quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Quando o revisor de textos é um bode expiatório

Valdeir Almeida

A história apresentada abaixo é real (apenas o nome João é fictício para preservar a verdadeira identidade do profissional).
João é revisor de texto e copidesque de competência e experiência reconhecidas no mercado editorial. Certa vez, ele recebeu uma proposta que sempre recusara, mas, naquele momento, aceitou por ter vindo de uma pessoa com quem nutria certa relação de amizade: o gerente da gráfica que – sem pensar nas consequências, mas apenas no lucro – queria que João analisasse o livro de um cliente da empresa. O problema estava no prazo muito reduzido que essas duas pessoas impunham a João para analisar e corrigir o material de elevado número de páginas.

O resultado do trabalho foi como o previsto: João colocou em prática todo seu rico conhecimento dos recursos da língua, sua habilidade de diagnosticar erros linguísticos e sua experiência notável como copidesque e revisor de livros. Contudo, como precisou correr contra o tempo, deixou passar desapercebidamente alguns erros cometidos pelo escritor da obra em questão.

Após a publicação do livro, tais erros foram notados por alguns leitores e pelo próprio autor. Este se queixou com o gerente da gráfica dizendo que o dinheiro gasto com a revisão foi mal-empregado. O autor, como visto, não levou em conta o prazo exíguo que estabeleceu a João para revisar o livro; nem considerou que o revisor corrigiu os erros mais graves e que, se não o houvesse feito, iria, indubitavelmente, prejudicar a imagem deste escritor.

Essa história (real, frise-se) ilustra o risco de revisar um livro “em cima da hora”. A maioria dos escritores tem consciência de que é inviável avaliar um material extenso em prazo tão curto. Por outro lado, infelizmente, há os que – talvez por desconhecerem a complexidade da modalidade escrita da língua – exigem que seu livro seja analisado “à velocidade da luz”.
E é por sempre honrarmos nossos compromissos e primarmos pela qualidade dos nossos serviços que recusamos propostas como as relatadas acima.

Felizmente, a maior parte de quem solicita nossos serviços compreende que a revisão de texto exige, além de habilidade, um período de tempo peculiar. Tais pessoas são assim, conscientes, por serem escritores no real sentido da palavra, ou seja, valorizam cada profissional envolvido na feitura do livro: do diagramador ao revisor, do ilustrador ao operador do maquinário. Além disso, tais escritores têm o hábito de estabelecer cronogramas para a perfeita execução de sua obra, a fim de que cada passo seja dado sem pressa nem imprevistos.

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