Carlos Roberto da Silva1
Idenir Mariano de Oliveira Neves2
Mirian Mendes3
RESUMO
O
presente artigo tem como proposta, apresentar as experiências obtidas
através de aulas práticas ministradas pelos professores da área de
Ciências Humanas aos alunos da EJA, do Ceja 15 de Outubro, do Município de Barra do Bugres, em Mato Grosso,
colocando-se em prática o conteúdo ensinado em sala de aula. Para a
realização da pesquisa buscou-se fundamentação bibliográfica em autores
que versam sobre a EJA, traçando um perfil histórico desde o período
colonial, verificando-se que o aluno dessa modalidade de ensino apreende
melhor o conteúdo quando este é voltado para o seu dia a dia. Nesse
sentido, os professores do estabelecimento de ensino, preocupados com o
ensino aprendizagem elaboraram um projeto para levar os alunos a
conhecerem a importância que o Rio Paraguai tem sobre a economia do
Município, a poaia (ipecacuanha), planta medicamentosa, utilizada pelos
ribeirinhos e moradores da região. A aula prática é uma forma de levar o
aluno a desenvolver sua aprendizagem, de maneira não obrigatória, mas
sentindo prazer na construção de seu conhecimento. Para que a pesquisa
se realizasse foram entrevistados moradores da região, no sentido de
ressaltar a importância do Rio Paraguai no desenvolvimento da região. Por meio da visita in loco,
bem como relato de experiências de moradores ribeirinhos, comprovou-se,
após a análise das respostas obtidas nas entrevistas, que os moradores
da região, consideram o rio de fundamental importância para as
atividades praticadas por eles e, cobram das autoridades competentes,
melhorias no cuidado com o rio, para que se preservem as riquezas
naturais, das quais depende a economia local.
1 Introdução
Entende-se
que a experimentação é uma prática fundamental para o crescimento do
aluno na aprendizagem. Diante disso é que se abrem várias portas para o
professor trabalhar com aulas práticas, segundo as várias vertentes a
que se propõe o meio escolar.
Dessa
forma, as experiências, além de ajudar no processo do desenvolvimento
cognitivo, também auxiliam no desenvolvimento de conhecimentos
científicos, assim, as aulas práticas permitem que os estudantes
aprendam como abordar objetivamente o seu mundo e, como desenvolverem
soluções para problemas complexos. Servem também como estratégia e pode
auxiliar o professor a construir com os alunos, uma nova visão sobre um
mesmo tema.
2 EJA: Um pouco de História
2.1 EJA no período colonial
A
Educação de Jovens e Adultos no Brasil vem desde a época do Brasil
Colônia, visto a preocupação dos jesuítas em trazer essa modalidade de
ensino, para atender a finalidade da conversão dos nativos e que os
colonos continuassem a professar sua fé, porém, na atualidade, a EJA é
vista de outra maneira, conforme Aranha (2006),
A
EJA trazida pelos jesuítas terminou por caracterizar-se como uma
ferramenta importante a serviço da dominação e dos interesses políticos,
econômicos e religiosos, dos colonizadores, que de acordo com Paiva
(1987), teve início juntamente com a educação regular, na qual as
crianças aprendiam e, com isso atingiam seus pais, os quais eram
alfabetizados e catequizados de acordo com a religião e cultura
portuguesa.
Esse
tipo de educação visava entender os costumes do povo local, bem como
suas fragilidades, para que assim, devagar, fosse imposta a cultura e a
crença jesuítica e os nativos aceitassem, sem resistir, o modelo de vida
imposto, ou seja, eram adestrados, segundo Aranha (2006).
A
cultura local foi, aos poucos, substituída pelo modelo europeu, o qual
era tido como o único aceitável e, dessa forma, ocorreu a domesticação
dos indígenas, como forma de suprir suas necessidades, atendendo, assim,
os interesses dos grupos dominantes, que eram os jesuítas, os europeus e
os colonos, conforme Aranha (2006).
Para
a autora, a educação da Companhia de Jesus trouxe grande contribuição,
mesmo com propósitos direcionados ao não afastamento da fé, entretanto,
os adultos sofreram aculturação com vistas ao trabalho e, em relação às
crianças dos colonos que tinham permissão para estudar, o ensino foi de
grande importância, não podendo ser desconsiderada que a educação
jesuítica foi fundamental para a história da educação brasileira, pois
além da implantação de cursos superiores, assim como aos colonos
proporcionou-se a educação informal aos colonos na área de artesanato e
outros ofícios, exercidos por trabalhadores pobres, índios e escravos e,
por isso desprestigiada. O mercado da época necessitava de mão-de-obra,
eis a razão para que se ensinassem os adultos.
Com
o crescimento da Companhia de Jesus houve certo receio que os jesuítas
tomassem o poder político e econômico no Brasil, assim, em 1759, foram
expulsos pelo Marquês de Pombal.
2.2 EJA no período imperial
A
partir da expulsão dos jesuítas, todo sistema educacional por eles
implantado foi arruinado, sofrendo um retrocesso, pois os jesuítas
haviam proposto medidas que não estavam vinculadas com o sistema
educacional, assim houve um rompeu-se com o período colonial e a chegada
da família real trouxe mudanças no cenário da educação, no sentido de
atender-se à classe dominante, de acordo com Aranha (2006).
A
autora relata que escolas e cursos foram criados com o intuito de
atender-se aos interesses reais, surgindo uma nova demanda de
mão-de-obra qualificada como advogados, médicos, militares, etc., assim,
preparavam-se pessoas para ocupar cargos especializados, entretanto, a
educação para o povo continuava restrita e dependia das autoridades,
chegando ao ensino superior somente a elite, sendo que a classe baixa
conseguiria chegar somente ao ensino elementar, com péssimas condições
para os alunos, pois não havia locais adequados nem professores
capacitados.
Apesar
da Constituição de 1824 trazer a obrigatoriedade de se construir
escolas em todos os lugares para atendimento ao povo, excluíam-se os
escravos, os índios e os adultos. Houve pequenas modificações na
educação para o povo com vinda dessa Lei, havendo um número ínfimo de
matrículas nas escolas primárias, por motivos de pouco interesse
político e, pela cultura
colocada para o povo que para se trabalhar com agricultura não era
necessário escolarizar-se, perpetuando-se assim, o analfabetismo; a
falta de investimentos na educação caracterizava-se outro motivo por não
se procurar as escolas para matricular-se, segundo Aranha (2006).
De
acordo com a autora, o ensino foi descentralizado, passando o ensino
primário e secundário para a responsabilidade das províncias, ficando o
ensino superior a cargo da realeza e, com essas mudanças houve prejuízo
para a educação básica, pois faltavam condições financeiras para o
pagamento dos espaços físicos e professores.
Surge
então, a educação de jovens e adultos como uma boa ação dos
professores, os quais ministravam cursos noturnos, no intuito de se
corrigir o erro quanto à educação dos pobres, brancos, negros libertos e
alguns escravos ainda, não tendo essa modalidade de ensino amparo
legal, mas amparando-se na bondade de algumas pessoas, conforme Aranha
(2006).
2.3 EJA no período republicano
Para
Aranha (2006), no período republicano houve o propósito da
escolarização para todos, porém, acabou sendo para poucos, pois a partir
da Revolução Industrial a necessidade de mão-de-obra qualificada passou
a chamar a atenção dos trabalhadores que buscavam a educação
profissionalizante, para atender a demanda do mercado.
Assim,
relata Zibetti (2005) que políticas públicas que atendessem a essa
finalidade prover às exigências das indústrias foram pensadas.
Entretanto, segundo Aranha (2006), não se implantaram reformas de fato,
pois não havia infraestrutura
adequada, assim a educação de jovens e adultos visava somente educar
pessoas para conhecimentos referentes à vida cotidiana, aprendendo
apenas técnicas de leitura e escrita, cuja metodologia era
descontextualizada da realidade do aluno
A
educação de jovens e adultos deslanchou a partir de 1942, quando se
lançou programas para atendimento a essa clientela, cujas disciplinas
levassem ao desenvolvimento da aprendizagem para aqueles que não
conseguiram escolarização na idade apropriada, segundo Paiva (2009)
Dentro
dessa realidade, a educação de adultos ficou restrita à alfabetização
no sentido de ensinar os alunos a assinar o nome com intenção de se
obter o título de eleitor, conforme Fávero (2009).
2.4 EJA a partir de 1988
Com
a democracia implantada no Brasil, o povo esperava por políticas
públicas que atendessem suas perspectivas no que dizia respeito às
necessidades básicas do cidadão. Dessa forma, a educação tornou-se um
tema muito debatido, pois sobre a necessidade da promoção da
Constituição que viesse ao encontro da realidade educacional brasileira.
Assim, com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, a educação
passou a ser um direito de todos, incluindo-se aqueles que não tiveram
oportunidade de escolarizar-se na idade adequada e prepará-los para a
sociedade, passando ao Estado, a obrigação de garantir a educação,
resguardando o direito de todo indivíduo ao ensino público, para que se
desenvolvesse de forma plena, inserindo-o no meio social, segundo Renner
(2010).
2.5 Eja no Ano 2000
Nesse
período, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e
Adultos trouxeram uma nova visão da EJA, com métodos de ensino com
vistas à aprendizagem para a vida real e, não apenas como meio de
profissionalização.
No ano de 2000 foi aprovada e publicada as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos (Parecer
CNE/CEB 11/2000 e Resolução CNE/CEB 1/2000), proporcionando à EJA, uma
nova roupagem, a qual delimita como um direito a se ter aprendizagem de
fato, com metodologias para que se aprendam para vida, superando a visão
de ensino para apenas profissionalizar-se, trazendo novas funções a ela
destinadas, como a reparadora, equalizadora e qualificadora.
Entretanto, apesar das diretrizes propostas para a EJA e, dos programas
de erradicação do analfabetismo implantados pelas políticas
governamentais, e das ações sociais promovidas o quadro ainda se
apresenta deficitário, pois faltam investimentos na educação, no sentido
de não deixar que o cidadão se torne adulto sem que seja alfabetizado
na idade própria.
3 Jovens e adultos: Aprendizagem e conhecimento
Quando
se fala em conhecimento encontra-se certa dificuldade quando se trata
das mudanças causadas às escolas públicas pela modernidade nas últimas
três décadas, como o fato de a escola atender alunos fora da faixa
etária, que não tiveram oportunidade para nela entrarem em idade
apropriada, alunos pobres, cujas experiências diferem dos demais alunos
(BRASIL, Coleção de EJA, Cad. 5, 2006).
A
escola passou a se tornar espaço de todos, com novas demandas não
contempladas na educação tradicional como, os trabalhadores que
retornaram à escola para adquirir conhecimentos que lhes permitiriam
melhorar a vida profissional, havendo uma grande procura pela escola,
causando crescimento da EJA e reconhecendo-a como modalidade de ensino.
O
conhecimento faz parte da vida do ser humano desde o seu nascimento e é
por meio dele que se percebe o mundo ao redor, encontrando formas de
transpor os obstáculos. Através dele se é capaz de utilizá-lo para
construção da felicidade. Não se vive sem conhecimento. Portanto, o
conhecimento nasce do relacionamento entre pessoas e o mundo. Dessa
forma, sabe-se que na escola, nas diferentes salas de aula encontram-se
alunos que têm necessidades diversas e, os alunos da EJA buscam o
conhecimento que poderá auxiliá-lo no seu cotidiano, tais como, aprender
a calcular preços, conhecer assuntos pertinentes à saúde, alimentação,
divulgar produtos que por ventura venham a produzir, ler, ver e entender
o noticiário, enfim, resolver problemas diários que para eles são mais
difíceis pela falta da alfabetização.
O
produzir conhecimento resulta da ação do ser humano e no esforço
coletivo, por isso, a sala de aula caracteriza-se como um excelente
local para que isto aconteça, pois há diversos saberes, que poderão ser
utilizados na prática, fora do reduto escolar. (BRASIL, Coleção de EJA,
Cad. 5, 2006).
Nesse
sentido, a teoria aprendida na sala de aula poderá sustentar a
aprendizagem na prática, o que leva o aluno a apreender melhor o
conhecimento. Assim, para que se pusesse a teoria em prática, é que o
CEJA 15 de Outubro de Barra do Bugres-MT propôs um projeto para que
fosse aplicado fora dos muros da escola, com o intuito de levar os
alunos da EJA a compreenderem a importância que o Rio Paraguai tem no
dia a dia da região em que a escola está inserida.
4 Aulas da EJA através de projetos extra-classe
Buscando
estimular a aprendizagem, é que a escola busca trabalhar com projetos
das mais diferentes formas. Com isso, procurou-se desenvolver com os
alunos do CEJA 15 de Outubro de Barra do Bugres-MT, um projeto
transdisciplinar, com o Titulo “A importância do Rio Paraguai na
Economia de Barra do Bugres”, assim definido, por extrapolar os muros da
escola através de aulas de campo, relatadas a seguir.
O
projeto proporcionou observar o quanto os alunos apreciam atividades
diferenciadas, interativas e participativas, em que podem construir e
manipular diversos conhecimentos. A busca por respostas pode ser
visivelmente ampliada quando se trabalha teoria e prática lado a lado.
Nesta abordagem, o aluno é o sujeito ativo do processo de ensino
aprendizagem, assim, o professor deixa de ser somente o transmissor de
conhecimentos e passa a ser facilitador, ao criar condições para que os
alunos aprendam em um ambiente de compromisso, em que ao estar na sala
de aula por interesse e não por obrigação, se sentem no dever de
pesquisar e estudar.
De
acordo com Serrão (1999), o facilitador deve estabelecer vínculo
afetivo com o grupo devendo ser libertador, permitindo-se a expressão de
questões pessoais e conduz à autonomia, de forma a abrir espaço para
novos questionamentos, quebrando preconceitos e impedindo que os rótulos
se tornem permanentes e os papéis fixos.
Segundo Pessoa (2001) apud Prigol
e Gianotti (2008) o aluno poderá ser estimulado a gostar e a entender
os conteúdos durante uma atividade prática, que deve partir da realidade
do seu cotidiano.
Conhecer
os motivos do surgimento do Município com aulas de campo são
experiências agregadas ao dia a dia de cada aluno, caracterizando-se,
também, uma forma de produzir conhecimentos, motivando-se mutuamente à
pesquisa, em que o professor se torna um parceiro do aluno em seu
aprendizado.
No
decorrer da pesquisa, as turmas trabalharam a leitura, escrita e a
produção de texto. Durante o processo pode-se perceber o envolvimento
com a aprendizagem através das aulas de campo, pois estimulou-se à
escrita e, consequentemente, à leitura e à história do Município de
Barra do Bugres. Os resultados foram visíveis, pois os Jovens e Adultos,
no final do projeto, puderam ler e compreender a história deste
Município.
Com
isso, no transcorrer das pesquisas e debates agregaram-se novos
conhecimentos, bem como refutaram-se alguns. Um dos primeiros passos da
pesquisa foi a aula de campo, que possibilitou se conhecer in loco a poaia (ipecacuanha)¹.
Sabe-se
que a história de Barra do Bugres originou-se do fluxo migratório
advindo com a extração da poaia e, iniciado a partir do final do século
XIX. Em 1878, chegou à região Pedro Torquato Leite Rocha, vindo de
Cáceres que ergueu rancho à margem direita do Rio dos Bugres, no local
que desemboca no rio Paraguai. Deu-se início à exploração das cercanias
em busca da preciosa poaia - a ipecacuanha - com resultados
satisfatórios. A localidade tornou-se ponto de referência e famílias
instalaram-se no local onde as águas do Rio dos Bugres encontravam-se
com a correnteza turva do Rio Paraguai. O lugar começou a ser conhecido
por Barra do Rio dos Bugres, passando essa denominação à história e,
inserida nos mapas cartográficos pelo Marechal Candido Rondon.
Sabendo-se
que a grande maioria dos alunos da Escola Estadual CEJA 15 de Outubro
são oriundos de outros Estados e, que possivelmente, não conheçam a
História do município que escolheram para viver, foi com essa
perspectiva que se propôs realizar-se com os alunos da área de Ciências
Humanas, uma aula de campo nos arredores de Barra do Bugres, para que
pudessem conhecer a poaia, um arbusto de, no máximo 70 cm de altura, que
de sua raiz extrai-se uma substância com o nome de emetina, utilizada
para a fabricação de remédios. Segundo o Professor Jovino dos Santos
Ramos, em seu livro Informativo sobre Barra do Bugres, a poaia dessa
região era a melhor do mundo, pois enquanto as de outras regiões
produziam somente 0,80% de emetina, as do Vale do Guaporé, Paraguai e
Sepotuba chegavam, com facilidade, a 2,80% dessa substância.
4.1 Relato da aluna Lucimara
“Apesar
de ser nascida e criada nas redondezas de Barra do Bugres, nunca tive a
oportunidade que estou tendo no CEJA 15 de Outubro, pois só aqui passei
realmente a saber um pouco mais da história da minha cidade, através da
poaia, esta planta que serve para fabricar remédios.”
4.2 Nascente do Rio Paraguai
No
dia 01 de setembro de 2012, nós professores da área de Ciências
Humanas, juntamente com alunos da referida área, às 5h e 30 min.,
tomamos café na Escola Estadual CEJA 15 de Outubro e em seguida
seguimos de ônibus, destino ao Município de Alto Paraguai, com objetivo
de conhecermos a nascente do Rio Paraguai, rio este, de fundamental
importância para o desenvolvimento econômico do Município de Barra do
Bugres. Visto estar se desenvolvendo no CEJA 15 de Outubro, cujo título
já foi referido anteriormente, esta aula de campo teve por objetivo
maior, a sensibilização da nossa clientela escolar, no que diz respeito
aos cuidados que devemos ter com o rio Paraguai e toda a sua extensão,
porém, mais precisamente, na parte em que passa na cidade de Barra do
Bugres, pois se encontra em péssimas condições, tendo suas margens toda
devastada e, com grande incidência de erosão e assoreamento.
A
nascente do rio Paraguai está localizada no Município de Alto Paraguai,
em um local privilegiado, pois lá se desenvolve projeto de
reflorestamento e percebemos que os donos da fazenda Sete Lagoa, onde se
encontra a nascente, estão realmente empenhados em fazer como que o
reflorestamento dê certo, pois o plantio de agricultura já está distante
da nascente como o exigido por Lei. Os alunos ficaram realmente
encantados com o local da nascente e voltaram com o firme propósito de
serem propagadores de uma cultura de preservação do Rio Paraguai, uma
vez que 100% da população barrabugrense fazem uso das águas do Rio
Paraguai.
4.3 Aldeia Umutina
No
dia 06 de agosto de 2012, com saída às 13 h, com destino à Aldeia
Umutina, os alunos da área de Ciências Humanas, juntamente com os alunos
da área de Ciências da Natureza e Matemática, com o objetivo de
conhecer a importância do Rio Paraguai no cotidiano das pessoas da
Aldeia. Os alunos da área de Humanas, em conjunto com os professores
elaboraram cinco questões que foram indagadas aos indígenas
aleatoriamente e sem a intervenção dos professores.
A
primeira questão foi: Qual a importância do Rio Paraguai no cotidiano
do povo Umutina? A segunda: Como é feita a pesca no Rio Paraguai. Por
vocês? A terceira: As pessoas da Aldeia Umutina conseguem sobreviver
somente do Rio Paraguai? A quarta: A aldeia promove alguma festividade
em homenagem ao Rio Paraguai? A quinta: O que vocês fazem para preservar
o Rio Paraguai?
As
perguntas foram feitas pelos alunos aos indígenas aleatoriamente, por
sua própria escolha, podendo ser professores ou alunos indígenas, ou
seja, vários alunos fizeram as mesmas perguntas a diferentes pessoas da
etnia Umutina. Assim sendo, obtiveram-se várias respostas para várias
perguntas. Após o término da pesquisa, os alunos da área de Humanas se
reuniram, já na escola, sintetizando as respostas, obtendo-se o seguinte
resultado:
Na
primeira questão, os indígenas da aldeia Umutina afirmaram que o Rio
Paraguai, bem como as matas preservadas produzem-lhes alimentos, além de
ervas que servem como remédios. Na segunda questão os indígenas
relataram que a pesca é feita com arco e flecha, com anzol, bem como com
timbó, ou seja, um cipó que, em contato com a água, produz uma
substância que deixa os peixes atordoados e, portanto, fácil de serem
apanhados. Na terceira questão disseram que não conseguem sobreviver
somente do rio, que também caçam, plantam agricultura de subsistência e
produzem artesanatos. Na quarta responderam que promovem uma festa em
homenagem ao Rio Paraguai, mas que essa festividade é promovida no
córrego 18, que é afluente do Rio Paraguai e passa no meio da Aldeia.
Finalmente, na quinta questão afirmaram que a limpeza é feita dentro e
fora do rio e, que na margem do lado indígena, a floresta está
preservada.
A
aula de campo na aldeia Umutina foi de grande serventia para os alunos
da área de Ciências Humanas, pois os levou a compreender a importância
do Rio Paraguai na sobrevivência do povo Umutina e também aprendeu-se
que se deve preservar as matas ciliares, pois elas são de extrema
importância e funcionam como filtros, ou seja, elas não deixam causar
erosão e nem deixam os agrotóxicos fluírem para dentro dos rios.
4.4 Área de risco: Ribeirinhos
Com
o intuito de levar adiante a conservação do Rio Paraguai, os
professores da Escola Estadual CEJA 15 de Outubro, juntamente com os
alunos da área de Ciências Humanas, decidiram realizar uma pesquisa
sobre a área de risco à margem direita do Rio Paraguai, que é
considerada imprópria ao assentamento humano, por estar sujeita a
inundações, desmoronamentos e contaminações com resíduos tóxicos. A
pesquisa foi realizada no período matutino, no dia 07 de agosto de 2012.
Foram
entrevistados alguns moradores dessa área, para saber as opiniões deles
sobre as mudanças ocorridas no local. Percebeu-se que, a grande maioria
dos moradores está insatisfeita com as novas mudanças, com os projetos
realizados pelo Prefeito Municipal à margem do Rio Paraguai.
De
acordo moradores da região há 45 anos na área, saída desses moradores
destruiria culturas e sentimentos e, que o projeto do Executivo,
consiste em terminar a construção do restaurante à margem do rio, local
em que diz ser área de risco para os moradores ribeirinhos, bem como já
está construindo um muro com barreira de contenção, obrigando os
ribeirinhos a deixarem a área, ou seja, suas residências.
Outros
moradores entrevistados, que residem na área há 21 e 42 anos, alguns
alugam condomínio para sua sobrevivência. Uma moradora diz estar
desapontada com as atitudes do Chefe do Executivo ao implantar o projeto
à margem direita do rio Paraguai.
Foram
tomadas inúmeras medidas na realização do Projeto Água: A Importância
do Rio Paraguai, para o desenvolvimento econômico de Barra do Bugres,
tais como: pesquisa de campo, pesquisa em laboratório, entrevistas com
os moradores, aula de campo de reconhecimento da nascente do Rio
Paraguai, fotos, filmagens e outros.
Diante
do exposto, percebeu-se que os alunos retornaram à escola, mais
críticos e participativos com a política do Município, inclusive,
questionando se, ao invés da construção do muro de contenção, não se
deveria fazer o reflorestamento das margens do Rio Paraguai e, assim,
estaria se conservando-as, como também, beneficiando a sociedade como um
todo.
Considerações finais
O
presente artigo teve como objetivo relatar as experiências obtidas com a
aplicação na prática, de conteúdos ensinados na sala de aula aos alunos
da EJA, do CEJA 15 de Outubro do Município de Barra do Bugres-MT. Para a
realização do projeto, os alunos, juntamente com os professores da área
de Ciências Humanas do CEJA se deslocaram até a região do Rio Paraguai,
onde puderam entrevistar moradores ribeirinhos sobre sua importância no
desenvolvimento do Município.
Assim,
pode-se se comprovar por meio da análise das respostas obtidas, que os
moradores da região visitada pelos alunos e professores consideram que o
rio é fundamental para as atividades praticadas por eles e cobram das
autoridades competentes melhorias no cuidado com o referido Rio, para
que continuem vivendo e usufruindo das riquezas naturais por ele
produzidas.
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Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia: geral e
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BRASIL, MEC. Trabalhando com a Educação de Jovens: O processo de aprendizagem dos alunos. Coleção EJA. Cad. 5. Brasília, 2006.
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PESSOA, O, F. Os Caminhos da Vida. São Paulo: Scipione, 2001.
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SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Clarice. Aprendendo a ser e a conviver. 2. ed. São Paulo: FDT, 1999.
ZIBETTI, Darcy Walmor. Teoria Tridimensional da função da terra no espaço rural. Curitiba: Juruá, 2005.
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