Antonio Caloni e Duda Nagle,
caracterizados como César e Zeca
Num estudo que realizei sobre a
construção simbólica da violência em nossas televisões (e que pretendo publicar
ainda este ano), ficou evidente a “química” existente entre o telespectador e a
televisão, quando um determinado assunto monopoliza a sua atenção. Conscientes
disso, óbvio, as emissoras usam e abusam de vários recursos e tecnologias para
fazer a manipulação de diversas linguagens, sejam visuais, sonoras ou
interpretativas, justamente para captar a sua atenção. Quando um determinado
programa consegue isso você “prega o olho” e não troca de canal.
Fiz essa contextualização para entrar
no assunto da reportagem sobre a violência na escola, que foi ao ar dia
18/04/09, no programa Educação e Cidadania. Na verdade, não existem
estatísticas desta violência, as escolas encobrem as ocorrências (e aqui me
refiro a escolas públicas e privadas também) e os pais são capazes de bater no
professor que disser que o seu filhinho ou sua filhinha são tremendos arruaceiros
em sala de aula. Mas a violência na escola ou nas escolas de Santa Catarina,
existe sim. Em muitas delas, como o Forquilhão de São José, os educadores
admitem a sua existência, debatem o assunto com os estudantes, pais e até
criaram um Código de Convivência, por estarem se tornando insustentáveis as
brigas das oitavas séries.
O que dizem os educadores
1) Conversar abertamente com os
estudantes ajuda muito. De um debate realizado só entre os professores e os
alunos no auditório do Centro Educacional no início do ano, alunos baderneiros
se desculparam publicamente e garantiram que ajudariam a reverter o quadro nos
intervalos, onde acontecem as maiores brigas;
2) A direção do Centro Educacional,
resolveu também fazer acordos com os alunos mais problemáticos. Troca de turmas
e até turnos das aulas estão entre as providências;
Aulas de boullying em rede
nacional
Mas todos foram enfáticos em criticar
a novela da Globo (Caminho das Índias), pela prática da violência do aluno Zeca
(Duda Nagle) e as atitudes permissivas do seu pai, o advogado mau-caráter César
Gallo, personagem de Antonio Calloni .
Todos entendem a atitude na escritora
Glória Perez em mostrar como é a prática do boullying (que em Santa
Catarina rendeu a lei 14.651 sancionada pelo governador Luís Henrique no início
desse ano) e acreditam que lá no final da novela ocorrerão punições…em um
capítulo. Enquanto isso, em rede nacional aulinhas de truculência do pitboy Cesar
acobertado pelo paizão mau-caráter em pequenas doses, semana a semana, mês a
mês no período de duração da novela, vão “fazendo” a cabeça da garotada que
adora ver brigas na escola (Vide orkut. Escreva as palavras brigas na
escola e surpreenda-se ou não).
“O que é violência para você?”
Assim o professor e antropólogo Theóphilos
Rifiotis (coordenador do Levis/UFSC), iniciou sua aula da disciplina
Antropologia das Violências e dos Conflitos: a construção do perigo e da
sujeira, no curso de Ciências Sociais da UFSC.
Aquela foi uma aula onde mais nos
indagamos do que obtivemos respostas. Seria a violência um julgamento? Quando
um pai bate num filho, ele está sendo violento ou como justificam alguns pais,
apenas tentando educar aquela criança, já que “a vida irá bater” nela de várias
formas? Quando é mesmo que a mulher é vítima? Seriam as marcas de vários
hematomas no rosto ou corpo da mulher espancada pelo marido? E como classificar
as mulheres que verbalmente agridem e humilham seus maridos no dia-a-dia pela
incapacidade deles em conseguir emprego, sustentar a família ou de estarem
apáticos ou incapacitados sexualmente e que em contrapartida recebem agressões
físicas? Violência é isso?
Prosseguindo com este raciocínio, não
seria a violência um problema social justamente porque o senso comum a
considera apenas do ponto de vista da indignação, da negatividade, da
criminalidade e como problema a ser resolvido?
Quando colocamos certas questões
“pequenas”, aparentemente banais, como as que acabamos de formular,
relacionadas a dúvidas do senso comum e que justificam a razão da existência de
páginas policiais, percebemos que pela dificuldade que temos em dar um
significado sobre o que é violência, pela falta de visibilidade de um
significado, ela, a violência, se transforma num receptáculo de qualquer
significação. E justamente por causa dessa invisibilidade é que a violência
seria o ponto cego da sociedade.
Para os educadores é aqui que mora o
problema quando são avaliadas não somente a postura e dinâmica dos alunos em
sala de aula, mas todo o entorno sócio cultural da origem deles e
principalmente o contexto familiar. Para as emissoras, dentro dos critérios
políticos de concessão e por uma ótica estritamente comercial, altos índices de
audiência, uma grande e oportuna polêmica e um tremendo negócio. Bem-vindos ao
debate!
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