sábado, 17 de dezembro de 2011

Oportunidades de aprendizado são desiguais entre escolas do Ensino Médio A conclusão é de estudo do Instituto Unibanco realizado com o Ibope João Bittar/MEC


Thiago Minami
Especial para o Todos Pela Educação

As oportunidades de aprender e de ensinar ocorrem de maneira desigual entre escolas de Ensino Médio que participaram da pesquisa "Audiência do Ensino Médio", realizada pelo Instituto Unibanco e pelo Ibope. De acordo com os resultados, divulgados nesta semana, em média, o aproveitamento do tempo em sala de aula é de 43%. Isso representa apenas 1h44 das quatro horas diárias previstas. A pesquisa comprovou também que, quanto menos aulas, pior o desempenho dos alunos nas avaliações.

Participaram do estudo alunos de 36 turmas de 18 escolas públicas de Ensino Médio, que foram divididos em três grupos. Os resultados não podem ser expandidos para o Brasil como um todo, mas oferecem um indício de como o tempo de aprendizado não é aproveitado.

Por terem características muito distintas entre si, as escolas foram divididas em três grupos, conforme a quantidade de tempo de ensino oferecido pela escola. O que apresentou desempenho mais baixo dos alunos tinha aulas mais concentradas no período noturno e oferecia cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

"Audiência"

Para avaliar o aproveitamento dos alunos, o Ibope aplicou o conceito de “audiência”, usado normalmente para programas de televisão. A audiência foi determinada por duas variáveis: o tempo destinado a atividades didáticas, chamado de “oportunidade de ensino”, e a quantidade de alunos presentes quando havia aula, chamada de “oportunidade de aprender”.

Ao longo de dez meses, ocorreu o acompanhamento da rotina de duas turmas de cada uma das 18 escolas. A pesquisa foi feita durante uma semana por mês, somando 8.689 aulas verificadas. Todas as participantes fazem parte de projetos do Instituto Unibanco. Avaliou-se também o uso do tempo de estudo fora da sala de aula. A variação foi de, em média, 1h03 a 1h15 por dia. “Isso é pouquíssimo, deveria ser de pelo menos quatro horas”, afirma Wanda Engel, superintendente executiva do Instituto Unibanco e doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

A parte do tempo perdida deve-se à ausência de professores ou alunos. Um dos três grupos de escolas avaliados não teve 37% do total de aulas durante o período de visitas. Nesse mesmo grupo, 45% dos alunos não estavam presentes. “É um dado preocupante, pois é um sinal forte de que esses jovens podem abandonar os estudos”, afirma Wanda.

O estudo concluiu também que existe uma grande disparidade entre as instituições analisadas. Aquelas em melhores condições tiveram 117.753 minutos de aula, contra 77.617 das mais fracas. É como se as primeiras contassem com 11 dias letivos a mais no ano. “Por essa razão, as medidas para solucionar o problema devem levar em consideração as características de cada escola, e não podem ser uniformes”, diz Wanda.

Soluções

“Uma solução possível para evitar a evasão é ter agentes nas escolas que verifiquem as razões da evasão e tragam os estudantes de volta. Podem ser pessoas que já trabalham lá”, afirma Wanda. Ela acredita ainda que é preciso oferecer oportunidades de trabalho compatíveis com o horário da escola, pois muitos largam os estudos para trabalhar. Outra medida é orientar as mães adolescentes sobre creches em que podem deixar seus filhos.

Do lado docente, é necessário oferecer incentivos aos profissionais assíduos e aumentar a rigidez com os faltosos. “É um problema de gestão”, explica. Segundo a pesquisa, após mensurar a quantidade de aulas que são efetivamente dadas, o próximo passo é pesquisar a qualidade do ensino ofertado no nível médio.

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