terça-feira, 3 de maio de 2011

MT- Empresários ensinam reeducandas formas de voltarem ao mercado de trabalho

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Detida por tráfico de drogas há mais de um ano, Mariz Catarina de Paula passa atualmente por um período de grande transformação em sua vida. Ela conta que entrou para a criminalidade levada por seu ex-companheiro, que além de ser traficante é alcoólatra e violento. “Eu vivia em um mundo de sombras, era muito triste. Quando fui presa, acreditava que minha vida havia acabado, mas descobri que estava enganada. Dentro do presídio conseguir encontrar o caminho do bem através de Deus e da nova possibilidade de vida que foi mostrada para mim. Hoje eu sei que, quando sair daqui, terei chances de conseguir um emprego e viver de forma digna”.

Este foi o depoimento emocionado de uma das mulheres que vivem em regime de privação de liberdade no Presídio Feminino Ana Maria do Couto May, localizado no Distrito Industrial em Cuiabá. Ela é uma das 50 reeducandas que participam do projeto “Minha Vida Minha Chance”, realizado pelo governo do Estado de Mato Grosso, Secretaria de Justiça e Direitos Humanos e Fundação Nova Chance - FUNAC, em parceria com a Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais – BPW Cuiabá.

O projeto, que começou no dia 6 de abril e tem a duração de um mês, tem como objetivo desenvolver ações de educação integral e de humanização com reeducandas. Na última sexta-feira, 29, as mulheres participaram do painel “Empreendedorismo em Ação”, realizado no SENAC e que teve como facilitadora a especialista em Terceiro Setor e Políticas Públicas, Sueli Batista, que também é vice-presidente da Federação das Associações de Mulheres de Negócios e Profissionais-BPW Brasil e conselheira do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher-CNDM.

A ação começou com um bate-papo entre as reeducandas e o presidente em exercício da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso – Fecomércio, Hermes M. da Cunha, o Diretor da Federação das Associações Comerciais e Empresariais de Mato Grosso – Facmat, Manuel Gomes, o assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso – FIEMT, João José de Amorim, a Diretora de Planejamento do Senac, Márcia Heck, além da Diretora Executiva da Fundação Nova Chance, Mônica Sousa, a Gerente de Apoio Administrativo Penal da unidade feminina, Tânia Suely Diana Fraiberg e a Presidente da Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais – BPW Cuiabá, Mariza Bazo. No período da tarde, também participaram do painel a Diretora Técnica do SEBRAE-MT, Leide Katayama e da Diretora da Câmara de Dirigentes Lojistas - CDL Cuiabá.

O encontro entre as reeducandas e representantes da classe empresarial de Cuiabá foi um passo muito importante para a construção do caminho que as levará de volta à convivência em sociedade. Para Manuel Gomes, Diretor da Facmat, estas mulheres precisam deixar no passado o que fizeram de errado e devem focar sua atenção à oportunidade que estão tendo para mudar de vida. “Estamos vivendo um momento ímpar no Brasil. Com a realização da Copa do Mundo em nosso país, teremos possibilidades de trabalho em diferentes áreas de atuação, todas elas com sua importância. Esta é a hora delas começarem a se preparar para um futuro melhor”, comentou.

Este workshop que as reeducandas estão fazendo está resgatando a dignidade e a auto-estima delas. “É uma oportunidade para se qualificarem e mostrarem a nós, empresários que elas têm condições de serem inseridas no mercado de trabalho, evitando, assim que voltem para a criminalidade”, disse Hermes M. da Cunha, presidente em exercício da Fecomércio. A Diretora de Planejamento do Senac , Márcia Heck ainda complementou fala do Sr. Manuel. “Estas mulheres já podem se considerar-se campeãs, pois estão procurando uma nova chance em suas vidas. Através de cursos que o Senac pode oferecer a elas, terão a oportunidade de seguir uma profissão e ganhar a vida de modo honesto e correto”, falou Márcia.

O assessor econômico da FIEMT, João José, mostrou às reeducandas um projeto piloto que o SESI-SENAI desenvolveu com pessoas retiradas do trabalho escravo e que pode ser adaptado dentro dos presídios femininos. Este projeto visa orientar as pessoas através da educação básica e prepará-las para seguir uma profissão e poder ser inseridas ao mercado de trabalho”, revelou.

Leide Katayama falou sobre o empreendedorismo feminino, destacou as habilidades que a mulher deve ter tanto nas profissões como nos negócios. Destacou ainda o empreendedor individual, programa que tem tirado da informalidade pessoas que se dedicam a negócios cuja rentabilidade anual é R$ 36 mil, uma ótima oportunidade para quem deseja entrar no mercado de maneira formal. A diretora destacou ainda a importância dos núcleos cooperativos, e a qualidade que devem imprimir aos produtos oferecidos.

Maria Candida, falou que a CDL Cuiabá ainda não está inserida em trabalhos com presidiárias, mas que a partir do painel já levará para a diretoria a ideia de inserção das mulheres no mercado de trabalho, tendo-se em vista que a capacitação é fundamental. A diretora apontou também que a CDL poderá contribuir para a construção de um banco de dados de ofertas de trabalho no comércio, para contribuir com o próprio Conselho Nacional de Justiça (CNJ)- no Banco Nacional de Dados da População Carcerária, que visa coletar e disponibilizar dados sobre os presos, visando sua ressocialização junto à sociedade.

Sueli Batista exibiu filmes que legitimaram tudo o que se falou durante o painel, inclusive sobre empreendimentos de sucesso que são conduzidos em unidades prisionais, a exemplo da grife Daspre, da FUNAP - Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel , em São Paulo, que desenvolveu uma idéia inovadora no que se refere ao trabalho dentro do sistema prisional. A marca é desenvolvida pelas presas, através da qual são fabricados produtos artesanais de alta qualidade visando a atender um mercado diferenciado, já contando com loja própria em São Paulo. Recentemente foi realizado até um desfile de moda, na capital paulista.

Ao final do painel, foram entregues para as participantes balões coloridos, cada qual com uma profissão. Ao estourarem os balões, elas poderiam ficar com a profissão escolhida ou trocar com as amigas, num verdadeiro compartilhamento. Algumas profissões estavam premiadas com kits educacionais, literários, artístico, de beleza e exclusivos de mulheres de negócios, estimulando-as a mudarem de vida através do trabalho e de um empreendimento. A BPW Cuiabá se prontificou a ajudar na reinserção, inclusive buscando canais de articulação para realizar sonhos de algumas reeducandas, para que não retornem ao mundo do crime.

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