Sucesso em olimpíadas científicas leva jovem brasileiro a Harvard
G1
Luis Henrique Pimentel Bennaton Usier, de 17 anos, largou o curso de relações internacionais para o qual acabou de ser aprovado na Universidade de São Paulo (USP) e se prepara para conhecer três universidades americanas para as quais também foi selecionado, Harvard, Princeton e Columbia. O sucesso em um dos vestibulares mais concorridos do país e a aprovação em três das melhores instituições de ensino superior do mundo se devem à dedicação aos estudos e também, ressalta o estudante, à sua participação em olimpíadas científicas.
O jovem, que mora em Guararema, no interior de São Paulo, começou a participar de olimpíadas no final do ensino fundamental. Gostou tanto que fez parte de equipes de física, química, matemática e robótica. Destacou-se em biologia e chegou à competição internacional em 2010. Foi medalha de bronze na Coréia do Sul.
Agora, planeja a viagem aos Estados Unidos com a escolha da universidade praticamente feita. Até agora só pensa em Harvard. “Quero me tornar um bioquímico, um cientista, mas também quero estudar política, porque adoro”, afirmou. Vai estudar com bolsa de estudos oferecida pela própria instituição.
As olimpíadas científicas são sucesso entre jovens dedicados aos estudos como Luis. São promovidas por entidades como as sociedades brasileiras de cada área, universidades e com apoio e patrocínio de empresas. Cada uma tem sua particularidade, mas a maioria tem mais de uma fase, parte delas é feita na própria escola e outra parte em grandes eventos com provas teóricas e práticas. As competições brasileiras servem como seletivas para olimpíadas internacionais.
Com 200 mil participantes em 2010, a Olimpíada Brasileira de Física, por exemplo, é a maior do mundo, segundo o coordenador geral, professor Euclydes Marega. “Na Índia, tem 30 a 40 mil estudantes”, disse. O sucesso, para o professor, ocorre porque a competição já faz parte do calendário de atividades extracurriculares das escolas. “As escolas entenderam o objetivo da olimpíada, de fazer com que todos se mobilizem”, disse.
A olimpíada de química começou com 186 participantes em 1995. No ano passado, teve 15 mil inscritos. No início, os prêmios eram em dinheiro, com o tempo passaram para medalhas e certificados. "Os estudantes dão muito mais valor", disse o coordenador nacional do Programa Nacional de Olimpíadas de Química, professor Sergio Melo, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
No caso da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, a ideia é interagir com professores que ensinam os temas nas escolas, segundo o presidente da competição, João Canalle. “Damos ideias de atividades práticas, experimentos, observações noturnas”, afirmou. Na olimpíada, há atividades divertidas, como o lançamento de foguetes com refrigerante, vinagre e fermento. Os melhores ganham uma viagem para participar de uma competição nacional da categoria em Minas Gerais.
Ótimo em matemática
Franco Matheus de Alencar Severo, de 15 anos, faz o primeiro ano do ensino médio em uma escola particular do Rio de Janeiro. Estudou até o oitavo ano em escola pública. No ano seguinte, depois de participar de uma prova, ganhou bolsa integral em uma escola particular.
Hoje, divide seu tempo entre as aulas normais da escola e o treinamento para olimpíadas de matemática. “Antes, não imaginava que existia matemática de tão alto nível e divertida. É legal resolver problemas, exige criatividade. É interessante”, disse o adolescente. O jovem participa das últimas seletivas para as olimpíadas internacionais. “Quero muito ir”, afirmou. Estuda durante o dia e à noite, em casa.
A mãe dele, a diarista Valéria Xavier de Alencar, de 46 anos, disse que teve ajuda do filho para terminar o ensino médio no ano passado. “É o meu maior orgulho. Meu bebê intelectual. Ele é muito esforçado”, disse.
Auto-estima
O diretor de ensino do Sistema Elite de Ensino, Luciano Guimarães Monteiro de Castro, de 38 anos, também já foi um medalhista das olimpíadas de matemática. Começou a competir aos 15 anos depois de ver um cartaz na parede da escola. “Tinha certeza absoluta que não era capaz, mas fui porque gostava de matemática”.
Um ano e meio depois de começar a resolver os problemas apresentados pelos professores, passou a ser premiado no Brasil e no exterior. Um de seus prêmios foi uma bolsa de estudos para fazer a graduação na Espanha. Ganhou ainda um doutorado no Canadá. Para se destacar, chegava à escola às 7h e saía às 20h. Não via TV, mas aproveitava os finais de semana para sair e namorar. “Não era obrigação ou sacrifício. Eu gostava”, disse.
Hoje, além de dirigir a própria escola no Rio de Janeiro, treina novos candidatos a medalhistas nas olimpíadas. “Quando o aluno começa a acreditar, tem um salto na qualidade”, disse.
Apaixonado pela matemática, Luciano aponta seu sucesso nas competições como o motivo do aumento de sua auto-estima e o que o ajudou a tomar decisões importantes na vida. Quando foi estudar na Espanha, aos 20 anos, resolveu se casar com a namorada de 16 anos. Enfrentou a preocupação da família. “Estamos juntos até hoje”, disse.
O mesmo ocorreu quando decidiu abrir sua escola com amigos. Começaram com duas salas de aula e hoje tem mais de oito mil alunos. “Tem tudo a ver com minha auto-estima. Quando percebi que podia resolver coisas que antes achava que eram impossíveis. Virou uma chave na minha cabeça”, afirmou.
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