ELIDIANE DE BRITO PAGLIUCA[1]
RESUMO
Este
trabalho tem por objetivo discutir as questões que permeiam o cotidiano
escolar do professor alfabetizador, com ênfase nos desafios enfrentados
em sala de aula por esse profissional, pois muitas vezes o
alfabetizador se depara com obstáculos que limitam seu trabalho e
retardam o processo de ensino aprendizagem dos alunos. Realizou-se uma
pesquisa bibliográfica considerando as contribuições teóricas de autores
como:Cambi (1999), Ferreiro (1985), Lemle (1988),Nérici
(1972), Piaget (1977), Poerch (1990).Constatando que alguns dos
desafios enfrentados pelo alfabetizador são a pouca formação focada na
alfabetização, a falta de participação dos pais na vida escolar dos
filhos e a o alto índice de indisciplina presente na sala de aula.
Mediante estes resultados concluiu-se que para superar os desafios
propostos o educador deve agir em conjunto com a comunidade escolar e
com os pais para rever ações e criar outras no intuito de oferecer uma
educação qualitativa ao aluno.
Palavras – chave: Desafios. Professor alfabetizador. Sala de aula.
Introdução
O
presente trabalho tem como papel analisar as dificuldades do professor
alfabetizador em sala de aula, já que nos dias atuais a sociedade tem
atribuído ao professor a grande responsabilidade sanar as carências
intelectuais dos alunos e evitar que estas sejam futuros analfabetos
funcionais. Nesta busca constante por novos métodos e práticas
pedagógicas o professor tem visto a alfabetização como uma fase
distinta, que requer mais conhecimentos específicos na área.
Nesta
perspectiva, construiu-se questões que nortearam este trabalho, tais
como:Quais os desafios que dificultam o fazer pedagógico do professor
alfabetizador?Por que o professor alfabetizador se encontra tão tenso na atualidade em relação à sua práxis pedagógica?
Falar
de alfabetização é um tanto complexo até mesmo pela diversidade de
métodos utilizados, e ainda devido às dificuldades deaprendizagem dos
alunos, reprovações e evasão escolar. Assim, a alfabetização
caracteriza-se por uma fase muito importante no desenvolvimento do
aluno, sendo a base para conhecimentos futuros. Segundo o
dicionárioAurélio alfabetizar é ensinar a ler e a escrever oudar
instrução primária, sabemos que alfabetizar vai muito além de ensinar a
ler e escrever, nesta tarefa a linguagem é uma fiel aliada dos
educadores neste processo de ensino/aprendizagem.
A
linguagem é uma área importante na aquisição da leitura e escrita, pois
ela permite que o homem estabeleça uma comunicação intersubjetiva, ou
seja, estabeleça a troca e o diálogo. Assim ele amplia seu vocabulário e
elabora novas hipóteses silábicas. Muitos estudos afirmam que o sujeito
se constitui em dois momentos, primeiro no social e depois no
individual numa apropriação ativa e constante. Na escola esse processo
ocorre de forma contínua, remetendo ao educador um papel importante como
mediador do processo da aquisição da leitura e escrita, com
intervenções pedagógicas coerentes, já que os conhecimentos resultam da
pluralidade de sentidos e significações compartilhadas no coletivo, que
aos poucos vão sendo produzidos. Conforme Lemle:
È
claro que, além dos conhecimentos básicos, o alfabetizador precisa de
outros dons para se sair bem. Ele deve ter respeito pelos alunos, evitar
o papel de cúmplice de um sistema interessado em manter esmagada uma
grande parte do seu povo, confiar na capacidade de desenvolvimento dos
alunos e ter criatividade, inventividade, iniciativa, combatividade e fé
em sua capacidade de tornar este mundo melhor.
(LEMLE, 1988, p.6)
Contudo
grandes são os anseios do alfabetizador em favor de uma educação
qualitativa e igualitária, que ofereça oportunidades para o educando
avançar rumo à conhecimentos significativos, que inclua o aluno na
cultura grafocêntrica (cultura centrada na escrita)e
não exclua. Por esta e outras atribuições que o professor alfabetizador
se encontra apreensivo diante de tamanha responsabilidade no cenário
educacional.
Diante
de tantos desafios, é visível a fuga dos professores das séries
iniciais das salas de alfabetização, assim poucos encaram e adquirem
experiências metodológico-pedagógicas para enriquecer o universo da
alfabetização.
Para
alcançar os objetivos propostos, este estudo utilizou-se como
metodologia a pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo. Mediante
revisão bibliográfica, compilando estudos sobre obras que trazem em seu bojo informações e definições relevantes ao desdobramento do trabalho.
O estudo foi ancorado nas idéias e concepções de autores como: Cambi (1999), Ferreiro (1985), Lemle (1988), Nérici (1972), Piaget (1977), Poerch (1990).
Desenvolvimento
A
alfabetização é uma fase distinta, cheia de novas experiências e
sensações em que o aluno se depara ao chegar à escola, para aqueles que
não freqüentavam a Educação Infantil, é o primeiro contato com a
educação formalizada. Durante muito tempo a alfabetização foi vista como
a mera aquisição do código escrito, que formava alunos para as fases
seguintes.
Nos
anos 70 e 80 o elevado índice de analfabetismo, a repetência e a evasão
escolar estimularam a busca por novas formas de conceber e direcionar o
trabalho educativo na alfabetização e os conceitos equivocados foram
aos poucossuperados. Conforme Cambi (1999):
A
partir dos anos 80 e sucessivamente até hoje, a pedagogia foi
atravessada por um feixe de “novas emergências”, novas exigências e
novas fórmulas educativas, novos sujeitos dos processos
formativos/educativos e novas orientações políticos culturais.
(CAMBI, 1999, p.638)
Esses
novos tempos foram marcados por reflexões acerca do individuo como
ponto de partida para a construção de novos conhecimentos. O quadro
educacional passou por grandes mudanças devido ao novo modo construir
conhecimentos, alinhados aos acontecimentos atuais com foco na
particularidade do aluno. Portanto, na alfabetização a ação educativa do
professor também sofreu esta influencia, com a utilização de temas
atuais com ênfase na formação intelectual e social do aluno.
Essa mudança no cenário educacional se deu também devido aos estudos
sobre a psicogênese da aquisição da língua escrita, com as
contribuições de Emilia Ferreiro & Ana Teberosky (1985) que
enfatizava que a alfabetização não era a mera codificação e
decodificação do sistema lingüístico, mas se caracterizava como um
processo ativo em que a criança em contato com a cultura escrita ia aos
poucos (re) construindohipóteses sobre a língua escrita, até chegar à
escrita convencional, como nos afirma Ferreiro (1985):
Nossa
visão atual do processo é radicalmente diferente: no lugar de uma
criança que espera passivamenteo reforço externo de uma resposta
produzida pouco menos que ao acaso, aparece uma criança que procura
ativamente compreender a natureza da linguagem que se fala à sua volta, e
que, tratando de compreendê-la, formula hipóteses, busca regularidades,
coloca à prova suas antecipações e cria sua própria gramática (que não é
simples cópia deformada do modelo adulto, mas sim criação
original).(FERREIRO, 1985, p. 22)
De
acordo com esses estudos o professor terá a função de mediar este
processo, e propor desafios por meio de atividades planejadas com
intencionalidade pedagógica. Assim, aos poucoso educando faránovas
descobertas e (re) construirá hipóteses. Por isso, o estímulo visual com o uso de diferentes gêneros textuais é imprescindível nessa etapa.
No
contexto da alfabetização o professor é muito importante, porém em
muitos casos esse profissional nem sempre está habilitado para executar
tal tarefa, pois, visto quemuitos
não obtiveram uma boa formação e nem sabem quais são as etapas do
processo de construção da escrita. Como esse profissional irá conduzir
esse processo, se nem compreende como ele se dá?
A implantação de ações que tragam um bom suporte teórico/pedagógico para esses profissionais são urgentes no meio educacional, pois muitos
estão “grudados” nos livros didáticos por medo de ousar e errar.É
preciso que ocorram novas mudanças no fazer educativo com ênfase nas
práxis pedagógica, ação – reflexão – ação de sua prática educativa
atrelada à teoria. Considerando que esses professores terão mais
dificuldades para alfabetizar seus alunos e ainda poderá desencadear
nesses alunos dificuldades de leitura e escrita ao longo de sua vida
escolar.
O
alfabetizador é um profissional do ensino de línguas e, como tal, além
do domínio e das técnicas pedagógicas deve possuir sólidos conhecimentos
lingüísticos tanto da língua, enquanto meio de comunicação, quanto
sobre a língua, enquanto objeto de análise. (POERSCH, 1990, p. 37)
Na
verdade o professor que está inserido em sala de aula tem o dever de
oferecer uma educação de qualidade, e isso requer formação e competência
para desenvolver um trabalho satisfatório. É visível também em alguns
professores a falta de interesse por novos conhecimentos, pela busca
pessoal de novas ferramentas pedagógicas em sala de aula para
aperfeiçoar seu trabalho. Portanto o alfabetizador será o agente que
estimulará as descobertas da língua escrita até chegar à escrita
convencional.
Outro
desafio bem pertinente é a falta de apoio e acompanhamento dos pais na
vida escolar dos filhos, o professor se depara sozinho nesta missão de
alfabetizar a qualquer custo. Um fator bem interessante é que os pais
atribuem ao professor a culpa do fracasso escolar do filho, assim se
estabelece no seio escolar a “briga”histórica entre Escola X família.
O
abandono escolar de alguns pais é revoltante, pois esse cenário é
visível com muita freqüência no meio escolar, pois muitos alunos vão e
voltam com as tarefas em branco, chegam à sala de aula desmotivados,
sendo que muitas vezes necessitam de estímulos exteriores para a
construção de aprendizagens e não encontram. Essa é a realidade em
muitas salas de aula, pais negligentes e omissos em reuniões escolares,
datas comemorativas e outros eventos que favorecem a interação
escola/família.
A
legislação é bem clara e específica quanto às atribuições da família e
do Estado, a Constituição Federal, em seu artigo 205, afirma que“a
educação é direito de todos e dever do Estado e da família”. A educação
informal é obrigação da família e formal do Estado, por isso as duas
instituições devem sempre estar em constante sintonia para priorizar uma
boa educação. Sobre essa relação Nérici (1972) salienta que:
A
educação deve orientar a formação do homem para ele poder ser o que é,
da melhorforma possível, sem mistificações, sem deformações, em sentido
de aceitação social. Assim, a ação educativa deve incidir sobre a
realidade pessoal do educando, tendo emvista explicitar suas
possibilidades, em função das autênticas necessidades das pessoas e da
sociedade. (NÉRICI, 1972,p.12)
Nesta
perspectiva entendemos que escola e família se complementam na tarefa
da formação social da criança, se uma das duas se omite quanto à sua
atribuição o processo de ensino/aprendizagem fica prejudicado. Nesta
perspectiva Nérici (1972) considera que a influência da família é básica
e fundamental no processo educativo do imaturo e nenhuma outra
instituição está em condições de substituí-la. Embora
muitas vezes o trabalho ou a falta de tempo são algumas justificativas
para essa ausência, considera-se que essas “desculpas” futuramente não
irão sanar as carências intelectuais, afetivas e sociais que poderão
aflorar no aluno.
Outro
desafio notável presente na sala do alfabetizador é a indisciplina dos
alunos durante as atividades diárias propostas pelo professor, a falta
de interesse e a falta de otimismo para conquistar uma vida futura
próspera está cada vez mais distantes dos nossos alunos. Falta amor pela
busca do conhecimento, pois para a grande maioria dos alunos a
atividade estudar é fatigante e obrigatório.
Uma
boa parcela da aula é reservada para advertir os alunos
indisciplinados, que muitas vezes até lançam “palavrões” pejorativos
contra o professor e os outros alunos. Nesta perspectiva nota-se que
cada vez está mais difícil estabelecer regras para ordenamento e coerção
desses alunos. De acordo com Piaget (1977,
p.7) “toda moral é um sistema de regras e a essência de toda moralidade
consiste norespeito que o indivíduo sente por tais regras".
Por
isso mais uma vez o professor entra em ação na busca constante de meios
que estabeleçam regras de convivência e de respeito ao próximo,
priorizando a cidadania. Cabe ao educador usar ferramentas dinâmicas e
eficazes para uma boa sintonia entre os aspectos intelectuais/sociais.
Essa tarefa faz parte da interdisplinaridade vivenciada em sala de aula
com os múltiplos usos dos eixos de formação humana propostos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais que considera o aluno em sua
totalidade, e não fragmentado.
Estes
são alguns desafios que tem afrontado o professor alfabetizador em seu
fazer educativo, que causam angústias, dificuldades e sofreres. Que dia a
dia o conduz à ação/reflexão/ação de sua prática pedagógica na busca de
soluções para transformar esse cenário frustrante do contexto
educacional. Como medidas
paliativas o educador “consciente” busca conhecimentos diversificados
mediante cursos de formação continuada, leituras de temas diversificados
para enriquecer e aperfeiçoar sua ação educativa.
Conclusão
Diante
deste estudo, concluiu-se que a tarefa do professor alfabetizadoré
árdua, pelas grandes dificuldades enfrentadas no cotidiano escolar,
afinal é o alfabetizador quem irá abrir as janelas da leitura e da
escrita para educando avançar rumo às novas aprendizagens. Segundo
algumas raízes teóricas é oeducador deve oferecer condições ao educando
para a construção da leitura e da escrita no contexto escolar.
Deve-se
se descartar a concepção errônea de que o aluno deve ser fruto de uma
educação bancária, e incluir nas práticas educativas metas em prol deuma
educação com sentido de construção não só de conhecimentos científicos,
mas de significados, valores e cidadania no dia a dia escolar. Faz-se
necessário repensar a educação com foco nas relações interpessoais,
oferecendo ao aluno meios e possibilidades para a construção de uma
aprendizagem significativa.
Mas
para realizar um trabalho satisfatório é imprescindível a interação
entre família-escola, esquecer a “rixa” antiga de um culpar o outro pelo
fracasso escolar do educando. È tempo de paz, atitudes conjuntas que
visem restaurar os laços de companheirismo e respeito mútuo no objetivo
de expandir e contribuir para uma educação qualitativa.
Portanto,
sonhar com uma educação que objetive uma transformação social, é romper
com o velho e ousar com o novo, na utilização de meios diversificados
que conduza o aluno à não somente ler letras, mas, essencialmente
atribuir sentido e significado naquilo em que se lê. Compreender que o
papel do alfabetizador não é transferir conteúdos, mais sim dividir e
construir saberes e oferecer aos alunos com dificuldades de aprendizagem
conhecimentos contextualizados e prazerosos.
Outro
ponto bem pertinente neste estudo é falta da participação da família na
vida escolar do aluno, assim faz-se necessário idealizar estratégias
que despertem o interesse por relações de trocas de experiências no seio
escolar entre família-escola-aluno. Uma boa sugestão para sanar essa
deficiência seria o trabalho com projetos interdisciplinares com foco na
família, convidando os pais para assistir palestras, participar de
oficinas, contribuir com ações diversificadas para o sucesso escolar do
filho.
O
grande índice de indisciplina na escola atual é bem assustador, para
reverter esse quadro faz-se necessário a implantação de ações que
sensibilize o educando no respeito por normas e regras. O aluno através
dessas medidas deverá aprender o verdadeiro sentido da cidadania e dos
valores morais, que irão refletir na sua formação social e ética.
Neste
estudo foram elencados alguns desafios do professor alfabetizador em
sala de aula, para superá-los o educador deve agir em conjunto com a
comunidade escolar e com os pais para rever ações e criar outras no
intuito de oferecer uma educação qualitativa ao aluno.
Sabemos cotidianamente são atribuídos ao professor alfabetizador a responsabilidade
de alfabetizar e letrar o aluno, e lhe é exigido resultados por este
trabalho. Porém o professor não desenvolverá um bom trabalho sozinho e
desamparado, mas necessitará de apoio pedagógico e da família.
Portanto,
nessa tarefa árdua lhe compete o papel de promover o uso social dos
diversos textos apresentados aos alunos, mostrar significados nas
atividades diárias com ênfase na contextualidade do educando. Na verdade
os desafios são importantes para amadurecer em uma prática inovadora e
transformadora, são eles que ofereceram ao professor subsídios para a
construção do fazer escolar cotidiano.
O
alfabetizador não deve permitir que os desafios o amedrontem, mas que
estes lhe provoquem uma constante inquietude que estimulará a busca de
meios para desenvolver uma prática significativa e fundamentada
teoricamente. Lidar com a alfabetização requer competência e compromisso
com um ensino que vise uma genuína transformação social dos pequenos
cidadãos que interagimos no dia a dia escolar.
REFERÊNCIAS
AURELIO, O mini dicionário da língua portuguesa. 4a edição revista e ampliada do
mini dicionário Aurélio. 7a impressão – Rio de Janeiro, 2002.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federal do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Imprensa Oficial. Brasília, DF, 1988.
CAMBI, Franco. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo. Fundação editora da UNESP (FEU), 1999 – (Encyclopaidéia)
FERREIRO, Emilia. Psicogênese da língua escrita.
Emília Ferreiro e Ana Teberosky; tradução de Diana Myriam Lichtenstein,
Liana Di Marco e Mário Corso. – Porto Alegre: Artes Médicas. 1985.
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. 2ª Ed. São Paulo. Ática. 1988. Série Princípios.
NÉRICI, Imídeo G. Lar, escola e educação. São Paulo: Atlas, 1972.
PIAGET, J. O julgamento moral na criança. São Paulo: Mestre Jou, 1932/1977.
POERSCH, J. M.Suportes Lingüísticos para a alfabetização. 2 ed. Porto Alegre: Sagra, 1990.
[1]
Professora do I Ciclo 1ª FASE da Escola Estadual Treze de Maio em Porto
Esperidião-MT pós graduando do curso Alfabetização e letramento do
Instituto UCAM/PROMINAS.
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