Carta sobre o crack
Por Içami Tiba
Olá!
Você, meu jovem, que se interessa muito pela minha profissão.
Sou psiquiatra de formação mas faço coaching de jovens, como um “técnico personal” da vida.
Você pode pensar que psiquiatra é para atender loucos, pirados, doidões, psicóticos... É verdade, atendo tudo isso. Mas não é só esse pessoal que atendo. Atendo também os normóticos, isto é, os que estão entre os normais e neuróticos.
Vou lhe contar um jeito fácil de você entender o que é uma pessoa normal, um neurótico, um psicótico e um psiquiatra:
O normal: Sonha com castelos no ar...
O neurótico: Constrói castelos no ar...
O psicótico: Mora neste castelo construído no ar...
Psiquiatra: Cobra aluguel do psicótico... Humor negro, hehehe!
Meu presente: escrevendo meu 30º livro. Já vendi uns quatro milhões de livros. Continuo atendendo adolescentes e suas famílias no consultório. Hoje atendo meu 76.001º adolescentes em 43 anos de consultório. Sabe o que significa este número? Só para você me entender: se eu tivesse atendido um paciente por dia, incluindo sábado, domingo, feriados e férias, levaria 210 anos para atendê-los todos...
Meu assunto com você hoje é sobre drogas, especialmente o crack.
Sei que você pensa que nunca vai usar crack na vida. Mas ninguém que usa crack hoje pensou no passado que usaria crack um dia, pois já sabiam que crack é droga pesada, vicia a pessoa e é difícil largar este vício.
Para chegar ao crack, a pessoa passa primeiro por bebida, cigarro, maconha e cocaína. Nem sempre nesta ordem, mas com certeza o que precedeu o crack foi a cocaína.
Eu costumo chamar de canabista quem fuma maconha, por causa do nome científico da planta Cannabis sativa, para não chamá-lo de maconheiro, pois aí é baixaria...
Vou fazer uma comparação da progressão do uso da maconha com a de um relacionamento afetivo.
Paquera: você presta atenção na maconha: pergunta, lê, conversa com o melhor amigo ou alguém de sua confiança, identifica quem usa, etc.
Ficada: se aprovou na paquera, passa para a “ficada”, que é a experimentação para saber como é que é...
Rolo: se aprovou a ficada, passa a ser rolo, isto é, usa cada vez que acontece de encontrar.
Namoro: quando já leva para a casa, vira companheira constante, beija (usa) a hora que quiser.
Casamento: compra a maconha e guarda em casa para usar também em casa.
Filhotes: quando surgem as complicações do uso da maconha, e que podem aparecer em qualquer etapa, como gravidez precoce numa ficada ou namoro. Filhos são para sempre.
Conforme as drogas vão ficando mais fortes, da paquera ao casamento e filhotes leva-se menos tempo.
Com o crack, existe um pulo gigante da paquera para casamento e filhotes, já na primeira ficada.
Tudo isso porque nosso cérebro faz tudo para sentir o mesmo prazer que já sentiu.
Das drogas existentes, o crack é o que provoca uma alteração química tão grande que o cérebro não volta mais ao normal, isto é, só de baixar o nível de crack no sangue, a pessoa não consegue mais controlar o desejo químico de usar mais.
Quem nunca usou crack, quando usa, quer pipar outra vez e não importa quanto custe, quer usar. Relógio, telefone celular, roupas do corpo, tudo é “pipado”. E quando não tem mais nada, o vendedor de crack o maltrata, chama a polícia, enfim, apronta o diabo para o usuário sair de perto, senão ele fica insistindo até conseguir. Se for masculino, vai até assaltar para conseguir dinheiro. Se for feminino, se prostitui com um transeunte qualquer para tudo ser pipado.
O problema do crack é que ele agrada tanto o cérebro que aprisiona a pessoa, a ponto de ela não conseguir largar dele – e nada mais é importante para ela. O que o crack provoca é uma dependência química que ninguém consegue controlar sozinha. Vai ter de ser tratada à força, pois nenhum pai ou mãe admite perder um filho para as drogas.
Você gostaria de ser escravo da droga? De ser um dependente químico? Então nem a paquere. Pois quem paquera acaba ficando....
No crack, meu jovem, “Ficou, ferrou!” Porque com crack você constrói castelos no ar, mora nele e ainda paga um aluguel pesadíssimo!
Abraço amigo,
Içami Tiba
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