domingo, 22 de abril de 2012

Estudante aprende 68% mais com bom professor

Alunos que têm os melhores professores aprendem mais do que aqueles com docentes piores

O conceito de que o aluno é quem faz a escola acaba de ser derrubado com a revisão de quase 200 artigos científicos nacionais e internacionais sobre Educação, reunidos em único estudo chamado Caminhos para Melhorar o Aprendizado. De acordo com o documento, alunos dos melhores professores aprendem 68% mais do que os colegas orientados pelos piores docentes. Quantidade de alunos por sala, apoio e estrutura da escola também são fundamentais para esses resultados.

Fruto de um trabalho conjunto entre a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Instituto Ayrton Senna e movimento Todos pela Educação, o levantamento considerou apenas as pesquisas cuja amostra contou pelo menos com 2 mil pessoas ou cem escolas – entre instituições de ensino fundamental e médio.

A compilação reúne dados a partir de experiências em salas de aula que obtiveram resultados positivos para o aprendizado. De acordo com o documento, os textos analisados e tornados públicos demonstram que “uma boa escola e um bom professor são indispensáveis para o aprendizado do aluno”.

“Por muito tempo, os estudos mostraram que o ambiente familiar era mais importante para o aprendizado e o professor, pouco. Os estudos passados falharam”, afirma Renato Paes de Barros, secretário da SAE. “Os novos demonstram que a qualidade do professor é a coisa mais importante da escola”, completa.

E nem sempre os educadores com mais tempo de carreira e com a melhor formação acadêmica são os melhores. De acordo com Barros, as pesquisas não apontam exatamente as características que o bom docente tem – ou deveria ter –, mas argumenta que “todo aluno e toda direção sabe quando o professor é bom”. E frisa: “Os alunos realmente aprendem.”

Especialistas e gestores ouvidos pela reportagem sustentam que a educação continuada do educador é fundamental para seu desempenho em sala. Para Paes de Barros, as escolas deveriam ter fichas – semelhantes a dos médicos – com um tipo de diagnóstico escolar do estudante, além de avaliações, como a Prova Brasil, todos os anos. “Ajudaria a medir o quanto as crianças aprenderam”.

Outros fatores

Se os progressos no campo da educação dependem do corpo docente de cada instituição de ensino, há outros fatores que também interferem nesse processo. Salas com até 15 alunos aprendem 44% mais que aquelas com 22 pessoas. Aulas com mais de 50 minutos não ampliam a absorção de conhecimento, mas as faltas são extremamente prejudiciais ao ensino: um aula a menos em cada dia letivo leva a uma queda de 44% no aprendizado. O mesmo baixo porcentual é percebido quando há redução de quatro dias de aula por mês ou crescimento da turma em 30%.

“A exposição do aluno ao professor é importante”, acrescenta o professor André Portela, coordenador do Centro de Microeconomia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas e também participante do estudo Caminhos. Para ele, o ambiente escolar, bem como o tempo que a criança passa na escola são determinantes para o seu desenvolvimento.

O foco do estudo é a educação básica. É nesse período, que inclui desde a alfabetização dos pequenos, aos 6 anos, até a conclusão do ensino médio, com 17 anos, que o aluno desenvolve várias competências. Por exemplo: “raciocínio, habilidades analíticas e tomadas de decisões”, aponta Portela.

Educadores em estudo contínuo

Especialistas concordam que a qualidade do professor é fundamental para o bom desempenho dos estudantes, mas fazem ressalvas.

“Se colocar as expectativas de aprendizado apenas no professor, deixamos, por exemplo, as instituições de ensino e as políticas públicas fora desse processo. E isso me preocupa”, alerta Neide Noffs, professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenadora do curso de Psicopedagogia da mesma entidade. “Outras variáveis interferem no aprendizado, como número de alunos em classe, infraestrutura, o envolvimento do aluno e sua capacidade cognitiva, emocional e psicológica”, completa.

Contudo, no que diz respeito à formação de um bom educador, Neide afirma que a educação continuada é fundamental.
É com essa formação, segundo a professora da PUC-SP, que o docente aprende a lidar com o magistério de fato e aproveita o tempo para, por exemplo, saber como lidar com o aluno hiperativo, displicente, acomodado.

“A formação continuada é importante para encontrar formas de adequar seu conhecimento à realidade dos alunos”, concorda Flavinês Rebolo, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação d a Universidade Católica Dom Bosco, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Contudo, ela questiona a inserção de mais avaliações para medir o desempenho do docente e o aprendizado dos estudantes. “Muitos profissionais relatam que param o conteúdo para direcionar as aulas para as exigências dessas provas”, revela.

Para ela, a educação, no Brasil, só poderá avançar se o País voltar a considerar a educação, não como uma forma de obter títulos e status, mas como o centro onde se “amplia o conhecimento, de humanizar o ser humano por meio do aprendizado”.

Finalmente, a reestruturação do magistério e a valorização do profissional, com melhores salários e condições de trabalho, são, para Flavinês, outro fator importante na formação de um bom profissional e do progresso do ensino brasileiro.

Bandeirantes tem bom resultado com foco no professor

Com 240 profissionais ligados diretamente à educação – dos quais 140 são professores –, o Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, zona sul da capital, figura entre as melhores escolas do País e está entre as dez primeiras do Estado de São Paulo, de acordo com os resultados divulgados pelo governo federal do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O último exame divulgado corresponde às avaliações de 2009.

Segundo o diretor-presidente da instituição de ensino, Mauro Aguiar, “professores motivados e qualificados” são a chave do aprendizado. “E uma boa infraestrutura e equipe de apoio também são fundamentais”, diz.

No Bandeirantes, todos os docentes fizeram uma especialização e são estimulados pela instituição a prosseguirem com os estudos de pós-graduação, a participar dos congressos nacionais e internacionais de suas áreas e de grupos com psicopedagogos, uma vez por semana, para debater temas relativos à sala de aula. “Temos uma professora de espanhol defendendo sua dissertação em Madrid (Espanha) e outras duas em aperfeiçoamento na Inglaterra”, conta Aguiar. A escola arca com todos os custos da formação dos docentes.

Coordenador de uma escola estadual em São Roque, no interior de São Paulo, o pedagogo Roque Jesus da Silva, viu os índices evasão caírem para zero, a frequência atingir a média de 97% a aprovação chegar a 90% dos alunos, depois de receber orientações do Instituto Ayrton Senna, que tem na formação continuada do professor um de seus braços de atuação.
Um dos motivos para a melhora dos índices é a adoção de fichas de acompanhamento mensal, que permitiu aos professores e ao próprios alunos verificarem a evolução de seu aprendizado.





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