quarta-feira, 15 de junho de 2011

Unesco propõe novo currículo para o ensino médio

luan.santos

A criação de novas disciplinas divide opiniões, mas ninguém parece ter dúvida de que o ensino médio brasileiro precisa mudar, tornando-se mais atraente para a juventude. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) está convencida de que é preciso mexer na estrutura curricular das escolas. E acaba de divulgar uma proposta nesse sentido.

Em linhas gerais, a Unesco sugere que 25% da carga horária sejam destinados a atividades independentes das disciplinas tradicionais. A ideia é que as turmas desenvolvam projetos, a partir dos conhecimentos aprendidos em sala de aula. Pode ser um programa de prevenção da aids e do uso de drogas, a criação de um blog ou um levantamento sobre o mercado de trabalho na comunidade.

Os demais 75% da carga horária poderiam ser preenchidos com disciplinas tradicionais ou não, desde que quatro áreas do conhecimento fossem contempladas: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas.

O fundamental, segundo os Protótipos Curriculares do Ensino Médio elaborados pela Unesco, é que as aulas expositivas deem lugar a uma dinâmica que tenha o estudante como protagonista da investigação e da busca do conhecimento.

— A prática hoje no interior da escola é compartimentada em disciplinas isoladas, sem planejamento coletivo, sem políticas mais estruturadas de formação de professores — resume a oficial de Projetos em Educação da Unesco no Brasil, Marilza Regattieri.

Tamanha transformação, é claro, requer investimento na preparação docente.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) lista as áreas do conhecimento que devem figurar nos currículos, mas não estipula quais conteúdos têm que ser ministrados. Em tese, cabe às redes municipais e estaduais, em conjunto com as escolas, fazer esse trabalho. Na prática, observa Marilza, é diferente. E os livros didáticos acabam definindo o que será transmitido aos alunos.

— Hoje funciona assim: cada professor define o seu currículo. E faz isso com base no material a que tem acesso. Não há um debate coletivo. A proposta da Unesco foi apresentada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) no mês passado. A entidade pretende agora firmar parceria com governos estaduais para realizar um projeto piloto. Ou seja, levar os protótipos ao teste de fogo das salas de aula. Além de um modelo para o ensino médio de formação geral, a Unesco sugere uma organização curricular para o ensino médio integrado à formação profissional, isto é, curso geral mais curso técnico.

Na mesma direção da proposta da Unesco, o CNE aprovou novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, que ainda precisam ser homologadas pelo Ministério da Educação. O relator das diretrizes, conselheiro José Fernandes de Lima, diz que as diretrizes definem uma identidade para o ensino médio, considerado a etapa final da educação básica.

— Significa que é a última oportunidade para ensinar certas coisas. Tem que preparar para o mundo do trabalho, para a continudiade dos estudos e para a cidadania simultaneamente — diz Lima. Tanto ele quanto Marilza destacam que é chegado o momento de o Brasil definir o que se espera que os alunos saibam ao término do ensino médio. O debate já começou no Ministério da Educação, mas está longe de terminar.

A superintendente-executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, critica a falta de um currículo mínimo nacional, que explicite quais conteúdos são obrigatórios. Segundo ela, há resistências à fixação de um currículo mínimo, em nome das diversidades regionais.

Para Wanda Engel, porém, a definição de um corpo mínimo de conhecimentos obrigatórios levaria o país a debater justamente o que se espera que um aluno saiba ao concluir o ensino médio. Marilza e Lima divergem, por temerem que as escolas se limitem ao mínimo.

— É péssimo não termos um currículo mínimo. Sua definição levaria as pessoas a discutirem quais são as competências mínimas que um ser humano precisa dominar para entrar no mercado de trabalho ou prosseguir no ensino superior — diz Wanda.

Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/educacao/

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