Em Minas, alunos contam por que abandonam a sala de aula e também o que os faz insistir
NOVA LIMA (MG). A chefe da cozinha da Escola Estadual Maria Josefina Sales Wardi se aproxima do repórter e do entrevistado sentados no refeitório e pergunta:
- Vocês são alunos? Podem ir para casa porque hoje não tem aula. Está todo mundo dispensado - diz, antes de ouvir a resposta, como se o aviso na escola localizada em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, fosse rotina.
Aluno da turma de Educação para Jovens e Adultos (EJA), Sandro Domingos Cardoso, de 21 anos, respira com desânimo e apenas olha para o repórter como se expressasse um "eu não disse?".
Na última quinta-feira, a escola estava sem água nos banheiros e na cozinha, e as turmas foram dispensadas. Mas o que deixa Sandro realmente chateado é, segundo ele, não se tratar de um episódio pontual:
- A gente entra na sala, o professor não está. Se o professor passa mal e eles não conseguem alguém pra ficar no lugar um dia, vá lá. Mas e quando ele fica 15 dias de licença e não aparece um substituto?
Sandro está prestes a concluir o 3º ano. É o último que restou do grupo de amigos com idades próximas à sua na turma que ingressou no meio de 2009. Dos 32 alunos, restam 22.
- Quando o professor tira uma licença maior, não tem jeito de evitar que o aluno fique no prejuízo, porque o trâmite burocrático do estado para conseguir um substituto é demorado - admite a vice-diretora do turno da noite na escola, Malone Tupy Ruas.
O lote de computadores entregue pela Secretaria de Educação não funciona. Com isso, o curso profissionalizante de técnico em administração oferecido parece inútil. Como não há guarda municipal à noite, o uso de drogas é frequente nas quadras, e os banheiros só são abertos na hora do recreio. É a soma desses fatores que desanima alunos que sonhavam concluir o ensino médio.
- Com estudo já está difícil conseguir alguma coisa, então imagina sem - diz Sandro, justificando a insistência em concluir o curso.
Na última sexta-feira, em frente à escola, Mateus Vieira de Souza, de 15 anos, esperava os colegas e dizia que, apesar de ter decidido deixar os estudos este ano, talvez um dia possa ser advogado:
- Minha mãe fica na cola, mas meus irmãos de 18 anos e 22 anos também saíram. Ninguém leva a sério a escola, eu também não vou levar.
O cozinheiro Thiago José da Silva, de 27 anos, parou de estudar no 1º ano do ensino médio e o trabalho à noite o impede de voltar aos estudos:
- O foco é quem trabalha de dia e, à noite, pode estudar. Conheço muita gente na situação oposta.
Fonte: O Globo (RJ)/Thiago Herdy 02/05/2011
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Entre a insistência e a desistência
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