Autor: Marcelo Greger
Cuiabá aparece na pesquisa “Os Emergentes dos Emergentes: Reflexões Globais e Ações Locais para a Nova Classe Média Brasileira”, realizada pela FGV, e divulgada em 27/06/2011, como a 57ª renda média dentre os municípios brasileiro, vencendo cidades como Campo Grande (82ª), Londrina (64ª), Palmas (59ª), citando apenas algumas referências de cidades que, reconhecidamente, oferecem qualidade de vida e infraestrutura de bom nível às suas populações.
Esse dado sozinho pode ser insuficiente para se comparar ou classificar cidades, mas traz uma certeza: quanto maior a renda média da população, maior o potencial de arrecadação do governo local, e maior, portanto, o potencial de investimentos.
O que ocorre então com Cuiabá? Por que vivemos numa cidade de lastimáveis níveis de infraestrutura, saúde e educação? Por que, quando comparamos esses indicadores com as cidades acima citadas, perdemos feio em todos? Por que ainda convivemos com esgoto e lixo a céu aberto? Por que nossas ruas, quando não estão esburacadas, estão cheias de remendos?
Ora, sabe o cuiabano que vivemos há décadas um apagão de gestão municipal. Não houve, nos últimos 40 anos (pelo menos), um prefeito sequer que tenha se destacado por gerir a máquina pública de forma elogiável, todos, sem exceção, apresentaram deficiências graves, seja na incapacidade de arrecadar e aplicar os recursos com eficiência, seja na ausência de coragem em promover um enxugamento e profissionalização do serviço público. E todos, sem exceção, se notabilizaram pela total incompetência em romper com os padrões vigentes. Tudo em nome das “tradiçãos”.
Some-se a isso uma Câmara Municipal inoperante, totalmente equivocada no cumprimento de seu papel, e que sobrevive por simples exigência regulamentar. Aliás, alguém conseguiria citar uma ação de destaque desta Instituição, que tenha trazido benefício direto e mensurável à toda população? Eu procurei e não encontrei, vi muita articulação, muitos discursos, pouquíssima ação.
Existe uma saída? Pelo que vemos no (pobre e repetitivo) noticiário político local, há pouca esperança. Nenhum dos pré-candidatos que começam a se articular está desligado de algum modelo de gestão, anterior ou vigente, que não esteja contaminado com todas as ignomínias da incompetência e do descaso na gestão pública. Nenhum deles demonstrou capacidade administrativa, e vários deles estão comprometidos desde já com interesses de concentração da renda, construtoras e superfaturamentos, atraso e isolamento da nossa cidade, os cânceres que nos atrasam e nos isolam do mundo desenvolvido.
Bem, e como reage o cuiabano? Ora, o cuiabano, em sua maioria, é um sujeito passivo, desinformado, resignado com a realidade de sua cidade, descrente em uma solução. Reage fortemente às críticas dos “pau rodados”, como chamam os “invasores” de outros Estados, que chegam para aqui viver, e que, normalmente, tem um grau de tolerância muito menor com os problemas da cidade. “Não tá gostando, volta prá sua terra!”. Se essa reação enérgica se voltasse aos gestores locais, quantas diferenças veriam!
Essa passividade, esse desejo de continuidade, que muitos cuiabanos alimentam e defendem, só ajuda a perpetuar o modelo de gestão municipal que aí está, há mais de 40 anos.
Não entendem que o que transforma a realidade de uma cidade não é Copa do Mundo, não é PAC 1, 2, 3 ou 4. O povo, consciente e participativo, é que, através do seu voto, pode mudar a realidade. Através de protestos, de greves, de mobilizações, pode exigir que os gestores atuem de forma mais efetiva. Nada de violência, apenas mobilização, participação, senso crítico, e tolerância zero à incompetência.
Essa cidade caminha para seus 300 anos, e seria maravilhoso, DIGORESTE MESMO que, até lá, o seu povo mudasse de postura e reconhecesse seu papel de partícipe da gestão pública, de cobrador de resultados, de fiscal dos governantes. Produziria resultados que os mais “tchapa e cruz” dos cuiabanos duvidam serem possíveis.
Marcelo Greger é servidor público federal, e atento observador da realidade social, política e econômica.
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