quinta-feira, 26 de abril de 2012

Pedagogia Waldorf - 2


Elias Januário

Na semana passada falamos um pouco do surgimento da pedagogia Waldorf e dos principais eixos norteadores desta proposta pedagógica, criada por Rudolf Stainer, que tem entre outros propósitos a oferta de uma formação educacional de qualidade, marcada pela criatividade e o autoconhecimento de seus estudantes.

Foi no sentido de contrapor a vida sedentária e tecnológica da modernidade que a pedagogia Waldorf consolida-se como proposta educacional, despertando nos pais, professores e alunos a possibilidade de ter uma formação escolar que rompe com o cientificismo e a ausência de pensamento criativo.

A Antroposofia, eixo estruturante da pedagogia Waldorf, como dito anteriormente, não se trata de uma religião, mas sim de uma concepção de universo e do ser humano, concebida a partir de métodos científicos.

Nas escolas Waldorf, a vivência tem uma importância fundamental nas atividades pedagógicas. A vida de um estudante precisa estar permeada de vivências relacionadas aos seus anseios pessoais, onde o aluno deve ter contato com as atividades consideradas primárias do ser humano.

Com isso a existência no currículo Waldorf de matérias como jardinagem, marcenaria, cerâmica, forja e construções, que fazem com que o estudante tenha vivências que alargam o horizonte e enriquecem a formação do aluno.

Por esta razão, as artes, os trabalhos manuais e artesanais encontram na pedagogia Waldorf um espaço de destaque, na medida em que proporciona às crianças e jovens o contato com diferentes materiais e atividades básicas das sociedades como fiar, pintar, esculpir, forjar, tecer e modelar.

Outro aspecto explorado nas escolas Waldorf é a sensibilidade, que por meio dos trabalhos manuais será aprofundada, propiciando ao estudante adquirir perseverança e capricho nas atividades que se propõe a fazer ao longo da vida adulta.

O esforço contínuo da repetição presente nos trabalhos manuais por meio de movimentos torna-se um excelente exercício para desenvolver e consolidar a vontade e a persistência, características fundamentais na personalidade de uma pessoa.
No que se refere à avaliação, a pedagogia Waldorf desconsidera os modelos tradicionais que visam saber o rendimento do aluno, quantificando e comparando com os outros colegas.

A avaliação Waldorf tem como perspectiva a compreensão da personalidade e as múltiplas faces do aluno no seu processo de aprendizagem, buscando verificar as potencialidades do estudante no trabalho escrito, na riqueza de pensamento, na estrutura lógica, no estilo, na ortografia, sem deixar obviamente de aferir os conhecimentos universais. Mas feito sem a aplicação de provas, teste e sabatinas. A forma de avaliar é por meio de uma caracterização qualitativa.

Essa avaliação se materializa por meio de relatórios que discorrem sobre a biografia escolar do estudante ao longo do período letivo, enfocando também aspectos relacionados ao comportamento e o esforço do educando. A avaliação quantificada, quando exigida pelo sistema de ensino local, é feita e mantida em sigilo e entregue aos pais no caso de transferência. O que importa na pedagogia Waldorf é o processo, as mudanças a médio e longo prazo.

Para Rudolf Lanz, pioneiro dessa pedagogia no Brasil autor de inúmeras obras sobre o tema, enfatiza que a repetência procura ser evitada ao máximo, ocorrendo em casos onde há consenso de todos os professores. O importante é ajudar o aluno a superar as suas limitações e dificuldades, para que possa prosseguir na sua busca do conhecimento e formação humana.

Por se tratar de uma pedagogia que tem apresentado resultados inovadores em diversas escolas por inúmeros estados brasileiros, concluiremos a nossa reflexão sobre a educação Waldorf no próximo artigo, discorrendo sobre a sua aplicação em temas da atualidade.

Elias Januário é doutor em Educação, professor de Antropologia da Unemat e escreve às sextas-feiras em A Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br

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