Por Içami Tiba
Não há pais que não sonhem com seus filhos vencendo na vida, sendo felizes, éticos, ricos e famosos. Para chegar a esta realização social é preciso que se passe pela educação familiar, escolar e profissional.
A educação familiar hoje é um projeto de formação e construção de cidadãos éticos. Os seres humanos desenvolveram a civilização. Tudo começou pelos humanos unirem-se entre si para poderem sobreviver através de dois instintos básicos, o de sobrevivência e o da perpetuação da espécie.
Os humanos não nascem sozinhos e nem física e psicologicamente preparados para sobreviverem. Eles precisam de pais para serem gerados e de outros humanos, geralmente os próprios pais, para se tornarem adultos, isto é, terem autonomia comportamental e independência financeira.
A família patrilinear como conhecemos hoje existe desde o advento da agricultura, na Mesopotâmia, há 12 mil anos atrás. Foi quando o homem deixou de ser nômade atrás de comida e se fixaram à terra. Até então, a família eram grupos matrilineares.
Uma mãe vivia com os seus filhos. O pai pertencia a outro grupo e vivia com a mãe dele e seus irmãos. Já havia divisão de trabalho, isto é, cabia aos mais fortes, irmãos homens da mãe, a sobrevivência e às mulheres, a preservação da espécie. Relações sexuais entre pessoas do mesmo grupo eram tabus. Assim evitavam a consangüinidade que cientificamente conhecemos hoje. Não se têm relações sexuais entre irmãos.
Assim, desde nenê, o filho ia já aprendendo com a convivência com os seus pais o que devia fazer quando se tornasse adulto: trabalhar e ter filhos. Atualmente esta divisão de funções não está mais tão nítida quanto ao trabalho, mas ainda é a mulher que carrega a gravidez e o amamenta, pois isto faz parte da sua constituição genética. Mas há trabalho que ela faz até melhor que o homem, medido pelo dinheiro que ela ganha, num mercado onde a remuneração é proporcional ao trabalho realizado.
O maior ensinamento familiar é o da convivência social. O principal item desta convivência é a formação do padrão comportamental social tendo como base a ética. Fazer o que tem vontade até os animais fazem. Mas são os humanos que aprendem que ações há que até podem fazer, mas não devem.
Um dos pontos fracos da educação familiar hoje é a dificuldade que os pais encontram de passar este padrão ético, regido pelo equilíbrio entre o poder e o dever. Crianças até podem não guardar os brinquedos após terminar a brincadeira, mas devem guardá-los para deixar o local da brincadeira em ordem para que outros possam usá-lo.
Crianças podem gritar com os pais e agredi-los, mas não devem. Normalmente elas gritam ou agridem quando são contrariados nas suas vontades. O maior engano dos pais é querer mudar o mundo para que seu filho não seja contrariado.
Um dos melhores exemplos que qualquer pessoa pode observar é quando uma criança brincando bate a cabeça na mesa e começa a berrar. A mãe para sossegar o filho pega-o no colo e com a outra mão estapeia a mesa dando-lhe uma bronca: mesa feia!
O que a criança aprende é que a mesa é uma estúpida que vem atrapalhar a brincadeira do seu inocente filho. Mais tarde esta mãe vai ter que estapear seus colegas "feios", os professores "chatos", o patrão "explorador", etc. O que ela ensina é que seu filho é que está certo e o mundo está errado...
Esta mãe pode estapear a mesa, mas não deve. Ela não deve ensinar ao filho que é o mundo que tem que se adaptar a ele, mas ele que tem que aprender neste mundo.
O princípio fundamental da cidadania familiar é: não se deve fazer em casa o que não poderá fazer na sociedade, mas deve praticar em casa o que terá que fazer fora dela.
Içami Tiba
Psiquiatra, educador e conferencista. Escreveu “Quem Ama, Educa! Formando Cidadãos Éticos" e mais 22 livros.
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