Luiz Gonzaga Bertelli
A lei que estabelece cotas de contratação de pessoas com deficiência completa duas décadas de vigência em julho ainda muito aquém de entrar para o seleto grupo das determinações legais “que pegam". Mesmo constatando que a inclusão dos deficientes sofreu queda de 17,4% entre 2007 e 2009, como foi recentemente divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e abordado por nossa reflexão semanal há algumas semanas, a ação afirmativa cumpre sua função.
Brasileiros que por séculos foram excluídos do processo produtivo revertem o jogo, mostrando que aproveitaram a janela aberta pela lei nº 8213/91 para se qualificar profissionalmente e agora querem mais. Uma pesquisa da Page Personnel, empresa especializada em recrutamento e seleção, apurou que trabalhadores nesse perfil não estão se contentando com as condições ofertadas pela empresas contratantes e investem no próprio desenvolvimento pessoal e profissional almejando, além da concessão de vaga, melhor remuneração e plano de carreira. De acordo com o levantamento realizado com profissionais com profissionais na ativa, 46% declararam ter saído da última empresa por ter recebido convite para ocupar um posto melhor e 21% por estarem insatisfeitos com as respectivas atividades.
As reclamações são justificadas, pois 36% nunca foram promovidos sendo que, destes, 70% têm graduação completa ou pós-graduação. No final das contas, e das cotas, os versos da música Comida (Titãs) traduzem esse sentimento: “A gente não quer só dinheiro / A gente quer dinheiro e felicidade / A gente não quer só dinheiro / A gente quer inteiro e não pela metade”. Também reflete o slogan do Programa Pessoas com Deficiência do CIEE: “os jovens não precisam de caridade, mas de oportunidade”. Vale ressaltar que o programa, mantido há 12 anos, já possibilitou o encaminhamento de oito mil estudantes deficientes para capacitação profissional em estágio em organizações privadas e órgãos públicos.
Estão colocados, portanto, dois desafios aos gestores de recursos humanos. O primeiro é o de cumprir as cotas, apoiando uma população estimada em 27 milhões de pessoas com deficiência, sendo 17 milhões em idade considerada ativa para o mercado de trabalho. E, segundo, oferecer condições de ascensão profissional a essas pessoas que já concorrem em pé de igualdade com os demais colaboradores. Há uma dívida história a ser resgatada e as empresas, órgãos públicos e entidades do 3º setor não podem se furtar a colaborar nesse momento decisivo. As adaptações necessárias para garantir a acessibilidade das pessoas com deficiência são mínimas frente aos obstáculos que elas sobrepujaram para chegar aonde chegaram. Além do mais, exemplos de superação e determinação sempre inspiram os demais colaboradores a colocar problemas aparentemente grandes em perspectiva. Melhorando, de maneira geral, o clima organizacional.
Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), e diretor da Fiesp
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