terça-feira, 3 de maio de 2011

Instituições adotam práticas de negócios

Texto: Danile Rebouças e Luan Santos

Economia, negócios, finanças, administração. Temas que são comumente abordados no ambiente acadêmico ganham espaços nas salas de aula dos ensinos fundamental e médio. Algumas escolas têm adotado a prática do empreendedorismo para ampliar a visão do aluno para investimentos futuros. Para melhor compreensão, usa-se o lúdico e a vivência de situações, com linguagem adequada para cada idade.

Na Bahia desde 2005, está em atuação a organização não-governamental Junior Achievement, presente em 123 países com ações em empreendedorismo juvenil. Em Salvador e região metropolitana, são 31 escolas parceiras (24 públicas e sete privadas). “Nossa missão é despertar o espírito empreendedor nos jovens ainda na escola, dar uma visão geral de negócios por meio de atividades lúdicas e brincadeiras na sala de aula”, define o presidente da ONG no Estado, Aldo Ramon.

A professora Iracy Picanso, criadora do Núcleo de Educação e Trabalho da Universidade Federal da Bahia, ressalta que a capacidade de empreender, fazer escolhas e alcançar objetivos deve ser desenvolvida em todo cidadão desde a educação infantil. “As instituições podem ajudar a desenvolver um sujeito autônomo, capaz de tomar decisões, defender metas e saber buscá-las. Não precisa de uma matéria para isso, mas práticas pedagógicas que estimulem o aluno a ser um sujeito ativo”, diz.

Experiência

Na Junior Achievement, os programas são voltados para a faixa etária de 11 a 17 anos. Até o momento, 36.216 jovens baianos foram beneficiados com 20 tipos diferentes de curso. O conteúdo oferece orientação nas áreas de marketing, finanças, recursos humanos e produção. “Muitas empresas falam hoje da falta de líderes e o programa ajuda na formação de espíritos de liderança”, diz Aldo Ramon. Para 2011, a Achievement Bahia pretende formas mais de 10 mil jovens.

Clara Fernandez, 17, aluna do 3º ano do Colégio São Paulo, foi uma das estudantes beneficiadas pelo trabalho da ONG no ano passado, quando participou do Miniempresa. “Passei a ter uma visão mais ampla do que é empreendedorismo, a partir dos conceitos trabalhados. Escolhemos o produto que queríamos produzir e administramos tudo. Aprendemos a trabalhar em grupo e repeitar diferenças de opiniões”, relata.

Gilmar Júnior, 16, aluno do Colégio Estadual Raphael Serravalle, entrou no programa este ano e já faz planos para o futuro. “Quero ser médico veterinário e posso abrir uma clínica. Quero aprender a administrar e trabalhar em grupo”, comenta. Seu colega Pedro Paulo Assis Júnior, 17, confessa que após participar do programa em 2010, aprendeu “lições para o mercado de trabalho, para organizar as coisas de casa e para trabalhar em equipe que vou levar para a vida toda, diz.

Voluntários

Na sala de aula, Iracy Picanso ressalta que as práticas de empreendedorismo também podem ser desenvolvidas. “Basta o professor usar uma pedagogia onde o aluno seja tão sujeito do processo educativo quanto o educador, onde ele tenha os instrumentos para que possa desenvolver o aprendizado”. No caso da Junior Achievement, as aulas são ministradas por voluntários – profissionais e universitários. A escola oferece o espaço físico e 80% da carga horária é prática, extraclasse. Hoje são 150 voluntários, e para o programa ser ampliado, é preciso aumentar este número, destaca Ramon. A ONG tem parcerias com organizações ligadas a negócios, indústrias e comércio.

Para mais informações sobre a Junior Achievement acesse WWW.JABAHIA.ORG.BR ou ligue para 3320-4308.

Diretores apontam melhor comportamento de alunos

Diretores de instituições de ensino que trabalham em conjunto com o programa de empreendedorismo destacam resultados positivos. Garantem que os estudantes ficam mais responsáveis, disciplinados e melhor desenvolvem atividades em grupo.

No Colégio Sartre COC, a parceria com a ONG teve início em 2005, quando o tema passou a ser trabalhado pelos alunos. A coordenadora pedagógica da instituição, Eliana Façanha, destaca que, apesar de as atividades não serem incluídas no currículo formal, os alunos aprendem a ter mais aplicação e atenção quando começam as atividades.

Para a orientadora educacional do ensino médio do Colégio São Paulo, Rita Cavalcanti, participar de atividades que envolvem o empreendedorismo proporciona desenvolvimento pedagógico para os alunos. “Eles melhoraram o rendimento nas outras áreas do conhecimento, passaram a questionar mais os professores, tornaram-se mais comunicativos”, destaca. No São Paulo, a parceria existe desde 2009.

No Colégio Estadual Thales de Azevedo, a ONG atua há três anos, e, para o diretos José Roque Bonfim, os alunos que têm aula de empreendedorismo melhoram o desempenho pedagógico. José Roque alerta que o empreendedorismo é importante, mas não o único aliado pedagógico. “É uma das práticas pedagógicas que incentivam o aluno na escolha da carreira profissional, mas é necessário que existam outras, para dar ao estudante várias opções”, argumenta.

Para o diretor do Colégio Estadual Raphael Serravalle, Ramilton Cordeiro, “os alunos amadurecem depois que participam do programa, ficam mais disciplinados e responsáveis”. “É uma maneira de incentivo para que os alunos estudem e escolham para que prestarão vestibular. Eles têm contato com pessoas ligadas a grandes empresas e que são exemplo para eles”, ressalta.

Os jovens são 52,5% dos empreendedores do Brasil

Gustavo Moura Nascimento, 17, afirma que já se tornou um pequeno empreendedor. Há uma semana começou a investir nos dotes culinários de sua mãe e comercializa na escola tugas e salgados feitos por ela. Estudante do Colégio Raphael Serravalle, Gustava recebeu orientações da Junior Achievement em 2010.

“As noções de produção, controle de qualidade e apresentação do produto me ajudam a administrar de forma boa meu pequeno negócio”, diz orgulhoso. O entusiasmo de Gustavo deve-se à boa aceitação do produto e ao retorno financeiro que tem obtido. “Por enquanto, estou guardando o dinheiro para pagar as contas e investir”, diz.

Mercado

A iniciativa do estudante vai ao encontro da tendência atual do mercado, que revela a formação de jovens empreendedores. Conforme recente pesquisa realizada pela GEM – Global Entrepreneurship Monitor – e divulgada pelo Sebrae – BA (Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), no Brasil, 52,5% das empreendedores são jovens de 18 a 34 anos.

“Antigamente os jovens iam empreender por que não conseguiam emprego. Hoje a maioria empreende por oportunidade. Percebemos uma mudança de comportamento, de atitude, e o mercado está cheio de oportunidades”, afirma o consultor da unidade de educação empreendedora do Sebrae – BA, André Gustavo Barbosa.

Conforme André, muitas das características do comportamento empreendedor são formadas na infância e adolescência. São questões ligadas à capacidade de fazer as coisas acontecerem, comprometimento, capacidade de persuasão, autoconfiança, planejamento, etc.

Atualmente, o Sebrae desenvolve alguns programas específicos, que trabalha com o público jovem, voltado para o desenvolvimento desse comportamento empreendedor.

Fonte: Jornal A Tarde, Primeiro Caderno, página A6, 25 de abril de 2010.

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