quarta-feira, 26 de junho de 2013

No Brasil:Estudantes surdos e disléxicos ganharão mais tempo para fazer o Enem



Quando o médico Michael Anderson fica sabendo que seus pacientes de baixa renda estão tendo dificuldades na escola, geralmente lhes prescreve um poderoso remédio. São pílulas que aumentam o foco e impulsionam o controle em crianças com déficit de atenção e hiperatividade. Embora o déficit de atenção seja o diagnóstico que Anderson faz, ele chama a desordem de "uma desculpa" para prescrever os remédios para tratar o que considera o verdadeiro problema destas crianças - o mau desempenho acadêmico nas escolas. 

"Eu não tenho muita opção", disse Anderson, um pediatra de muitas famílias pobres no condado de Cherokee, ao norte de Atlanta, nos Estados Unidos. "Nós como uma sociedade decidimos que é muito caro modificar o ambiente no qual a criança se encontra. Então, temos que modificar a criança”.

Michael Anderson prescreve remédio para melhorar desempenho das crianças, independente do diagnóstico

Anderson é um dos maiores defensores de uma ideia que está ganhando interesse entre alguns médicos. Eles estão prescrevendo estimulantes para alunos com problemas em escolas carentes de dinheiro – não necessariamente para tratar a déficit de atenção, mas para melhorar seu desempenho acadêmico.
Ainda não está claro se Anderson representa uma tendência, mas alguns especialistas notaram que a medida que o uso de estimulantes por estudantes ricos já em boas faculdades e escolas secundárias aumentam suas notas, os medicamentos estão sendo usados por alunos de baixa renda com notas escolares vacilantes e pais ansiosos para vê-los bem sucedidos.
"A sociedade não está disposta a investir em intervenções eficazes não-farmacêuticas para essas crianças e suas famílias", disse Ramesh Raghavan, um pesquisador da Universidade de Washington em St. Louis e especialista em uso de medicamentos de prescrição entre crianças de baixa renda. "Estamos efetivamente forçando os psiquiatras das comunidades locais a usar as ferramentas que possuem à sua disposição, que no caso são os medicamentos psicotrópicos".
A médica Nancy Rappaport, uma psiquiatra infantil em Cambridge, Massachusetts, que trabalha principalmente com crianças de baixa renda e suas escolas, acrescentou: "Estamos vendo isso acontecer cada vez mais. Estamos usando uma camisa de força química ao invés de fazer coisas que são tão importantes quanto e que devem ser feitas, muitas vezes até mais do que prescrever um medicamento”.

Uso de estimulantes e psicotrópicos para crianças é cada vez mais comum
O instinto de Anderson, segundo ele, é o de um pensador pela "justiça social", que está tentando igualar a balança. Ele disse que as crianças que vê com problemas acadêmicos são essencialmente "incompatíveis com o meio ambiente". Devido ao fato que suas famílias raramente podem pagar por um serviço de terapia de comportamento como tutoria ou aconselhamento familiar, disse ele, a medicação se torna a maneira mais confiável e pragmática para redirecionar o aluno para ser bem sucedido.

"Eu não costumo dar medicamentos para crianças com notas altas", disse. Para alguns pais as pílulas proporcionaram um grande alívio. Jacqueline Williams disse que não consegue agradecer o suficiente o diagnóstico de déficit de atenção que Anderson deu a seus filhos – Eric, 15; Chekiara, 14, e Shamya, 11 - e por prescrever um estimulante de ação prolongada para todos eles. Ela disse que cada um estava tendo problemas em escutar instruções e de se concentrar no trabalho escolar.

"Meus filhos não querem tomá-lo, mas eu lhes disse: 'Estas são suas notas quando vocês estão tomando o medicamento, esta é quando você não o faz', e eles entenderam", disse Williams, destacando que o convênio cobre quase cada centavo de seu médico e os custos da prescrição.

A Divisão de Narcóticos classifica estes medicamentos como substâncias controladas de classe 2, pois são particularmente viciantes. De acordo com médicos especialistas, seus efeitos a longo prazo não são bem compreendidos e muitos se preocupam que as crianças podem tornar-se dependentes da medicação até a idade adulta, muito depois de todos os sintomas da déficit de atenção terem desaparecido.

William Graf, neurologista de crianças e pediatra que atende muitas famílias pobres em New Haven, Connecticut, disse que a família deve ser capaz de escolher se o remédio pode beneficiar seu filho com déficit de atenção ou não, e que um médico pode prescrever eticamente um período experimental, desde que os efeitos secundários sejam monitorados de perto. Ele expressou preocupação, no entanto, com o uso crescente de estimulantes ameaçar o que chamou de "autenticidade do desenvolvimento”.

Anderson disse que cada criança que ele trata com medicamentos se qualificou dentro do diagnóstico de déficit de atenção. Mas ele também protestou contra esses critérios, dizendo que eles foram codificados apenas para "fazer algo completamente subjetivo parecer objetivo". Ele acrescentou que muitos relatórios de professores quase invariavelmente citam os comportamentos que justifiquem um diagnóstico, uma decisão que chamou mais econômica do que médica.

"A escola disse que se eles tivessem uma outra solução a utilizariam", disse Anderson. "Mas as outras ideias custam mais caro e precisam de mais recursos quando comparadas com os medicamentos”.

NYT

Perry Rocafort, 11, e Ethan, 9, foram diagnosticados com déficit de atenção e tomam pílulas estimulantes

Vários educadores contatados para este artigo consideraram o assunto do déficit de atenção tão controverso que não quiseram comentar. O superintendente de uma escola de um grande distrito na Califórnia, que falou sob a condição de anonimato, disse que as taxas de diagnóstico de Déficit de Atenção têm subido tão nitidamente quanto o orçamento da escola diminuiu.

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