domingo, 29 de maio de 2011

Ensinar e aprender: duas coisas diferentes

María Torres Educadora Equatoriana.
Tradução: Beatriz Cannabrava

Ensinar e aprender são duas coisas diferentes.
Parece óbvio, mas não é.

Na prática, está muito arraigada a idéia de que ensinar e aprender são a mesma coisa. Que basta que alguém ensine para que outro aprenda. O professor, diante do aluno que admite que não sabe ou não entende, responde quase sem pensar:

- "Mas eu já ensinei isso!"
E se o aluno responde:
- "Mas eu não aprendi".

O professor pode até entender isso como uma incoerência, algo sem sentido e até como uma insolência, não como uma possibilidade real, como uma defasagem perfeitamente normal dentro de todo processo de conhecimento que envolve uma relação ensino-aprendizagem.

A própria expressão ensino-aprendizagem, tão repetida e utilizada na Pedagogia tem contribuído, sem dúvida, para favorecer e alimentar a confusão, criando a imagem (fonética e visual) de que os dois termos constituem uma unidade inseparável, dividida apenas por um minúsculo hífen. Mas a realidade nos indica que não existe essa unidade inseparável e que no meio há algo maior e mais grave que um hífen.

Porque a verdade é que pode haver ensino sem aprendizagem como também pode haver aprendizagem sem ensino.

Um professor pode ensinar as propriedades da soma e nenhum de seus alunos aprender o que ele ensina. Da mesma forma, um aluno pode aprender as propriedades da soma sem que ninguém tenha ensinado, pegando um livro e estudando por conta própria.

Ensinar e aprender são processos diferentes que envolvem sujeitos também diferentes: um educador e um educando.

Ensinar e aprender, por envolver processos e sujeitos diferentes, supõe também métodos diferentes: os mecanismos e estratégias que o professor utiliza para desenvolver a lição de História são diferentes daqueles que o estudante utiliza para aprender essa mesma lição.

O estudante vai recorrer, por exemplo, a associações com nomes ou episódios conhecidos ou vivenciados, enquanto que o professor estará se preocupando em reconstituir os autores consultados, buscar uma relação entre os acontecimentos, encontrar exemplos, etc.

A situação de ensinar sem que isso se traduza em aprendizagem efetiva é bastante comum e, de fato, acontece todo dia no sistema educativo. Se todo ensino se traduzisse automaticamente em aprendizagem todos os nossos estudantes seriam gênios.

O problema é que os professores ensinam, mas os alunos não aprendem.
O problema é que existe uma grande brecha e um grande desperdício entre a abundante informação que se ensina no sistema educativo e a informação que é efetivamente registrada, processada e aprendida pelos estudantes.
Uma margem razoável de desperdício de informação é inevitável em todo processo educativo.

Falta de motivação, de interesse, de atenção, de concentração, de compreensão, etc., impedem que o conhecimento seja registrado e fixado. Por outro lado, existem mecanismos naturais de seleção: nem tudo interessa a todos, nem da mesma maneira, motivo pelo qual cada um seleciona e prioriza a informação que recebe.

Por assumir que ensinar equivale a aprender, a educação tem se centrado tradicionalmente no ponto de vista do ensino, tirando a partir daí conclusões sobre a aprendizagem.

A Pedagogia, o debate metodológico tem girado fundamentalmente em torno aos métodos de ensino e não de aprendizagem, dando por sentado que os métodos de ensino coincidem com os métodos de aprendizagem.

Hoje, os novos ventos educativos estão finalmente fixando sua atenção na aprendizagem, ou seja, no ponto de vista do aluno. Esse fato marca uma mudança radical na pedagogia.

O objetivo final da educação é a aprendizagem e é a partir dela que se avalia o aluno, o professor e o sistema.

O que importa é que os alunos aprendam, não que os professores ensinem. Nessa perspectiva, o bom professor não é o que ensina muitas coisas, mas sim aquele que consegue que seus alunos aprendam efetivamente aquilo que ensina

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