segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Esportes e artes podem amenizar a violência escolar

Maria Helena Ferreira, psicóloga e psiquiatra do Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da Infância e Adolescência

Karina Toledo - O Estado de S.Paulo

Problemas no desenvolvimento do vínculo entre mãe e bebê podem ser a origem do comportamento violento, diz a psicóloga e psiquiatra Maria Helena Ferreira, do Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da Infância e Adolescência de Porto Alegre. Esportes e artes são atividades eficazes para amenizar o problema, pois oferecem uma via construtiva para a expressão do conflito e da agressão.


Qual é a origem do comportamento violento?

Ele só é inato em raras patologias psiquiátricas. Em geral, a violência surge na criança em função de problemas em seu cuidado desde os primeiros anos. Alguns autores identificaram um fator causal que denominaram de trauma relacional precoce, que envolve uma ligação inadequada com os primeiros cuidadores. Esse vínculo desorganizado gera alterações cerebrais e psicológicas responsáveis pelo comportamento agressivo, pela impossibilidade de avaliar as consequências das próprias ações e pelo desenvolvimento de humor irritado e afetos negativos.

O que é vínculo desorganizado?

O cuidado materno envolve a decodificação dos sinais do bebê e a tradução dos sinais do mundo para a satisfação de suas necessidades básicas. A previsibilidade das respostas da mãe estrutura a organização no cérebro de redes formadoras da percepção, inteligência, memória, humor e afeto. Quando a mãe decodifica adequadamente os sinais de seu filho, desenvolve-se o que chamamos de vínculo seguro mãe-bebê. Quando a mãe apresenta reações inconstantes e paradoxais, o bebê encara o mundo como frustrante. Vivencia insegurança, impotência e não desenvolve defesas contra o estresse. Esse vínculo desorganizado é o precursor do comportamento violento. As condições do mundo atual, onde violência, pragmatismo e narcisismo são moedas de troca, reforçam a disfunção inicial.

Por que algumas crianças são vítimas preferenciais?

As vítimas de bullying situam-se nos polos inferior ou superior em relação a peso, altura, inteligência, cultura, maturidade e competência. Podem apresentar distúrbios somáticos e comportamentos introvertidos, ansiosos e depressivos. São mais vulneráveis ao lidar com frustração e estresse. O ambiente familiar influencia na medida em que ele apenas protege a criança, não cooperando para que ela desenvolva defesas.

Qual é o impacto dessas agressões para a vítima?

Aumenta o risco de transtornos de ansiedade e depressão. Às vezes, as crianças oscilam de comportamento, sendo ora vítimas ora agressores. Nesse último caso, podem desenvolver transtorno antissocial.

Os agressores têm consciência do mal que estão fazendo?

As crianças agressoras desenvolvem um comportamento mais impulsivo que o esperado. Têm baixa tolerância à frustração e ao estresse. Não reconhecem as consequências de sua ação ou riscos e não desenvolveram a capacidade de empatia esperada. O comportamento violento faz parte de seu "piloto automático" e não será detido, a não ser que exista um adequado manejo externo ambiental: limites de sua ação pela escola e família.

As escolas estão fazendo o possível para coibir esses casos?

Elas começam a aprender a lidar com o bullying. É importante que os professores que realizam atividades artísticas, esportivas e de socialização sejam priorizados nos treinamentos de manejo do bullying. Essas são as atividades mais eficazes para restaurar a boa convivência. Porém, a maior responsabilidade não cabe apenas à escola. O estabelecimento da segurança e do bem-estar social pelo poder público e, especialmente, o cuidado com a saúde materno-infantil são as ações que guardam em si o verdadeiro potencial de prevenção da violência. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário