domingo, 10 de abril de 2011

Cazuza: O professor

Fabio Flores*

Recentemente assisti ao filme “Cazuza – O tempo não para” e assim como as quase trezentas pessoas que dividiam a mesma sala de cinema, senti-me vitima de uma overdose de emoções, que nasciam do desequilíbrio que o homem escondido atrás do mito nos apresentava na sua ácida e doce maneira de viver a poesia e combater a mediocridade. As lágrimas que me roubaram as palavras naquele momento fizeram-me concluir que a escola (tal qual está) é a antítese da poesia.

A lógica taylorista que rege o cotidiano acadêmico, nos obriga a negar a relatividade do tempo e assumir uma objetividade que pasteuriza a diversidade em nome dos prazos, pautas e planejamentos importados e impostos pela lógica neoliberal. Cazuza bradava aos quatro ventos que “o tempo não pára”, e por esta razão fazia questão de viver o agora intensamente. Na escola quase nunca fomentamos a fome pelo agora, pois tentamos preparar o estudante para o futuro presos a um modelo ultrapassado.

Cazuza tinha como um lema a máxima; “entre o certo e o errado existem todas as outras coisas”. Infelizmente a lógica cartesiana impede que a escola perceba as múltiplas representações de uma “verdade”, pois tal qual Narciso, achamos feio aquilo que não é espelho. Esperamos do aluno a reprodução fiel de “nossos” conceitos, desta forma construindo o imobilismo da ciência e a alienação travestida de erudição.

A poesia de Cazuza é marcada pelo grande questionamento em relação aos valores e falsos pudores das classes abastadas do sistema capitalista, ele debochou do “amor” como objeto de consumo e fez piada com o sonho classe média. Esta é a atitude do poeta, muito mais que escrever a poesia é viver a poesia, e viver a poesia é ter coragem desafinar do coro dos contentes.

Quantos poetas não estão sendo assassinados nos bancos escolares? Crimes contra a arte, são crimes contra a humanidade. É uma pena que os crimes contra o patrimônio sejam mais importantes (para nossa “justiça”) que os crimes contra a humanidade. Nossa escola expulsou Carlos Drummond de Andrade sob a alegação de que ele seria possuidor de “insubordinação mental”, numa explicita manifestação do caráter nazista e adestrador de um sistema que não admite conviver com o diferente, e sente-se ameaçado pela pluralidade.

Recomendo que os professores assistam o filme com o coração aberto para uma sessão de auto-analise provocada pelas imagens da película. Deixemos a diversidade figurar nosso cotidiano, e a poesia invadir nossa vida, pois como diz o Prof. Paulo de Tarso Ayub “é melhor conviver com a inquietude do que com a passividade e a alienação”. Façamos de nossas aulas uma música, “pra poesia que a gente não vive, transformar o tédio em melodia”.

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