanente
atualização, onde os sujeitos recriam e reinventam a cada dia, e é a
partir de discussões em torno do currículo escolar que escola e aluno
caminharam para uma educação transformadora, em que a cada dia ocorra à
possibilidade de ambos aprenderem um com o outro, não esquecendo que os
olhos do autor Ferraço estão voltados para os fazeres e saberes dos
praticantes do cotidiano, que a escola seja um lugar onde se pratique
currículos que não se deixem aprisionar a todo o momento por identidades
culturais ou políticas, pois segundo o autor pensar o currículo de uma
escola pressupõe viver seu cotidiano, incluindo se assim toda uma
dinâmica das relações estabelecidas.
Referencial Bibliográfico
FERRAÇO,
C. E. Currículos e Conhecimento em Rede. In: ALVES, N.; GARCIA, R. L.
(Orgs.). O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
_______ (Org.). Cotidiano escolar, formação de professores (as) e currículo. São Paulo: Cortez, 2005.
FREIRE, P. 1987. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
________. 2001ª. Extensão ou Comunicação? 11ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
FREIRE, P.; SHOR, I.1993. Medo e Ousadia. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
GIMENO
SACRISTÁN, J. Currículo e Diversidade Cultural. In: SILVA, T. T.;
MOREIRA, A. F. (Orgs.). Territórios contestados. Petrópolis: Vozes,
1995.
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