segunda-feira, 20 de junho de 2011

MT- Professor explica que tirar as calças em protesto foi aula de cidadania

Da Redação - Lucas Bólico
Folha do Estado

Era para Nusa Amorim ser mais um professor no meio de tantos da rede estadual que protestam por melhores salários nesta greve. Mas ele se destacou ao tirar as calças em uma manifestação, exclamando que é assim que o governo quer deixar os educadores: de calça na mão.

Na matéria prevenção, o professor tirou nota 10: estava com um comportado shortinho preto que o impediu de pular das páginas de educação para as policias por atentado ao pudor. Mas na disciplina de clareza, ficou de recuperação e precisou escrever um artigo para justificar seu ato muito criticado, que segundo ele foi uma aula de cidadania.

Leia abaixo o artigo do professor famoso pelas calças na mão.

“Porque das calças na mão”

Aquilo que fiz na tarde deste dia 16 de junho na Assembléia Geral de professores e que alguns torceram o nariz com a hipocrisia fidalga da sociedade, nada mais foi que uma aula de cidadania. Na verdade tudo que a professora Ana Gurgel com muita propriedade e sabedoria disse na Câmara dos deputados do Rio Grande do Norte, eu sintetizei no gesto das calças na mão.

É assim mesmo que muitos querem os profissionais da educação, sempre com as calças na mão e isso não é característica deste governo Silval Barbosa, nem tão pouco um problema local de Mato Grosso, isto é um problema nacional e na verdade isto é histórico. A desvalorização dos profissionais da educação em nosso país teve início quando estrategicamente se iniciou a popularização educacional no Brasil. Até meados dos anos 1970, a educação era coisa de poucos brasileiros elitizados, a maioria absoluta da população ia até somente a antiga quarta série. Naquela época um professor, tido como um profissional respeitado e valorizado recebia mensalmente cerca de dez salários mínimos, seu poder aquisitivo era muito bom. Com a “educação para todos” multiplicou-se o número de professores no país, na mesma proporção em que estes profissionais foram desvalorizados.

Lembro-me de meu pai quando eu ainda era criança, me dizendo que o maior bem que ele poderia me proporcionar era a educação, isso eu ouvi e ouço até hoje na boca da maioria das pessoas. Mentiu meu pai e mentem estas pessoas, pois nunca vi nem ele e nem tão pouco a sociedade brasileira envolvida de fato nas questões educacionais deste país. O compromisso do povo brasileiro com a educação é só da boca pra fora. Do contrário, nossa sociedade não permitiria, por exemplo, que um juiz formado em bancos de escolas e que a maioria da população jamais viu frente a frente desenvolvendo suas importantes atividades profissionais, ganhasse mais de vinte mil reais por mês, enquanto os professores, por estes sim hoje, praticamente todos os brasileiros passam boa parte de suas vidas e formação intelectual, tenham que entrar em greve como aqui no Mato Grosso, para conquistar a mísera quantia mensal de R$ 1.312,00. Será que um juiz é realmente tão mais importante na vida da população brasileira que os profissionais da educação? Um juiz julga e penaliza de acordo com as leis vigentes no país, um cidadão que cometa algum crime. Já o professor, por meio de uma aula bem ministrada em sala, pode evitar que o cidadão cometa o crime. Qual o mais importante para sociedade? O Juiz, vinte mil reais por mês que pune, ou o professor R$ 1.312.00 que pode evitar? Além do mais, você é capaz de passar toda sua vida sem nunca nem ver um juiz, já um professor...

Infelizmente para nós e para o povo brasileiro, os professores há muitos anos por todo o país estão com as calças nas mãos, tendo que acumular jornadas de trabalho, ou mesmo desempenhar outras atividades profissionais para poder aumentar seu poder de consumo, diminuindo e muito a qualidade da educação para as crianças, jovens e adultos, como mostram os índices do Indep. E é com as calças na mão que políticos e empresários do Brasil, como também os países desenvolvidos do mundo querem os professores brasileiros.

Políticos querem uma população ignorante para continuar servindo como massa de manobra e se manter no poder deste país. Empresários precisam de mão-de-obra barata e não consciente de seus direitos trabalhistas e sociais, querem lucros. Já os países desenvolvidos do planeta (Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, etc.), jamais vão querer que países subdesenvolvidos, entre eles o Brasil, tenham um povo culto, inteligente, educado e conquistem novas tecnologias, modernos conhecimentos nos diversos campos da ciência, desenvolvam suas indústrias, suas produções, pois isso significaria a verdadeira independência destes povos, e conseqüentemente, diminuição de mercado internacional em seus domínios. O que seria da Coca Cola, se nós inventássemos uma bebida mais gostosa? O que seria da Fiat, da Honda, da Wolksvagen, entre outras empresas transnacionais do setor de veículos, se desenvolvesse nossa própria indústria automobilística, com tecnologia genuinamente nacional? Isso só será possível com uma educação de qualidade, contudo estes países não querem e fazem de tudo para que não aconteça, e por isto querem que todos os professores do Brasil, permaneçam sempre com as calças na mão, e o pior, junto com os professores, toda uma nação.

Nusa Amorim, Professor de Geografia da rede estadual de educação

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