terça-feira, 3 de maio de 2011

Diretor de escola municipal não vê bullying

Apenas 2,7% dos dirigentes disseram que há casos em suas escolas; para sindicato, existe subnotificação; 31,4% dos educadores afirmaram que houve ameaças em suas escolas

Os dirigentes das escolas municipais de São Paulo têm dificuldades para identificar em suas unidades a presença do Bullying (intimidação sistemática praticada por alunos contra colegas frágeis).

A constatação é do sindicato da categoria, com base em conversas com filiados e levantamento recém-concluído com os servidores.

Na pesquisa, somente 2,7% dos dirigentes disseram que há Bullying em suas escolas. Foram ouvidos cerca de 10% dos diretores, supervisores e coordenadores.

"Há claramente uma subnotificação de casos", afirmou o presidente do Sinesp (sindicato da categoria), João Alberto Rodrigues de Souza. "As pessoas não perceberam as diversas formas de intimidação. Não é só quando colocam um menino na lata de lixo. Teremos de ampliar a discussão com a rede."

De acordo com ele, boa parte dos colégios ainda vê intimidações entre os alunos como inerente à vida escolar.

O sociólogo Rudá Ricci, responsável pelo estudo, aponta a hora do intervalo como principal exemplo do despreparo das escolas. "É quando mais ocorre o Bullying, mas a escola vê como momento de descanso da equipe, e os alunos ficam entregues à própria sorte."

Outra dificuldade, diz, é a condição de trabalho dos dirigentes; 31,4% afirmaram que houve ameaças e 23,6%, agressão verbal.

"Nesse quadro, o dirigente fica mais atento à sua defesa e pode deixar a situação dos alunos em segundo plano."

A preocupação com o Bullying extrapola a rede municipal. Na terça-feira, haverá simpósio sobre o tema promovido pelo Sieeesp, sindicato das escolas privadas de SP, no colégio São Luís.

"Os estudos mostram que o Bullying tem um caráter "democrático", afeta crianças no mundo todo, em escolas de rico, de pobre", afirma o psiquiatra infantil Gustavo Teixeira, que estuda o tema. "Isso acaba com o discurso de algumas escolas de que "aqui isso não existe"", disse.

VIOLÊNCIA

Diferentemente do sindicato dos gestores, a Secretaria Municipal de Educação afirma que é baixa a ocorrência de violência e agressões entre alunos da sua rede.

"O percentual de 2,7% de gestores que relatam casos de Bullying em suas escolas é condizente com o levantamento feito pela secretaria", disse em nota a gestão Gilberto Kassab.

A pasta citou dados de pesquisa com pais ano passado, à época da aplicação do exame chamado Prova São Paulo. As famílias deram notas superiores a 7,6 (em 10) às equipes escolares.

"Não há indícios de que as escolas vivam clima de agressões e ameaças, o que não significa que não haja, eventualmente, esse tipo de ocorrência", disse. Segundo a pasta, o tema da violência é trabalhado por docentes de todas as disciplinas.

Colaborou FABIANA REWALD
Fonte: Folha de São Paulo (SP)/ FÁBIO TAKAHASHI 02/05/2011

Pais criam ONG para tentar combater o problema

A ONG ''Educar Contra o Bullying'' faz palestras para alunos, professores, pais e gestores para orientá-los a reconhecer o Bullying ADRIANO WILKSON
Depois que o filho passou quatro anos sofrendo agressões físicas e verbais na escola, a gestora de recursos humanos Cristiane de Almeida criou, em 2009, uma ONG para combater o problema.

A "Educar Contra o Bullying" faz palestras para alunos, professores, pais e gestores para orientá-los a reconhecer o Bullying.

O filho de Cristiane, hoje com 13 anos, estudava na escola municipal Rivadávia Marques Junior, na zona leste. Alguns colegas batiam nele e xingavam. Cristiane diz que pediu providências à escola, mas não teve sucesso.

"Eles alegaram que meu filho estudava numa escola da periferia e que, numa escola de periferia, aquilo era normal, que era coisa de criança", diz ela, que precisou tirar o filho da Rivadávia.

Hoje ele faz tratamento psicológico contra o trauma. "Muitas vezes a criança não conta nem pros professores, nem pros pais, tem vergonha. Se conta, também acontece de não ligarem"

Outro pai de aluno da Rivadávia, Fábio Leite, reclama que o filho é agridem fisicamente e com palavras pelos colegas. Ele afirma que foi orientado a tirar o garoto de 12 anos da escola.

A Secretaria de Municipal de Educação disse que, após incidentes com a escola, um supervisor foi designado para acompanhar a Rivadávia "de forma mais próxima para garantir tratamento adequado aos alunos".
Fonte: Folha de São Paulo (SP) 02/05/2011

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