Do UOL, em São Paulo
Um professor brasileiro do
fundamental 2 (6º a 9º anos) ganhou, em média, US$ 16,3 mil por ano em 2009.
Enquanto isso, na média, um profissional com formação e tempo de experiência
equivalentes recebeu US$ 41,7 mil nos países da OCDE (Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Falta de dados
brasileiros sobre salário é “absurdo”
“É um absurdo o Estado brasileiro não
ter esse dado [sobre a remuneração do professor]”, afirma Rubens Barbosa de
Camargo, pesquisador em financiamento da educação básica na USP (Universidade
de São Paulo).
O especialista lembra que o MEC (Ministério da Educação) realiza anualmente o Educacenso, um levantamento detalhado da educação básica. “Faz o censo escolar [com estatísticas do perfil dos professores, como sua escolaridade e número de escolas em que leciona] e não pergunta quanto ele [o professor] ganha?”, diz Camargo.
O especialista lembra que o MEC (Ministério da Educação) realiza anualmente o Educacenso, um levantamento detalhado da educação básica. “Faz o censo escolar [com estatísticas do perfil dos professores, como sua escolaridade e número de escolas em que leciona] e não pergunta quanto ele [o professor] ganha?”, diz Camargo.
Se for levada em consideração a
situação do professor da rede pública, a comparação fica ainda pior. A média
anual é U$ 15,4 mil. Os salários dos docentes brasileiros foram calculados, com
base nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional Amostra de Domicílios) 2010 pela
Metas - Avaliação e Proposição de Políticas Sociais a pedido do UOL. Já
os dados da OCDE foram divulgados no começo de setembro no relatório anual
Education at a Glance ("Olhar sobre a Educação" em tradução livre).
“Salário é o principal [fator de
atração para carreira docente]”, afirma o pesquisador Rubens Barbosa de
Camargo, da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo). E os
estudos - além da experiência prática - confirmam e reafirmam a importância do
professor na qualidade da educação.
“Há muitos licenciados [profissionais
com licenciatura que podem dar aulas] que deixam a profissão. Melhorando o
salário, não só atrai a juventude como pode trazer de volta esses professores”, diz Camargo.
Para a economista Fabiana de Felício,
da consultoria Metas - Avaliação e Proposição de Políticas Sociais, a questão
que se coloca é: como selecionar bons professores se a profissão não é
valorizada. “É uma atividade desgastante e [dar aula é] um compromisso
inadiável. Tem de pagar um salário compatível [para que valha a pena ser
professor]” , diz Fabiana.
Diferença com
outros profissionais
Pelos cálculos da consultoria Metas,
o salário médio de um professor da rede pública com curso superior e com, pelo
menos, 15 anos de experiência (US$ 15,4 mil) não chega a metade (48,5%) da
remuneração dos demais profissionais (US$ 31,7 mil) no Brasil.
No caso dos profissionais do
fundamental de modo geral a diferença é um pouco menor. O salário anual médio
de um professor da rede pública (US$ 13,1 mil) é 54,7% do médio das demais
profissões (US$ 24,4 mil) com a mesma formação e o mesmo tempo de serviço.
Os números são ruins, mas já foram
ainda piores. "Com a introdução do Fundef [Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério] que
depois virou o Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
e de Valorização dos Profissionais da Educação], o professor deixou de ter
salários acintosos", diz Camargo.
Essa desproporção é comum mesmo nos
países ricos da OCDE. Na média, os países da OCDE pagam a seus professores 85%
do valor com que remuneram os demais profissionais da etapa equivalente ao
fundamental 2.
Na Finlândia, país tido como exemplo
pela qualidade da educação, um professor secundário com 15 anos de experiência
tem salário praticamente equivalente ao restante da força de trabalho (98%).
Dos 30 países com dados disponíveis, apenas quatro têm proporções na casa dos
50%. São eles: Islândia (50%), República Tcheca (53%), Estônia (57%) e Hungria
(58%).
Em comparação com os países da OCDE,
o Brasil está entre aqueles
com menor investimento anual por aluno do grupo, sendo o
terceiro que menos investe por aluno no pré-primário (US$ 1,696) e no
secundário (US$ 2,235) e o quarto colocado no primário (US$ 2,405).
PNE
Uma das 20 metas do documento
original do PNE (Plano Nacional de Educação), elaborado no final de 2010, diz
respeito à remuneração dos professores. Segundo o documento a 17ª meta das 20 propostas
é “valorizar o magistério público da educação básica
a fim de aproximar o rendimento
médio do profissional do magistério com mais de onze anos de escolaridade do
rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade
equivalente”.
Mais sobre
relatório da OCDE
- Brasil está
entre os que têm menor investimento por aluno, segundo OCDE
- 9 em cada 10
homens com diploma universitário estão empregados, mostra relatório da
OCDE
O PNE, que deveria estar em vigor no período
de 2011 a 2020, ainda se encontra na Câmara dos Deputados. A disputa que mais
tem causado o atraso de sua aprovação é o percentual de investimento em
educação. Movimentos em defesa da educação apontam para 10% do PIB (Produto
Interno Bruto).
No último capítulo dessa novela, a meta de investimento em
educação subiu de 7,5% para 8% do PIB e criou a possibilidade de elevar esse
percentual a 10%, caso metade dos recursos do
pré-sal, a serem investidos na área, representem 2% do total.
Segundo um relatório elaborado pela
Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), o salário dos
professores abocanham um valor equivalente a 1,5% do PIB nos dias de hoje. “Com
2% do PIB seria possível alcançar a média dos outros trabalhadores”, avalia
Rubens Barbosa de Camargo. Segundo ele, a valorização do magistério passa ainda
por melhoria nas condições de trabalho, como infraestrutura de qualidade e
diminuição do número de alunos por sala.
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