quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Opinião

Velha escola, professores competentes, bons tempos...

Iza Aparecida Saliés

Tenho saudade do Grupo Escolar Barão de Melgaço, escola de qualidade, para vir tinha que tomar lotação, a viagem era do porto à cidade, ou seja, ao centro, tomava o rumo da 13 de junho até chegar ao ponto final em frente da loja miglália ao lado do correio.

Era um prazer fazer esse roteiro todos os dias, rotina que possibilitava à infância divertir, brincar, sorrir e desfrutar do cardápio de opções de pirulitos, picolés, balas, cacau, suco de saquinho e outras atrações que ficavam na porta do grupo. Lembro também da hora do sino, da hora do hino da hora da sala de aula, o uniforme sapato boneca, meias três quartas brancas saias azuis e blusa branca.

Quanto às professoras, estas sim, mulheres dedicadas, deixavam seus lares para fazer o ofício de educar e ensinar, mulheres de respeito. Nobres professoras, brilhantes profissionais a Profª Adelaide Fortunato, Elizabeth Sena, Eneida Salla, no primário, pessoas que até hoje relembro com saudade, pois foram significativas em minha vida, ora eram professoras ora eram mães, apesar da rigidez e disciplina que eram componente obrigatórios para a formação das crianças da época.

Chegávamos à escola educadas, comportadas, jamais poderia contestar a professora, ir à breve? (banheiro) coisa muito difícil, precisava estar muito apurada, o uniforme deveria estar super limpo, bem passado, impecável essa era a escola em que as exigências eram salutares.

Como nossa formação familiar era rígida, coisas do tempo, então não estranhávamos o comportamento que precisávamos ter na escola, assim, ficava fácil para a professora dominar os alunos. Ainda assim, aparecia de vez em quando uma aluna querendo fazer gracinha, sem muito progresso.

Nos bons tempos em que a escola era o espaço de respeito, o templo do saber, as professoras eram pessoas dotadas de boa vontade, dedicavam parte do seu tempo em ensinar o melhor, não importava se era decoreba ou não, não importava se era disciplina rígida ou não, importava sim, com a formação integral da criança, alias desde aquele tempo já se preocupavam com a visão humanística da formação do aluno.

Assim foi o primário, mas o ginásio, esse sim, foi menos rígido, não só pelo fato de estar em outra etapa de ensino, como também na época já estavam discutindo a escola nova, e em Cuiabá não foi diferente, pois a universidade federal esta sendo instalada na capital.

Estudei muitos pontos, estudei muitas vezes na madrugada, tinha que decorar, memorizar. Recordo até hoje das sabatinas, prova oral e as famosas dissertações dos conteúdos do livro. Certo dia a professora Irmã Teresinha Arruda fez uma prova onde tínhamos que falar tudo que sabíamos sobre a Roma Antiga, tinha que escrever tudo que sabíamos sobre o tema sem esquecer se quer um item, não era fácil.

A dedicação das professoras e a credibilidade que elas inspiravam faziam delas, pessoas queridas, acolhedoras, de vez em quando passava mão nas nossas cabeças e dizia cuidado. Pouco a pouco elas iam desenvolvendo a difícil arte de ensinar com competência, seriedade e compromisso.

Outra exigência da época era a caneta tinteiro, como sou canhota tinha muita dificuldade para escrever, pois enquanto escrevia de um lado do outro já estava borrado e as professoras também tinham dificuldade para lidar comigo, é como se fosse trabalhar com aluno com deficiência.

O lanche, hora do leite, do picolé, do pirulito, do bolo vendido na porta do colégio, a queimada, a amarelinha, as brigas, tudo isso faz parte de um passado de felicidade de prazer em estudar, da vontade de ir para a escola, porque a professora era a autoridade máxima da sala de aula, sabia ensinar, estudava os conteúdos da aula, tinha respostas certas para nós.

A exigência das professoras por perfeição, o combate à rasura, o caderno perfeito, sem borrão ,sem orelha , sem sujeira , sem rasgado fazia parte da formação do aluno, contribuiu sobremaneira para a nossa vida como pessoa e como profissional.

A escola da saudade, a do passado, rígida, arbitrária às vezes controladora da peraltagens da infância, contuidista, com um curricular escolar elaborado para atender as elites, parece não ter pecado nos seus atos, porque de fato respondia às necessidades da sociedade do seu tempo.

Essa escola do passado que hoje criticamos, pela rigidez, pela forma de ensinar, que os estudiosos da pedagogia denominaram de tradicional, por lidar com o ensino e a aprendizagem numa perspectiva dura, de cobrança, de disciplina de autoridade o que propiciou ao seu aos alunos uma formação escolar de qualidade pelas vias da escola pública.

Agora convivemos com a chamada escola publica para todos, a escola que não pode chamar atenção do aluno, que não da conta dos conteúdos, que não da conta da formação de valores, não da conta da educação dos alunos, que não da conta da diversidade, que não da conta da pluralidade cultural, está ai, precisa mudar, mas, ainda não achou o seu rumo.

Esse modelo de escola precisa romper com essa fábrica de desigualdade, ocasionando em série a exclusão escolar, por meio dos subentendidos índices de evasão, repetência e defasagens idade/série e abandono, que são elevados, conhecidos pelo Sistema Educacional, porém com poucas perspectivas de solução imediata.

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