segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ensino Médio: flexibilizar é estudar mais

Gilberto Alvarez Giusepone Júnior

A flexibilização do currículo do Ensino médio é uma excelente chance de o Brasil acertar as contas com essa etapa da escolaridade. O objetivo deve ser ampliar a formação geral, abrindo as possibilidades de escolha.

Aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no último dia 4/5, as novas diretrizes curriculares para o Ensino Médio nas áreas do trabalho, da tecnologia, da ciência e da cultura permitirão às escolas e aos sistemas de ensino escolher modelos mais voltados para a sua realidade local ou regional e proporcionar autonomia pedagógica, antiga aspiração da comunidade educacional.

O principal objetivo da flexibilização do currículo é permitir um avanço do país frente aos desafios que a educação tem que enfrentar para reverter a baixa qualidade oferecida nas escolas públicas e sua consequência mais perversa, a evasão.

Atualmente, de acordo com dados do IBGE, existem 10 milhões de alunos matriculados no Ensino Médio. Desse contingente, cerca de 40% abandonam o curso por desinteresse e 27% porque precisam trabalhar para complementar a renda familiar.

Aqueles que resistem à falta de estrutura e de oportunidades chegam à idade adulta sem estar preparados, seja para o mercado de trabalho, seja para os exames vestibulares.

No Cursinho da Poli, em São Paulo, que tem grande parcela dos alunos provenientes da escola pública, lidamos cotidianamente com esse drama. Preparar o aluno para entrar numa universidade de qualidade demanda, em primeiro lugar, sanar as lacunas de seu aprendizado.

Para isso, todos os anos, oferecemos curso de matemática básica, física e história da arte, entre outros, que ajudarão o aluno a acompanhar a matéria na sala de aula.

Outro drama é a baixa empregabilidade desses alunos no mercado. Depois de 12 anos na escola, o jovem não está apto a conseguir um emprego nem na indústria, nem no comércio e muito menos em áreas em que é necessário qualquer tipo de especialização.

O que faz um aluno que sonha em avançar nos estudos, mas ao mesmo tempo precisa ajudar no sustento da família e não está preparado para isso?

Daí a preocupação de o CNE atender aos anseios dos estudantes: é a premente necessidade de aproximar o educando de suas áreas de interesse, uma forma de interessá-lo mais, dar-lhe a possibilidade de estar mais presente e de se sair melhor na vida escolar.

Entretanto, é preciso que as experiências concorram para que os erros não sejam repetidos. Convém lembrar duas experiências que não chegaram a bom termo. A primeira foi a divisão do nível médio em três modalidades: o Científico, o Clássico e o Magistério.

Os egressos de uma ou outra modalidade tinham formação absolutamente específica, numa idade em que as vocações ainda não estavam suficientemente amadurecidas, prejudicando muito ou francamente impossibilitando qualquer tentativa de mudança de rumo.

A segunda, no período da ditadura militar, foi a conclusão, motivada pela imensa demanda de pessoal técnico, de que todo Ensino Médio deveria profissionalizar, levando a um descaso, maior ou menor, pelas matérias acadêmicas. As consequências dessa opção são sentidas até hoje na sociedade brasileira.

Será preciso discutir muito ainda para fundamentar e fortalecer a mudança do currículo em cada instituição, mas, desde já, ressalte-se que, em nenhuma hipótese, poderemos descuidar das matérias de base. Matemática, português, química, física, biologia, história, geografia, sociologia e filosofia devem ter seus conteúdos preservados.

As novas medidas devem buscar acrescentar à formação cultura, conhecimento e instrução profissional. Neste momento, não se pode admitir nenhuma conta “de menos” na educação dos brasileiros.

Gilberto Alvarez Giusepone Jr. é professor e diretor do Cursinho da Poli em São Paulo.

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