domingo, 22 de abril de 2012

Sugestão de aula: De grão em grão... a história dos provérbios

De grão em grão... a história dos provérbios
Investigue a origem dos provérbios mais usados em diferentes regiões do Brasil e questione os alunos sobreos valores que estão por trás dos ditados populares

Objetivo
- Perceber o conteúdo ideológico dos provérbios.
- Analisar a relação entre provérbios e "sabedoria popular".

Conteúdos
- Provérbios da Língua Portuguesa.
- Sabedoria popular.

Tempo estimado
Duas aulas

Materiais necessários
Cópias do artigo "'O seguro morreu de velho’: a história de um provérbio vivo" (Veja, Ed. 2245, 30 de novembro de 2011); computador com acesso à internet para mostrar o vídeo da canção "Bom Conselho", disponível em http://abr.io/1Yf7 (você também pode utilizar um aparelho de som para mostrar a canção aos alunos); cópias da letra da canção para todos os alunos; cartolinas e canetinhas para a elaboração de um painel de provérbios.

Introdução
O artigo de Veja sobre o provérbio "O seguro morreu de velho" aponta um caminho interessante para analisar com a turma que conteúdos ideológicos estão por trás das manifestações da chamada "sabedoria popular". Percorra essa trilha com os alunos.

Desenvolvimento
1ª aula
Comece distribuindo aos alunos cópias do artigo de Sérgio Rodrigues, intitulado "'O seguro morreu de velho’: a história de um provérbio vivo" e conte à turma que os dois próximos encontros serão dedicados a analisar os provérbios da Língua Portuguesa que mais utilizamos em nosso dia a dia.
Após a leitura silenciosa do texto, verifique se todos os alunos sabem o que são provérbios. Para tanto, sugira que cada estudante escreva os provérbios que conhece em uma folha de papel. Esse material, depois de eliminadas as repetições, vai servir para a montagem de um painel sobre os provérbios da Língua Portuguesa, e em especial os utilizados nas diversas regiões do Brasil. Lembre que vários deles são formulados de maneira diversa em Portugal e nas regiões de nosso país. E alguns podem soar obsoletos, fazendo referência a coisas que não existem mais: estão "mortos" ou "em estado terminal", em oposição ao que o autor do artigo de Veja chama de "provérbios velhos, mas ainda vivos".
Em seguida, coloque em discussão a ideia de "sabedoria popular". Leve a turma a perceber que se trata de um conhecimento acumulado e transmitido durante gerações e que, por vezes, é identificado ao "senso comum". Os provérbios estão entre os meios de transmissão desse conhecimento, que pode ser confirmado ou negado por pesquisas de cunho científico.
Solicite aos alunos que destaquem os ditados citados no artigo, entre os quais o conhecido: "Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém". Ressalte a existência de rimas em alguns deles: "Confia no futuro, mas põe a casa no seguro" e "Quem corre pelo muro não dá passo seguro". Mostre que esse recurso facilita a memorização do provérbio.
Chame a atenção para a presença, na maioria dessas afirmações, daquilo que o autor chamou de "um tom de cautela e conservadorismo". São expressões de um conhecimento de raízes camponesas e burguesas, que abrangem diferentes conteúdos ideológicos.
Forneça alguns exemplos e peça que os jovens enriqueçam a lista, classificando os provérbios de acordo com a mensagem que desejam transmitir, conforme explicitado abaixo. Eles também devem explicar, com suas próprias palavras, o sentido dessas "pílulas".

Persistência
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Deus ajuda a quem cedo madruga.
De grão em grão a galinha enche o papo.

Aceitação de relações sociais marcadas pela desigualdade
A corda arrebenta sempre do lado mais fraco.
Quando o pobre come frango, um dos dois está doente.
Quem nasceu para dez réis não chega a vintém.
Em terra de cego, quem tem um olho é rei.
Casa de ferreiro, espeto de pau.

Expectativa de que as faltas cometidas serão punidas
A justiça tarda, mas não falta.
A mentira tem pernas curtas.
Após a tempestade vem a bonança.
Aqui se faz, aqui se paga.
Quem espera sempre alcança.

Solidariedade
A união faz a força.

Individualismo
Cada um puxa a brasa para a sua sardinha.
Cada um por si, Deus por todos.

Igualdade "plebeia" entre os indivíduos
Quando um burro fala o outro abaixa as orelhas.
Cada macaco no seu galho.
Cada cabeça, cada sentença.

Ensine que, em certas ocasiões, o conservadorismo dos setores socialmente dominados tem como contraponto a esperteza de alguns indivíduos desses segmentos. Uma qualidade corporificada em personagens como Pedro Malasartes, protagonista de contos populares portugueses e brasileiros. Numerosos provérbios estão associados a essa astúcia popular. Um deles é citado na revista: "Quem não arrisca não petisca". Mas há muitos outros, como por exemplo:

A ocasião faz o ladrão.
A cavalo dado não se olham os dentes.
À noite todos os gatos são pardos.
Caiu na rede é peixe.
Feio é roubar e não poder carregar.
Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.

Para finalizar, levante a discussão com a turma: essas lições de esperteza dificultaram ou facilitaram a sobrevivência dos setores na base da pirâmide social no Brasil?

2ª aula
Retome a discussão da aula anterior, sobre as ideologias que estão por trás dos provérbios. Em seguida, conte à turma que na composição "Bom conselho", Chico Buarque inverte ou modifica o sentido de alguns ditados populares. Faça com que todos escutem a canção e leiam a letra:

Bom conselho
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade

Depois da audição e de um breve comentário da turma a respeito da canção, solicite aos alunos a escrita da versão tradicional dos provérbios citados na música. Proponha que cada estudante modifique dois ditados de sua escolha, segundo o modelo de "Bom Conselho". Depois, coloque em debate: a versão feita pelo poeta pode ser considerada mais instigante que a tradicional? Ela sinalizar com mais clareza a ideologia que permeia a construção dos provérbios?
Depois do debate, coordene a montagem de um painel de provérbios da classe, com as versões originais e adaptadas dos ditados escolhidos pela turma.

Avaliação
As atividades vão esclarecer que a maioria dos ditados expressa um senso comum de raízes camponesas e burguesas. Mas, por vezes, a sobrevivência dos setores humildes, em uma sociedade profundamente desigual, dependeu de uma pitada de esperteza individualista - e a "sabedoria popular" também explicita essa dimensão. Além disso, a modificação de alguns provérbios, segundo o modelo de Chico Buarque em "Bom Conselho", veicula uma visão de mundo transformadora e de contestação aos valores estabelecidos. Observe a participação dos alunos em sala e nos trabalhos propostos.
Quer saber mais?
Discografia
"Bom conselho", Chico Buarque, álbum O Político, 1991.



Consultoria Carlos Eduardo Matos
Jornalista e editor de livros didáticos e paradidáticos.

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