ADRIANA
FARIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os
pais de um aluno do colégio São Miguel Arcanjo, na Vila Zelina, zona leste de
São Paulo, fizeram boletim de ocorrência contra um professor de educação física
após ele "simular"um golpe de judô do tipo "rasteira" no
filho de nove anos e num amigo da mesma idade. O caso ocorreu no dia 3 de
outubro.
O pai
de uma das crianças, o empresário Vladimir Assis, 45, protocolou queixa contra
a escola como "agressão contra menor" na D.E.R. Centro Sul (Diretoria
de Ensino) e registrou boletim de ocorrência por "maus-tratos" na 56º
DP (Vila Alpina). Foi requisitado um exame de corpo de delito do tipo "ad
cautela" para apurar se houve lesão na criança. Ambos os registros foram
feitos no último dia 5. Os pais do outro menino não quiseram se pronunciar.
Por
volta das 17h45 da quarta-feira, as crianças estavam na quadra de esportes do
colégio brincando de "lutinha" com outros alunos quando o filho do
empresário derrubou sem querer um colega, também de nove anos, que machucou o
cotovelo.
Ao ver
a situação, o professor Thiago Lopes Gandolfi, 30, chamou a atenção dos alunos
e colocou-os sentados de castigo. Em seguida, Gandolfi, que fez judô durante
dez anos, pediu para que o filho de Assis e seu colega levantassem e aí deu a
"rasteira" nas crianças. "Eu disse [aos meninos]: 'essa
brincadeira machuca, se vocês querem fazer uma aula de judô eu vou mostrar um
golpe para vocês. Aí eu mostrei o golpe para eles", disse o professor que
trabalha há quase oito anos no colégio. "Segurei ele nas costas, passei o
pé por baixo e ele [filho do empresário] caiu sentado no chão". A intenção
da brincadeira não foi de agredi-lo nem de humilhá-lo", explicou.
A
didática do professor foi contestada pelos pais do menino. Durante conversa de
Assis com o filho, ele contou que Gandolfi colocou o "braço em seu peito e
deu uma rasteira derrubando o menino no chão" e o professor teria dito
"é bom derrubar os outros?".
De
acordo com Assis, a criança mudou de atitude e não quer mais frequentar as
aulas de futebol. "Meu filho ficou envergonhado e disse que machucou. Ele
estava sendo reprimido, coagido e mudou rapidamente de comportamento",
informou o pai. "Hoje ele [professor] deu uma rasteira e amanhã? E o
trauma que fica?", disse a mãe Priscila Assis, 34.
Professores
diretos do aluno negam que ele esteja se comportando diferente nas aulas e
afirmam que o menino teria confessado que a brincadeira não doeu. A criança
continua frequentando a escola, mas não participará das aulas de futebol,
segundo os pais.
OUTRO
LADO
A
diretora-adjunta da instituição Irene Anfimovas, 57, afirma que ela e a
coordenadora do departamento de esportes Rosana Lopes de Souza Lune, 52,
prestaram atendimento imediato ao pai da criança, mas que o comportamento dele
atrapalhou a resolução do caso. "Ele estava extremamente agressivo [...]
eu disse: 'a gente tem que ser justo com todos. Fique certo de que isso será
conduzido, mas ele não aceitou e queria o professor presente para bater nele ou
que eu o demitisse", disse Anfimovas. O pai nega a versão.
A
diretora-geral da instituição irmã Selma Maria dos Santos, 42, disse que há
dois anos já teve problemas anteriores com outro filho de Assis, mas que na
época a própria criança desmentiu o incidente. O pai confirma que houve atrito,
mas não quis fazer nenhum comentário sobre os outros filhos. O empresário tem
ainda uma menina de quatro anos matriculada na escola.
A irmã
aplicou uma advertência oral e por escrito ao professor, mas afirmou que a
escola confia no profissional e que ele se dá bem com todos os alunos e nenhuma
outra medida será tomada antecipadamente. "Eu não vou ser injusta até os
fatos serem apurados [...] tudo que faz tem que provar", pontuou a
diretora.
Inaugurado
em 1952 por cinco freiras, o Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo completou
60 anos de existência com 1.180 alunos estudando do nível infantil ao ensino
médio. Em comemoração, um livro azul escrito à mão por centenas de pais de
alunos traz recados de agradecimento pelo colégio ser referência de educação na
zona leste de São Paulo. Em uma das páginas do exemplar lê-se a frase: "É
com a educação que a gente vai mudar o mundo".
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