Para especialistas, propostas são isoladas e não melhoram infraestrutura da Saúde; Educação precisa de mudanças
Fonte: O Globo (RJ)O pacto para a Saúde proposto ontem pela presidente Dilma Rousseff foi recebido com críticas por parte de entidades que reúnem médicos. Já para especialistas em saúde pública e gerenciamento do Sistema Único de Saúde (SUS), a iniciativa da presidente demonstra a disposição do governo em buscar melhorias para a área. No entanto, alertam que problemas crônicos não são atacados pelo governo, como o controle precário do uso verbas.
- Foi um avanço a presidente Dilma voltar a falar a palavra SUS. Até então, abordar a sigla era o mesmo que falar palavrão, já que o SUS, para marqueteiros do governo, tem conotação negativa - diz a Professora do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ Ligia Bahia, que vê com restrição a contratação de médicos estrangeiros. - Acontecerá com um médico cubano o mesmo que acontece com um brasileiro: caso não encontre infraestrutura para o atendimento, ele abandonará a rede. Os médicos não querem só dinheiro, querem condições de trabalho.
Para Jovita Rosa, da direção da União Nacional dos Auditores do SUS, não adianta pacto sem um monitoramento eficaz das verbas da Saúde, previsto por lei e há 20 anos na gaveta.
- Falta fiscalização eficiente dos recursos. O "ralo" do SUS é tão grande que não há estimativa de quanto se perde - afirma Jovita, que cita falhas na formação de médicos, alimentando a escassez de profissionais. - Os médicos são preparados para o mercado da doença e não para a prevenção. As universidades formam especialistas e não médicos voltados para a saúde pública.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou nota e pediu que o anúncio de Dilma seja "visto com cautela, em função de vários compromissos assumidos pelo governo". Em entrevista ao GLOBO, o vice-presidente do CFM, Carlos Vital, disse que a contratação de médicos estrangeiros só funcionará se a infraestrutura da rede pública de Saúde melhorar:
- Há prefeituras no interior que oferecem ótimos salários, mas nenhuma garantia de condições de trabalho. Os contratos são precários e não dão segurança ao profissional. A saída seriam concursos públicos que criam vínculos entre a rede de saúde e os médicos.
Em resposta ao pacto, a Federação Nacional dos Médicos, o CFM e a Associação Médica Brasileira anunciam amanhã um calendário de protestos e uma possível greve dos médicos contra a importação de profissionais.
As medidas anunciadas por Dilma para Educação também não empolgaram os especialista em Ensino. Para Priscila Cruz, diretora-executiva do Movimento Todos Pela Educação, sozinho, o dinheiro dos royalties do petróleo não vai ajudar muito o setor .
- Você pode dobrar os recursos, mas se não fizer mudanças estruturais é o mesmo que jogar um monte de sementes num terreno infértil. Não produz nada. É preciso mudança de gestão para que o dinheiro chegue ao objetivo, na distribuição, para que estados e municípios mais pobres recebam mais, na formação dos Professores.
Para João Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, a presidente Dilma "não entendeu o barulho das ruas":
- Se a proposta é essa, continua sem proposta. Dar mais dinheiro é como colocar um bombom na boca do menino que está chorando para ele parar. É típico desse governo, chama as pessoas e dá uma bolsa, mas não é isso que as pessoas estão querendo - diz. - Nos últimos 20 anos, o salário do Professor passou de US$ 150 para U$750 e não melhorou a Educação. Aumentar recurso é colocar dinheiro bom em cima de dinheiro ruim. O Professor que está aí não vai melhorar se ganhar mais, ele já faz o melhor que pode.
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