quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Refém da negligência profissional

Iza Aparecida Saliés

Em 2005 passei por forte dores que parecia ser cólica renal, então, procurei um médico, que ao fazer seus procedimentos clínicos de rotina, detectou problemas com os rins, até ai tudo bem, acreditei e fui logo buscar o tratamento.

Como estava tratando com um médico com muita prática, antigo, conhecido, com anos de caminhada na sua especialidade, sai do seu consultório na crença de ter encontrado a solução para minha dor.

E o que é pior, esse médico possui diplomas, belos quadros de certificação de cursos realizados na sua área, muitos adereços de qualificação continuada nas belas paredes do seu consultório, então, como diz a história não é pouca coisa não.

Fiquei tratando dos rins por quatro anos, conforme indicação dele, prescrita direitinha, tudo como manda o figurino, só que ao sofrer uma crise de dor, agora no ano novo, resolvi procurar outro médico, para ver se solucionava as crises que não passavam, conforme é descrita por pessoas que sofrem de cólica renal.

Ao buscar um clinica de tratamento dos rins encontrei um velho amigo Dr.Leonel Perez, urologista também, provavelmente com o mesmo tempo de dedicação medica do dito cujo, que prontamente ouviu minhas queixas, analisou meus exames e disse você não tem nada nos rins. O que? Então o que eu tenho? Você está com problemas na coluna.

Como pode uma pessoa tratar de uma doença desde 2005, ou seja, por quatro anos, segundo o diagnóstico de um urologista antigo, que leu e interpretou os exames, igual o atual médico e ficar sabendo que sua doença não é nos rins, e sim na coluna?

Vou mais além, como o susto aparente no meu rosto o Dr. Leonel teve a sábia paciência de explicar cuidadosamente que o meu estado de dor não era proveniente dos rins, em poucos minutos deu uma aula, sobre o corpo humano, e deixou bem claro porque essa dor é da coluna.

Quer saber? Eu acreditei, estou convencida de que o diagnóstico dele esta correto, pois ao explicar a doença no grau da minha compreensão, a complexidade da ciência, o que está acontecendo comigo, conclui que de fato o problema é outro.

Sabe que na hora fiquei pensando, como pude ficar quatro anos tratando do que não tenho e deixando de tratar do que tenho? Isso, sem contar com as insuportáveis crises de dor que passeie e estou passando.

O que me choca é a falta de compromisso de certos profissionais, (de todas as áreas) que agem com negligência com seu paciente, são relapsos, aparentemente cansados, porque não dizer, não está nem ai para as pessoas que precisam do seu trabalho médico, demonstram não levar a sério seu trabalho, são desprovidos de responsabilidade social, ética e humanidade.

Agora, faço a seguinte indagação, em quem devo confiar? Num médico recém formado, jovem, cuja prática médica ainda não está consolidada socialmente, sem clientela garantida? Qual é a minha segurança frente à negligência de médicos antigos e a prática de novos especialistas que ainda está construindo seu profissional?

O que resta pensar é que Profissionalismo é coisa pessoal, está internalizado em nós, independe da formação acadêmica recebida, ele é constituído pelo conjunto de valores, formação, conhecimento, motivação, procedimentos, atitudes, respeito pelas pessoas e educação que recebemos no lar, na escola, na universidade, como também está respaldado no conceito de humanismo que cada um de nós tem.

Falando sério, fiquei preocupada e ao mesmo tempo aliviada, primeiro por saber que estava tratando dos rins e não obter melhoras, sofrendo crises de dores, e não saber o que é de fato, isso é angustiante e segundo por saber agora que passei quatro anos confiando num profissional negligente, que por motivos não sabido, não atendeu seu paciente conforme juramento e acima de tudo com humanismo.

Todos nós somos reféns de profissionais irresponsáveis, sei que isso acontece em qualquer profissão, com qualquer pessoa, seja ela pobre, rica, da classe média, mas deixar passar em brancas nuvens, não, nunca, precisamos e temos o direito de nos indignar com as barbaridades que acontecem na vida da gente.


Cuiabá, 20/01/2010

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