Tentem imaginar a seguinte situação: um homem trabalha na indústria e possui um cargo de chefia. Sua função é atingir a produção coordenando um grupo de funcionários dos mais variados níveis de competência. Logo nos primeiros dias de trabalho ele percebe que não há material de trabalho suficiente para todos, que as máquinas estão obsoletas, que o empresário dono da indústria largou tudo ao “Deus dará”, o culpa pelo fracasso na produção e ainda fica do lado dos funcionários quando recebe alguma reclamação. Para piorar esse homem percebe que ganha menos que outros “gerentes”, só porque trabalha ali na produção, apesar de possuir boa formação e currículo impecável.
O que esse homem escuta das outras pessoas quando reclama de sua situação? “Oras, larga esse emprego”, “parte pra outra coisa, pois não compensa passar por isso”. Claro que ele escuta esses conselhos, larga o emprego e vai ser feliz em outros lugares. O empresário coloca outra pessoa em seu lugar e essa pessoa logo percebe a fria em que se meteu e também vai embora. Para salvar seu “negócio” o empresário se vê obrigado a mudar as condições de trabalho para atrair novos “gerentes” e principalmente convencê-los a ficar.
Agora pense no professor. Ele passa por condições semelhantes (guardada as devidas proporções, claro). Nem preciso descrever o dia-a-dia do professor que todos já estão cansados de saber. Quando ele reclama o que escuta? “O problema não é o salário, mas a forma como se encara a educação”, “falta comprometimento do professor com a educação”, “o professor não compreende as necessidades das crianças e adolescentes atuais, as suas aulas não são atrativas”, “para ser professor tem que ter dom, vocação”.
Por que o professor não é tratado como todos os outros profissionais? Por que até mesmo os governos estimulam essa visão de que o professor é mártir, que se sacrifica pelo bem dos alunos e que isso faz parte do seu papel? A resposta é simples: mártir não precisa de aumento, seu salário não importa, afinal seu sacrifício é a prova de seu amor pela profissão. Mártir não precisa de plano de carreira, pois professor que é professor quer morrer professor, não pensa em fazer outra coisa. Sua glória é educar os seus alunos, os filhos deles, os netos dele e, se Deus permitir, com o mesmo conteúdo e metodologia.
Claro que as consequências dessa forma de tratar o professor já estão aí: a avaliação do Saresp registrou queda no desempenho dos alunos, excessivo número de faltas médicas e afastamentos dos professores, exonerações, falta de professores em várias disciplinas, queda nas matrículas dos cursos de licenciatura… E como o governo pretende resolver essa situação? Vi propostas em várias frentes, ontem mesmo foi anunciado o aumento no valor da bolsa de estudo para pós-graduação. Mas a questão salarial continua em último plano. Continuamos tratando o problema de forma errada.
Minha solidariedade aos colegas que tiveram a coragem de dar adeus a tudo isso e partiram em busca de realização profissional e pessoal. Que não ficaram esperando a valorização que nunca chega, o aumento que nunca acontece, a melhoria nas condições de trabalho que não sai do papel.
O Estado não tem ideia dos profissionais que perderam e que ainda vão perder…
(Vale a pena ler o artigo do Paulo Ghiraldelli Jr. sobre esse assunto. Clique aqui.)
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