A segunda edição do Grupo de Estudo de Língua Portuguesa, Formação Continuada promovida pelo Cefapro de Primavera do Leste, reforçou os estudos das Orientações Curriculares de Mato Grosso e fez uma reflexão da língua e a importância do trabalho com a mesma em sala de aula. Em especial neste ano, os estudos proporcionaram a troca de experiência e cada participante teve a oportunidade de compartilhar anseios, angústias, dúvidas, alegrias, resultados positivos e negativos das práticas em sala de aula. Este momento foi gratificante porque recebemos e passamos contribuições, que enriqueceram a prática docente.
As linguagens são construídas historicamente na interação social, portanto mediadas pelas relações dinâmicas inerentes a toda produção humana,
rica em sistemas semióticos expressos e registrados ligados
intrinsecamente ao modo como o ser humano produz, (re)constrói,
(re)significa e sustenta as práticas sociais. (Orientações Curriculares
de Linguagem, Mato Grosso-2012).
O
Grupo tem como objetivo geral discutir a prática pedagógica da Língua
Portuguesa, buscando encontrar formas de garantir a aprendizagem efetiva
da leitura e da escrita. Tem como objetivos específicos reorientar o
ensino de Língua Portuguesa para o uso da língua em situações de efetiva
interação verbal, adequar a prática pedagógica às necessidades dos
alunos, priorizando suas dificuldades, ler e discutir autores voltados à
reestruturação curricular do ensino de Língua Portuguesa.
Os
estudos se apoiaram nas idéias propostas por GERALDI (1996), POSSENTI
(1997) e LEITE (2011) que defendem que o ensino de língua materna deve
acontecer através de seu uso efetivo. Tais autores criticam o atual
ensino pelo fato de a maior parte do tempo gasto no processo escolar ser
destinado ao ensino da metalinguagem de análise da língua e não ao
ensino da língua em si.
O
ensino da Língua Portuguesa permite uma reflexão sobre a linguagem,
resultante da interação entre o homem e a realidade social em que o
mesmo está inserido. Esta mediação é necessária e constitui-se em ações
que se transformam e se modificam. Como afirma Orlandi,
(...)
a linguagem, então, entendida como mediação necessária, não é
instrumento, mas é ação que transforma (...) na perspectiva do discurso,
a linguagem não aparece apenas como instrumento de comunicação ou
transmissão de informação, ou suporte de pensamento, mas como lugar de
conflito, de confronto ideológico, e em que a significação se apresenta
em toda sua complexidade. (1996, p.82-83)
Ensinar
Português não é uma tarefa fácil, temos que repensar sobre as
metodologias e as práticas. É necessária uma nova postura do professor
com relação a estas mudanças, repensar as práticas e tornar as aulas
mais atrativas. Sabemos que a linguagem é dinâmica e o ensino da
gramática deve estar ancorado às atividades comunicativas. Todo cidadão,
de algum modo, faz uso da língua materna com pouco domínio das
variedades linguísticas o qual pode resultar em exclusão social, uma
alternativa de levar o aluno a se apropriar da língua padrão, sempre
fazendo uma reflexão, buscando mais informações para seu crescimento,
tornando-o sujeito participativo e crítico da sociedade em que está
inserido.
A
formação da cidadania pressupõe uma ampla aprendizagem de uso da
língua, em suas mais diversas manifestações. Para isso, além do contato
com a diversidade de gêneros, faz-se necessário compreender os
mecanismos de funcionamento da língua e conhecer as convenções do padrão
formal orientado pela tradição gramatical. O estudo da gramática tem
como objetivo ampliar os recursos linguísticos dos alunos e o papel
tanto do professor de Língua Portuguesa como da escola e discutir e
evidenciar as relações gramaticais, oferecendo novas possibilidades de
expressão.
Muito
se discute a respeito do ensino da gramática nas aulas de Língua
Portuguesa, há quem defenda que deixe de lado o ensino da gramática e se
trabalhe somente atividades de leitura e produção de texto. Podemos
apresentar a gramática como reflexiva e expondo os alunos aos mais
variados tipos de textos e levando-os a refletir sobre fatos da língua.
Consideremos
ainda, o estudo da língua como reflexão e adequação da linguagem em
determinado contexto e capacidade de produzir efeitos de sentido
pretendido, pois o que buscamos, na verdade, é que os alunos saibam
adequar sua fala às diferentes situações comunicativas, levando sempre
em conta o contexto e o interlocutor.
Para Bakhtin (1999: 113), Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que se procede de alguém,
como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o
produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de
expressão a um em relação ao outro.
A
comunicação que se estabelece entre falantes de um mesmo idioma
pressupõe um jogo, onde quem fala, fala do seu lugar-comum e quem ouve
parte do mesmo principio. Ambos, falante e ouvinte participam do jogo de
intenções do discurso da fala. Sabemos que se estabelece a comunicação
quando há o entendimento, quando os códigos da linguagem são do
conhecimento das duas partes envolvidas nesse processo. Falar e ouvir
implica conhecimento prévio deste ou daquele assunto de que se pretende
passar uma mensagem seja ela expressa em uma linguagem formal composta
por termos elaborados, gramaticalmente corretos ou numa linguagem
coloquial, simples, com uso excessivo de termos regionalistas, e até
mesmo fora do contexto gramatical previsto para uma boa articulação das
sentenças.
A
integração das pessoas, em seu grupo social passa pela participação
linguística, passa pelo exercício da “voz”, que não deve ser calada, nem
reprimida, mas, sim, promovida, estimulada e encorajada, o professor
pode ser este elo entre os alunos e fazê-los ter voz e vez, participando
e interagindo com os colegas e professores.
Bons
professores, como a aranha, sabem que lições, essas teias de palavras,
não podem ser tecidas no vazio. Elas precisam de fundamentos. Os fios,
por finos e leves que sejam, têm de estar amarrados a coisas sólidas:
árvores, paredes, caibros. Se as amarras são cortadas, a teia é soprada
pelo vento, e a aranha perde a casa. Professores sabem que isso vale
também para as palavras: separadas das coisas, elas perdem seu sentido.
Por si mesmas, elas não se sustentam. Como acontece com a teia da
aranha, se suas amarras às coisas sólidas são cortadas, elas se tornam
sons vazios: nonsense...(Rubem Alves, 2001:19).
Reconhecemos
que estudar em grupo faz a diferença para o aprimoramento intelectual e
prático. O diálogo, as trocas de experiência são fundamentais para que
nós professores de Língua Portuguesa possamos fazer uma
reflexão sobre o fazer pedagógico e poder operar a uma mudança de
atitude. Para haver mudanças não basta alterar a metodologia há de se
pensar em novos procedimentos de ação. Trata-se da adesão a uma nova
concepção de língua/linguagem, para que enfim seja possível refletir
sobre nossa prática docente e conseguir ultrapassar a insegurança de uma
alteração de atitude.
Referências Bibliográficas
ORLANDI, Eni Pulcinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 4.ed. Campinas: Pontes, 1996.
BAKHTIN, M. (V. N. Volochínov). Marxismo e Filosofia da Linguagem. 4.ª ed. São Paulo:
Hucitec,1999. Trad.de Michel Larud e Yara Frateschi Vieira.
ALVES, Rubem (2001) Gaiolas e Asas, Folha de S. Paulo, Tendências e debates, 05/12/2001.
Orientações Curriculares Área de linguagem, Mato Grosso – 2012.
GERALDI, João Wanderley, organizador; ALMEIDA, Milton José de [ET AL.]. – 5.ed. – São Paulo: Ática, 2011.
Autoria:
Auzilá Alves Mendes - Escola Estadual João Ribeiro Vilela
Betânia Penha Gonçalves - Escola Estadual do Campo Massapé
Janice Pereira da Silva – Escola Estadual do Campo Vila União
Magda de Castro Pereira - Ceja, Getúlio Dorneles Vargas
Márcia Roza Lorenzzon - Cefapro
Marielle Moreira Silva Franco - Escola Estadual João Ribeiro Vilela
Moema Salerno Lazarini- Centro Municipal de Educação Nívia Colognesi Denardi
Neuza Aparecida Costa Martins - Ceja, Getúlio Dorneles Vargas
Rúbia Aparecida Bresolin - Escola Estadual do Campo Vila União
Simone Bortoluzzi Camargo - Cefapro
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