Ines Martins
“Nunca fui capaz de responder a grande pergunta: o que uma mulher quer?” (Sigmund Freud)
(Desculpe-me, prezado leitor, mas a data e a comemoração justificam o texto um pouco mais longo)
Nesta quinta-feira, 8 de março, pela 37ª vez, comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Embora a data exista há mais de um século, a Organização das Nações Unidas (ONU) só a reconheceu em 1975, através de um decreto. A fixação desta data é o reconhecimento de um longo processo de luta, organização e conscientização da mulher no mundo. No Brasil, considera-se o dia 24 de fevereiro de 1932 como um marco na vida das mulheres. Na data, foi instituído o voto feminino. Essa foi uma conquista significativa , depois de muitos anos de reivindicações, o direito de votar e ser eleita para cargos no Executivo e no Legislativo representou também uma batalha que estava apenas começando, culminando, enfim, com uma mulher agora presidente da República, Dilma Rousseff, e a ministra Eliana Calmon, Corregedora do Conselho Nacional de Justiça. Mas isso não aconteceu da noite para o dia, por isso convido, principalmente os mais jovens, para uma breve viagem pela história.
“A mulher, desde os primórdios da humanidade, vem participando das lutas e conquistas do homem, embora, muitas vezes, na obscuridade, no anonimato. A realidade fática demonstrou que, em milênios, só foi considerada a sua função de conceber e gestar. E não nos encontramos muito longe desta concepção... Nem sempre foi valorizada a sua contribuição, que além da procriação e educação dos filhos, se refletia no zelo e no trabalho caseiro, na agricultura, no pastoreio e no artesanato doméstico.
A mulher egípcia gozava de mais honrarias e poderes do que as mulheres de toda a antiguidade, compartilhando com o chefe da família todos os privilégios. Por sua posição destacada na hierarquia social, chegou mesmo a suceder no trono em muitas dinastias. Sua natureza fecundante era divinizada. Numa das mais antigas civilizações, a egéia, a mulher gozou de completa igualdade de direitos dos homens, participando de atividades públicas e privadas, além de competições esportivas como lutadora e toureira. Na antiguidade oriental, prevaleceu o patriarcado e o repúdio drástico ao aborto e ao adultério. A mulher ocupava um lugar obscuro na organização social. Com raras exceções, sua situação era das mais servis.
Na Índia, embora a mulher também fosse divinizada pela sua missão concepcional, era excluída das cerimônias e deveres civis. Na Grécia, confinada ao gineceu, a situação da mulher era das mais insignificantes e obscuras. Já em Roma, as mulheres viviam no atrium, e eram iguais em dignidade a seus maridos, em contraposição à mulher grega, quase escrava. Podiam estudar; só não podiam exercer cargos públicos, privativos dos homens. O divórcio lhe era permitido, e solteira ou casada, a mulher era cumulada de atenções e prestígio social. Todavia, com a lei das Doze Tábuas, a mulher não tinha nenhum direito legal.
Com o Cristianismo, a situação foi melhorando, pois este proclamava a igualdade do homem e da mulher e instituía o casamento monogâmico. Na Idade Média, a mulher recebia educação nos conventos. Ao lado da religiosa, a instrução humanística também era ministrada. Mais tarde, nos castelos feudais, a educação feminina foi se processando. Mas a mulher do povo, em regra, era iletrada, ignorante e sem acesso à cultura.
O Renascimento, longe de trazer a lume os direitos obscurantados pelas trevas herdadas da Antiguidade e dos tempos medievais, foi quadro de uma grande perplexidade: existiam tanto mulheres míseras, famintas e calejadas do trabalho doméstico quantas condessas e princesas, que viviam no luxo, se divertindo muito para preencher o tempo livre do qual dispunham. Não obstante situações e realidades tão diversas, todas eram tratadas com igual desprezo, conservando as mesmas injustiças da Idade Média...
O Capitalismo Contemporâneo, da segunda metade do século XIX, assiste ao desenvolvimento socialista e, concomitantemente, ao antifeminismo pregado até mesmo nos sindicatos pela supressão do trabalho feminino em virtude da concorrência. Na vida política, entre 1914 e 1939, as mulheres obtiveram o direito de voto em mais de 28 países; em nações importantes, como Itália e França, isso só ocorreu na pós-Segunda Guerra.
A Segunda Guerra Mundial, como um furacão de fome, miséria e trabalhos forçados, levou consigo importantes parcelas da herança cultural da humanidade. A mulher, como maioria das populações em cada país, foi uma das principais vítimas do nazi-fascismo. "A mulher, mais do que nunca, desceu às condições de parideira e simples dona-de-casa. Muitas outras nas condições de prisioneiras, foram usadas no trabalho escravo ou como cobaias nos laboratórios onde se faziam as mais cruéis experiências. E em todo o mundo elas foram chamadas às frentes de batalha para lutar e às fábricas para produzir armas e alimentos para o front".
Terminada a guerra, em 1945, os homens retomam seus postos, perdendo a mulher, o terreno conquistado, com o aviltamento dos salários e o preconceito do trabalho da mulher casada. Todavia, um “novo horizonte estava por desabrochar...” (todo esse trecho histórico é da monografia, premiada em 13 de dezembro de 2000 pela OAB, da advogada Soraya Gulhote Kuhlmann), intitulada "A mulher frente aos direitos da personalidade".
Com essa viajem pela história, sinto que talvez seja por isso, que a justiça, a felicidade e a esperança sejam todas femininas. Será , apenas coincidência ou o indício de uma verdade incontestável? Ao refletir, vejo com alegria que inúmeras mulheres já estão fazendo diferença como vejo também com profundo pesar que algumas estão ao contrário, deixando passar a oportunidade se perdendo pelos atalhos da vida, preferindo mais o “ter” do que o “ser”.
Como sou do time das otimistas e sempre alimentada pela esperança, sei que haveremos de encontrar um denominador comum, onde aceitaremos de fato, de que a verdade, os direitos e deveres, não pertencem apenas aos homens ou as mulheres, gays ou lésbicas, tribos ou religiões e sim a humanidade toda. Portanto, parabéns a todas as mulheres que de fato, fazem a diferença e aos homens inteligentes que compreendem, aceitam, apoiam e respeitam essa “mulher”.
Inês Martins é produtora cultura, escritora, autora do concurso literário "Casos Lembrados, Casos Contados", direcionado às pessoas com idade acima de 60, poetiza, palestrante da maturidade, vovó blogueira e escreve neste espaço toda quarta-feira (www.vovoantenada.com.br)
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