sábado, 23 de março de 2013

O que diz a redação


Correções do Enem apontam que 48,4% dos participantes tiveram textos abaixo da média, mas falta divulgação que ajude o professor a conhecer as principais dificuldades dos estudantes

Camila Ploennes

Em fevereiro, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) colocou à disposição dos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 as vistas da prova de redação, compostas das correções e dos espelhos dos textos. A correção, que é a síntese das justificativas para a atribuição de nota em cada competência avaliada, e o espelho, ou cópia digital da folha de dissertação, foram colocados no sistema junto com um gráfico cuja ideia é indicar a cada estudante o grupo no qual ele se encontra, por faixa de pontuação. Ao contrário do que foi divulgado pela imprensa, o gráfico não foi publicado pelo Inep, mas incluído nessa vista de prova, à qual somente o inscrito tem acesso, com seu CPF e senha. Naquele momento, a notícia mais ventilada, em tom de advertência, tinha o foco no dado de que apenas 1,1% das redações tiveram nota superior a 900 pontos. O porcentual de 1,1% significa que, do total dos 4.113.558 textos corrigidos, 45.249 alcançaram entre 900 e 1.000 pontos, a nota máxima possível.

O gráfico é insuficiente para que professores conheçam as principais dificuldades dos participantes na hora de escrever, mesmo porque foi divulgado apenas para os estudantes. Mas ainda que falte uma divulgação estatística sobre o desempenho dos alunos por competências avaliadas nos textos, há outras leituras possíveis desse pequeno gráfico que vão além do destaque às "redações nota 1.000". Uma delas é que a maioria das dissertações (51,6% do total, ou 2.122.596) ficou acima da média dos 500 pontos. Os outros 1.990.962 textos (48,4%) ficaram abaixo.

O que surpreende não é que poucas pessoas tenham tirado entre 900 e 1.000, porque, em um teste em larga escala, é esperado que um porcentual pequeno tire as maiores notas. E também é esperado que em uma prova desse porte um porcentual baixo tire notas muito baixas. Ou seja, se 1,1% das redações tiveram notas altíssimas, a expectativa seria que um porcentual próximo a este tirasse as notas mais baixas. O surpreendente no gráfico é que um número bem maior tirou as piores notas: 7,4% dos textos corrigidos ficaram entre 0 e 300 pontos, o equivalente a 304.403 estudantes. E segundo nota do MEC, 1,82% das redações (74.866) zeraram por entrega em branco. Outros 1,76% (72.398) zeraram por apresentar, por exemplo, texto insuficiente ou cópia da proposta da redação, cujo tema foi o movimento imigratório para o Brasil no século 21.

Em novembro de 2012, quando as notas do Enem por escola, referentes ao exame de 2011, foram divulgadas, a decisão do MEC de excluir a redação desse cálculo surpreendeu a todos. O argumento de que a avaliação dos textos é subjetiva, e não seria tecnicamente apropriado incluí-la na composição das médias, gerou reações: a medida desvalorizaria a redação e critérios bem definidos poderiam tornar as correções menos subjetivas. A pouca objetividade na avaliação do texto voltou a ser assunto na imprensa no final de dezembro, quando centenas de estudantes protestaram contra as notas recebidas, por considerá-las aquém de seu desempenho em provas de redação anteriores.



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