terça-feira, 3 de maio de 2011

Primeira universidade federal dentro de assentamento será no Paraná

O assentamento Oito de Junho, em Laranjeiras do Sul, interior do Paraná, será o primeiro do país a ser sede de uma universidade federal. As obras do câmpus da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) começaram nesta segunda-feira (2).

As aulas para os 500 estudantes iniciam em 2012 em cinco áreas do conhecimento voltadas à vocação econômica da região: Agronomia com ênfase em Agroecologia, Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial, Engenharia de Alimentos, Engenharia de Aquicultura e Licenciatura em Educação do Campo.?

O Incra cedeu à universidade uma área de 42 hectares para implantação do primeiro prédio, de 5 mil metros quadrados. O câmpus definitivo engloba também outros 45 hectares doados em maio de 2010 pelas prefeituras de Porto Barreiro, Rio Bonito do Iguaçu, Nova Laranjeiras e Laranjeiras do Sul.

O presidente do Incra, Celso Lisboa de Lacerda, participou da assinatura do termo de cessão da área. Na ocasião disse que a instalação do câmpus em Laranjeiras do Sul é um grande avanço para a reforma agrária no país. “É a primeira universidade federal do país dentro de um assentamento e com certeza vai trazer muito desenvolvimento para a região”, declarou.

O campus é estrategicamente localizado no Território da Cidadania do Cantuquiriguaçu, de características rurais. De acordo com dados do Instituto Emater do Paraná, a produção primária é responsável por 33% do total do território. Além disso, 50,8% da População Economicamente Ativa do Território refere-se a agricultores de base familiar (agricultores familiares e assentados da reforma agrária).

O vice-reitor da UFFS, Antônio Inácio Andriolli, lembrou que a universidade originou-se a partir da mobilização social, assim como os assentamentos da reforma agrária no país. “A UFFS nasceu da dupla luta: da sociedade e também do governo. Nosso desafio é construirmos uma universidade pública, democrática e popular”, disse.

O superintendente regional do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes, destaca que, com a instalação da UFFS, a juventude rural não precisará sair do meio para estudar. “A Universidade será uma importante aliada para que possamos capacitar os assentados e viabilizar os assentamentos com base na produção agroecológica e preservação ambiental”, ressalta.

O assentamento Oito de Junho foi criado em 2000 pelo Incra, a partir da desapropriação de um latifúndio improdutivo de 1.477 hectares. Ao todo 71 famílias vivem no assentamento. A principal atividade produtiva é a criação de gado leiteiro. De Laranjeiras do Sul, o leite é levado até São Miguel do Oeste (SC) para ser processado pela Cooperoeste Terra Viva, cooperativa formada por assentados da reforma agrária. Depois de embalado em caixas do tipo longa vida, segue para redes de varejo do Paraná e de Santa Catarina.

Um dos suportes da produção de leite no Oito de Junho é o Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES). Com o programa, foi implantada no assentamento a técnica do Pastoreio Racional Voisin (PRV), sistema intensivo de manejo do gado, da pastagem e do solo. A responsável pela aplicação da técnica é filha de assentados. Desieli Gomes de Amorin, 27 anos, é Técnica em Agroecologia formada pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).

Atualmente, ela cursa Engenharia de Aquicultura na UFFS. Com o funcionamento da UFFS dentro do assentamento, Desieli acredita que seja possível reverter a tendência de migração da juventude rural. "O jovem quer mais oportunidades de estudo e de trabalho. Com a instalação da universidade, a juventude permanece no assentamento, aumentando a geração de renda dentro do próprio município".

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