segunda-feira, 24 de junho de 2013

No Brasil, 546 mil alunos usam barcos como transporte escolar

165,2 mil moram no Estado do Pará e outros 100,4 mil estão no Amazonas

Fonte: UOL Educação


No Brasil, 545.968 estudantes usam barcos ou embarcações para frequentarem a escola, segundo dados do Censo da Educação Básica 2012. Desses 165,2 mil moram no Estado do Pará e outros 100,4 mil estão no Amazonas.

Apesar de ser grande, o número representa apenas 1% dos alunos matriculados na rede. A maioria dos estudantes brasileiros que usam transporte público vão de ônibus ou de micro-ônibus para a escola ( 6,59 milhões). O número representa 13% dos estudantes matriculados na educação regular, especial ou de jovens e adultos no ano de 2012.

O transporte rodoviário é o mais comum no país. Além dos estudantes que usam ônibus e micro-ônibus, 802,8 mil alunos vão para a escola em vans ou kombis. Apenas 39.437 usam bicicletas para se locomover no trajeto até a escola. Há também 876 estudantes que usam tração animal, como o cavalo.

A pesquisa, feita pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostra que há ainda 1.227.988 alunos que usam outro tipo de veículo rodoviário, que pode ser, por exemplo, carro ou moto.
Segundo os dados do Inep, apenas 15.930 alunos vão para a escola de metrô ou trem.
Dos 50,5 milhões de matriculados na rede de ensino em 2012, apenas 8,7 milhões usavam transporte escolar público.


Em Santarém, alunos da área rural usam lancha para irem à escola

Às 7h15 da manhã de sexta-feira, uma lancha escolar sai do porto de Picães, na comunidade de Arapixuna, em Santarém (a 699 km de Belém). Nos próximos 45 minutos, a lancha recolherá 14 crianças rumo às aulas na escola municipal de ensino fundamental Nossa Senhora de Nazaré.

Essa é a única forma desses alunos, de 6 a 14 anos, atravessarem nesse período do ano o rio Arapiuns, que os separa da sala de aula. Na lancha, movida a gasolina, coletes salva-vidas são distribuídos pelos bancos que acolherão os estudantes durante a viagem.

O barco para nos portos combinados e o comandante e a auxiliar de máquinas, moradores da comunidade, sabem quais são os estudantes que devem entrar em cada parada. "Se um aluno vai faltar, alguém da família vem nos avisar", explica a auxiliar Leida dos Santos, que foi contratada há dois anos para trabalhar com o transporte escolar.

É ela quem coloca a rampa entre o barranco e o barco para que os alunos entrem na lancha. Leida também ajuda as crianças a colocarem seus coletes salva-vidas após sentarem em seu banco. Atenta ao equilíbrio da embarcação, a auxiliar pede, às vezes, que as crianças mudem de lugar no barco quando fazem um grupinho apenas de um lado da lancha.

Com a repórter do UOL e uma câmera a bordo, as crianças estavam quietas durante a viagem. Parte da calmaria pode ser atribuída ao sono da manhã, parte à vergonha de uma pessoa estranha e parte por característica. "Eles são calminhos mesmo", confirma Leida.

Mais velhos, os estudantes da comunidade de Tucumatuba, que vão para o a escola de ensino fundamental Sant'ana, já não são tão calados durante o trajeto do barco. Para os 15 alunos matriculados da 6ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, o barco é lugar de encontro e de brincadeiras.

Com o forte barulho do motor a diesel no barco Delton Junior 2, os alunos que entram nas duas paradas sentam ao lado dos amigos e mudam de lugar durante a viagem para poder conversar.

No fundo do barco, o auxiliar Altino Gamboa Teixeira garante um galão de água para a garotada. "Nesse horário [perto do meio-dia], muitos trazem lanche ou alguma coisa para comer na viagem", explica.
O caminho, vencido em cerca de 30 minutos, leva à escola polo, a única a oferecer aulas do ensino fundamental 2 e do ensino médio na região.

Período de cheia

O transporte escolar aquaviário é essencial nessa região de rios, sobretudo na época das cheias –ou inverno, como é chamado no Pará o período de chuvas.

No verão, época de seca, no entanto, tudo muda. Com o rio muitos metros mais baixo, a lancha oferecida pelo MEC (Ministério da Educação) com seu potente motor Yamaha 90 não pode ser usado no trecho necessário para alcançar a escola da comunidade de Picães. É aí que entram em ação os músculos e as duas rabetas –barcos pequenos—do comandante e da auxiliar.

A Lagoa do Macaco, que está na frente da escola Nazaré, é atravessada por pontes feitas de madeira e montadas por Leida e Mireno de Aquino Gamboa Filho, conhecido como Pedro. Os alunos das áreas mais próximas podem, assim, vir a pé.

Aqueles que ainda precisam atravessar área alagada são buscados com as rabetas, que têm motores menores e são também movidos a gasolina --e assim podem usar o combustível que o município fornece.

No caso dos alunos de Tucumatuba, os irmãos Gamboa trocam o barco por uma "bajara", uma embarcação menor capaz de atravessar áreas alagadas de pouca profundidade. Mesmo assim, os alunos têm que andar um longo trecho, pois os portos não são os mesmos, explica o comandante Ailton.

Ailton trabalha há cinco anos com o transporte escolar. O comandante entrou na licitação da prefeitura e trabalha com os barcos da família, que mora da comunidade.

O município de Santarém tem hoje 70 barcos e 15 lanchas que atendem 58 escolas de educação infantil, ensino fundamental e médio da região, segundo informações da Secretaria Municipal de Educação. Conforme o local da comunidade e a dificuldade de acesso, as viagens podem durar até 2h30.

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