sábado, 23 de março de 2013

Grupo de Estudo de Língua Portuguesa: Repensando o Ensino de Língua Portuguesa na Escola



A segunda edição do Grupo de Estudo de Língua Portuguesa,  Formação Continuada promovida pelo Cefapro de Primavera do Leste, reforçou os estudos das Orientações Curriculares de Mato Grosso e fez uma reflexão da língua e a importância do trabalho com a mesma em sala de aula. Em especial neste ano, os estudos proporcionaram a troca de experiência e cada participante teve a oportunidade de compartilhar anseios, angústias,  dúvidas, alegrias, resultados positivos e negativos das práticas  em sala de aula. Este momento foi gratificante porque recebemos e passamos contribuições, que enriqueceram a prática docente.
As linguagens são construídas historicamente na interação social, portanto mediadas pelas relações dinâmicas inerentes a toda produção humana, rica em sistemas semióticos expressos e registrados ligados intrinsecamente ao modo como o ser humano produz, (re)constrói, (re)significa e sustenta as práticas sociais. (Orientações Curriculares de Linguagem, Mato Grosso-2012).
O Grupo tem como objetivo geral discutir a prática pedagógica da Língua Portuguesa, buscando encontrar formas de garantir a aprendizagem efetiva da leitura e da escrita. Tem como objetivos específicos reorientar o ensino de Língua Portuguesa para o uso da língua em situações de efetiva interação verbal, adequar a prática pedagógica às necessidades dos alunos, priorizando suas dificuldades, ler e discutir autores voltados à reestruturação curricular do ensino de Língua Portuguesa.
Os estudos se apoiaram nas idéias propostas por GERALDI (1996), POSSENTI (1997) e LEITE (2011) que defendem que o ensino de língua materna deve acontecer através de seu uso efetivo. Tais autores criticam o atual ensino pelo fato de a maior parte do tempo gasto no processo escolar ser destinado ao ensino da metalinguagem de análise da língua e não ao ensino da língua em si.
O ensino da Língua Portuguesa permite uma reflexão sobre a linguagem, resultante da interação entre o homem e a realidade social em que o mesmo está inserido. Esta mediação é necessária e constitui-se em ações que se transformam e se modificam. Como afirma Orlandi,

(...) a linguagem, então, entendida como mediação necessária, não é instrumento, mas é ação que transforma (...) na perspectiva do discurso, a linguagem não aparece apenas como instrumento de comunicação ou transmissão de informação, ou suporte de pensamento, mas como lugar de conflito, de confronto ideológico, e em que a significação se apresenta em toda sua complexidade. (1996, p.82-83)

Ensinar Português não é uma tarefa fácil, temos que repensar sobre as metodologias e as práticas. É necessária uma nova postura do professor com relação a estas mudanças, repensar as práticas e tornar as aulas mais atrativas. Sabemos que a linguagem é dinâmica e o ensino da gramática deve estar ancorado às atividades comunicativas. Todo cidadão, de algum modo, faz uso da língua materna com pouco domínio das variedades linguísticas o qual pode resultar em exclusão social, uma alternativa de levar o aluno a se apropriar da língua padrão, sempre fazendo uma reflexão, buscando mais informações para seu crescimento, tornando-o sujeito participativo e crítico da sociedade em que está inserido.
A formação da cidadania pressupõe uma ampla aprendizagem de uso da língua, em suas mais diversas manifestações. Para isso, além do contato com a diversidade de gêneros, faz-se necessário compreender os mecanismos de funcionamento da língua e conhecer as convenções do padrão formal orientado pela tradição gramatical. O estudo da gramática tem como objetivo ampliar os recursos linguísticos dos alunos e o papel tanto do professor de Língua Portuguesa como da escola e discutir e evidenciar as relações gramaticais, oferecendo novas possibilidades de expressão.
Muito se discute a respeito do ensino da gramática nas aulas de Língua Portuguesa, há quem defenda que deixe de lado o ensino da gramática e se trabalhe somente atividades de leitura e produção de texto. Podemos apresentar a gramática como reflexiva e expondo os alunos aos mais variados tipos de textos e levando-os a refletir sobre fatos da língua.
 Consideremos ainda, o estudo da língua como reflexão e adequação da linguagem em determinado contexto e capacidade de produzir efeitos de sentido pretendido, pois o que buscamos, na verdade, é que os alunos saibam adequar sua fala às diferentes situações comunicativas, levando sempre em conta o contexto e o interlocutor.
Para Bakhtin (1999: 113), Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que se procede de  alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro.
A comunicação que se estabelece entre falantes de um mesmo idioma pressupõe um jogo, onde quem fala, fala do seu lugar-comum e quem ouve parte do mesmo principio. Ambos, falante e ouvinte participam do jogo de intenções do discurso da fala. Sabemos que se estabelece a comunicação quando há o entendimento, quando os códigos da linguagem são do conhecimento das duas partes envolvidas nesse processo. Falar e ouvir implica conhecimento prévio deste ou daquele assunto de que se pretende passar uma mensagem seja ela expressa em uma linguagem formal composta por termos elaborados, gramaticalmente corretos ou numa linguagem coloquial, simples, com uso excessivo de termos regionalistas, e até mesmo fora do contexto gramatical previsto para uma boa articulação das sentenças.
A integração das pessoas, em seu grupo social passa pela participação linguística, passa pelo exercício da “voz”, que não deve ser calada, nem reprimida, mas, sim, promovida, estimulada e encorajada, o professor pode ser este elo entre os alunos e fazê-los ter voz e vez, participando e interagindo com os colegas e professores.
Bons professores, como a aranha, sabem que lições, essas teias de palavras, não podem ser tecidas no vazio. Elas precisam de fundamentos. Os fios, por finos e leves que sejam, têm de estar amarrados a coisas sólidas: árvores, paredes, caibros. Se as amarras são cortadas, a teia é soprada pelo vento, e a aranha perde a casa. Professores sabem que isso vale também para as palavras: separadas das coisas, elas perdem seu sentido. Por si mesmas, elas não se sustentam. Como acontece com a teia da aranha, se suas amarras às coisas sólidas são cortadas, elas se tornam sons vazios: nonsense...(Rubem Alves, 2001:19).
Reconhecemos que estudar em grupo faz a diferença para o aprimoramento intelectual e prático. O diálogo, as trocas de experiência são fundamentais para que nós professores de Língua Portuguesa possamos fazer uma reflexão sobre o fazer pedagógico e poder operar a uma mudança de atitude. Para haver mudanças não basta alterar a metodologia há de se pensar em novos procedimentos de ação. Trata-se da adesão a uma nova concepção de língua/linguagem, para que enfim seja possível refletir sobre nossa prática docente e conseguir ultrapassar a insegurança de uma alteração de atitude.

Referências Bibliográficas

ORLANDI, Eni Pulcinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 4.ed. Campinas: Pontes, 1996.
BAKHTIN, M. (V. N. Volochínov). Marxismo e Filosofia da Linguagem. 4.ª ed. São Paulo:
Hucitec,1999. Trad.de Michel Larud e Yara Frateschi Vieira.
ALVES, Rubem (2001) Gaiolas e Asas, Folha de S. Paulo, Tendências e debates, 05/12/2001.
Orientações Curriculares Área de linguagem, Mato Grosso – 2012.
GERALDI, João Wanderley, organizador; ALMEIDA, Milton José de [ET AL.]. – 5.ed. – São Paulo: Ática, 2011.



Autoria:

Auzilá Alves Mendes - Escola Estadual João Ribeiro Vilela
Betânia Penha Gonçalves - Escola Estadual do Campo Massapé
Janice Pereira da Silva – Escola Estadual do Campo Vila União
Magda de Castro Pereira - Ceja, Getúlio Dorneles Vargas
Márcia Roza Lorenzzon - Cefapro
Marielle Moreira Silva Franco - Escola Estadual João Ribeiro Vilela
Moema Salerno Lazarini- Centro Municipal  de Educação Nívia Colognesi Denardi
Neuza Aparecida Costa Martins - Ceja, Getúlio Dorneles Vargas
Rúbia Aparecida Bresolin - Escola Estadual do Campo Vila União
Simone Bortoluzzi Camargo - Cefapro

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